Correio braziliense, n. 20864 , 07/07/2020. Cidades, p.17

 

60 mil infectados e 662 mortos

Walder Galvão

07/07/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Ontem, 2.529 pessoas testaram positivo para a covid-19 na capital, maior número em 24 horas. Além disso, 26 pessoas perderam a vida por causa da doença. Vacina chinesa, que será testada no DF, ainda não tem data para chegar em Brasília

O Distrito Federal registrou a maior quantidade de casos confirmados do novo coronavírus em 24 horas, ontem. Ao todo, 2.529 pessoas testaram positivo para a covid-19, segundo a Secretaria de Saúde. Além disso, a pasta contabilizou a morte de 26 pacientes devido à doença. Com os registros, o número de infectados subiu para 60.383 e a de mortos, para 662.

A última vez que a capital havia registrado tantos casos em 24 horas foi em 26 de junho, quando 2.455 pessoas receberam diagnósticos positivo para a covid-19. Apesar da quantidade expressiva, a Secretaria de Saúde mostra que 47.347 pacientes estão recuperados do coronavírus. Portanto, há 12.310 casos ativos no DF, ou seja, cerca de 20% do total de infecções notificadas.

Das mortes registradas, ontem, pela Secretaria de Saúde, todas as vítimas tinham mais de 40 anos, sendo que a maioria era idosa. Sete não tinham comorbidades — outras doenças que agravam os sintomas da covid-19. As regiões administrativas que mais registraram óbitos foram Ceilândia (7) e Plano Piloto (4).

Com 7.711 casos, Ceilândia continua como a região administrativa com a maior incidência da doença. Ontem, Samambaia chegou a 4,2 mil diagnosticados e passou a ocupar a segunda posição no ranking. Agora, Plano Piloto, que tem 4.174 infectados, está em terceiro lugar. Fercal (40), Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) (61) e Varjão (88) são as cidades com a menor quantidade de ocorrências da covid-19.

Imunização

A testagem da vacina contra o novo coronavírus dá mais um passo, no Brasil. Ontem, o governo de São Paulo anunciou que a imunização, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, começará a ser aplicada em voluntários, que serão profissionais da saúde, em 20 de junho. A dose também será utilizada no Distrito Federal, e a pesquisa será conduzida pela Universidade de Brasília (UnB), entretanto, ainda não há data para o início dos testes na capital.

A CoronaVac, como é chamada a vacina, foi administrava com sucesso em cerca de mil pessoas, na China. Anteriormente, ela foi aprovada em testes feitos em macacos. A expectativa é de que, no Brasil, 9 mil voluntários em 12 centros de pesquisa recebam a imunização. Caso seja aprovada, a Sinovac e o Instituto Butantan firmarão acordo de transferência de tecnologia para produção em escala industrial e fornecimento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Em São Paulo, a convocação dos participantes está programada para começar em 13 de julho. Médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde, que atuam ou atuaram na linha de frente da covid-19, poderão se candidatar. No entanto, eles não podem ter contraído o vírus previamente.

Capacidade

Com o avanço da pandemia na capital, o sistema de saúde fica cada vez mais sobrecarregado. Dados da Secretaria de Saúde mostram que o Distrito Federal tem 628 pacientes, somando rede pública e privada, internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) exclusivas para o tratamento da covid-19. Ao todo, são 809 leitos de UTI para o combate ao coronavírus, ou seja, a taxa de ocupação está em 77%.

Na rede privada de saúde, o quadro encontra-se mais próximo do colapso. Ao todo, 92,86% das UTIs estão ocupadas: há 229 leitos e 208 pacientes. No sistema público, são 420 internações e 580 vagas, portanto, 72% do total está comprometido. Com a proximidade do pico da pandemia, a demanda deverá ser maior nas unidades de saúde da capital.

Para desafogar o sistema, a Secretaria de Saúde pretende inaugurar os hospitais de campanha de Ceilândia e do Complexo Penitenciário da Papuda. O Hospital da Polícia Militar deverá abrir leitos e uma unidade de saúde está sendo construída acoplada ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC). No entanto, não há datas definidas.

