Título: Ineficiência sempre prevalece
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 10/01/2013, Economia, p. 11

Independentemente de quem esteja no poder no Brasil, a ineficiência tem prevalecido e falta estratégia mais agressiva para a ampliação da capacidade energética do país. Esse é o consenso de especialistas ouvidos pelo Correio, que se mostram decepcionados por, mais uma vez, a sociedade ser submetida a um risco de racionamento. “Infelizmente, em vez de agir, os governos sempre tendem a negar o fato. Vimos isso durante a administração de Fernando Henrique Cardoso e estamos vendo isso agora, com Dilma Rousseff”, disse o professor da Universidade de São Paulo (USP), Ildo Sauer.

Na avaliação dele, enquanto o país não se conscientizar da gravidade de seus problemas, de efetivamente tocar os projetos de investimentos e ampliar a capacidade de geração e de distribuição de energia, incluindo a eólica, sempre haverá riscos. Para ele, neste momento, não há como calcular a probabilidade do racionamento de energia — possibilidade que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, nega com todas as forças. “É uma irresponsabilidade afirmar que não há risco, mas também é uma irresponsabilidade afirmar que vai ter”, afirmou.

Mesmo em ações que não demandam planejamento de grande complexidade, o governo falha. Segundo diretor da Coppe, instituto de pesquisas de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, a atual administração errou ao apostar na meteorologia em 2012 e ligou muito tarde as termelétricas. Isso contribuiu para a redução do nível dos reservatórios, que estão, em média, operando com 28% da capacidade, o menor patamar em 12 anos. “O governo deveria ter acionado as térmicas mais cedo, em julho e não em outubro como ocorreu no ano passado. Mas isso foi uma aposta. Agora, é contar com São Pedro para que chova nas áreas onde é preciso”, comentou.

Daqui para frente, será o nível das chuvas no polígono entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, onde estão as bacias e os afluentes de dois importantes rios para o sistema, o Rio Grande e o São Francisco, que determinará se haverá o racionamento ou não. “A natureza vai nos dizer. Ao governo, resta apenas liderar a reza”, afirmou Ildo Sauer, lembrando que a falta de infraestrutura para ligar centros produtores é outro entrave que o poder público precisa resolver. “A Bahia e o Rio Grande do Norte produzem energia eólica que poderia abastecer o sistema e reduzir o risco de racionamento, mas não há linhas de transmissão para conectar os parques”, criticou.

“A natureza vai nos dizer se haverá ou não racionamento. Ao governo, resta apenas liderar a reza” Ildo Sauer, professor da Universidade de São Paulo