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Entrevista - André Nicola: Desafio é conseguir vacina eficaz

Ana Maria da Silva*

07/07/2020

 

 

Em entrevista ao programa CB.Poder — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília —, o médico e professor de imunologia médica na Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) André Nicola explicou as dificuldades enfrentadas pela comunidade científica para se chegar a um tratamento eficaz da doença. “Temos (seres humanos) de 20 a 25 genes, enquanto os vírus têm cerca de dez. A maioria dos materiais que eles usam para se reproduzir são das nossas células, ou seja, é muito difícil agir contra o vírus sem matar o indivíduo que ele habita”, avalia.

Hoje, há mais de 140 vacinas sendo pesquisadas no mundo, duas das mais promissoras devem ser testadas aqui, no Brasil. Como é que está esse desenvolvimento, por que é tão difícil chegar a um resultado final?

Essas pesquisas estão andando em uma velocidade muito maior do que, normalmente, acontece. Geralmente, demoram cerca de cinco a dez anos, então, na verdade, estamos sendo rápidos. A grande dificuldade é conseguir uma vacina que seja eficaz e segura. Esse tempo é importante para garantir a segurança das pessoas. Algumas vacinas demoraram décadas para serem feitas. Há um custo de, mais ou menos, um bilhão de dólares, cada uma. As coisas estão andando muito mais rápido do que o normal. Isso é um desafio enorme para os cientistas e pesquisadores clínicos que estão fazendo o desenvolvimento.

Há duas vacinas que estão sendo consideradas mais promissoras. Quais são?

Elas estão na última fase de estudos clínicos antes de serem lançadas no mercado. É o que chamamos de fase clínica três. Uma é a vacina chinesa chamada CoronaVac, de uma empresa chamada Sinovac. A outra foi desenvolvida por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra. As duas estão na última fase de estudos.

Há como estimar quando essas vacinas vão chegar no mercado?

Eu não trabalho com a parte final do desenvolvimento da vacina, mas tenho lido informações sobre. A expectativa otimista deles é de conseguir uma vacina para o final deste ano ou começo de 2021. Os grandes desafios são testar e ver se realmente funciona, que é a fase em que se encontram os estudos. Depois disso, irão produzi-la em grande quantidade.

Ainda há um percentual baixo da população que teve a doença confirmada, mas há teorias de que deveríamos deixar as pessoas se contaminarem para haver a imunização geral. Qual é o risco de uma teoria como essa?

Chamamos isso de imunidade de rebanho. Significa ter um número tão grande de pessoas que foram infectadas e, hoje, estão imunes, fazendo com que a doença não circule mais. Para que isso aconteça, é preciso que cerca de 70% da população seja infectada. Há um estudo da Espanha, um dos países mais afetados pela covid-19, que verifica que somente 5% da população teve a doença. Lá, houve um caos no sistema de saúde. Com 70% teremos um caos muito maior, e milhões vão morrer. Essa não é uma estratégia adequada. Devemos chegar a imunidade de rebanho quando tivermos uma vacina, antes disso é muito difícil. A esperança é que a vacina funcione ao ponto da gente poder imunizar, ao menos, 70% da população.

Pessoas que se recuperaram têm a possibilidade de serem infectadas novamente? A ciência tem respostas para isso?

Não há resposta para isso, pois ainda não houve tempo suficiente para avaliar. Têm doenças que as pessoas ficam imunes por 80 anos, como o sarampo. Há outras que as pessoas não têm imunidade para o resto da vida, podendo desenvolver a doença pela segunda, terceira, quarta vez. A gente não sabe, ainda, em qual dos dois grupos a covid-19 entra. Tem muita gente tentando descobrir. Até agora, existem alguns relatos, mas não são concretos. Eu ainda não vi nenhum estudo completo e concreto mostrando que, de fato, a proteção dura ou não para o resto da vida. Quando a pessoa tem a segunda vez, você precisa garantir que ela teve uma primeira vez, e o teste pode ter falhado.

* Estagiária sob a supervisão de Guilherme Marinho