Título: Exilados veem golpe
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 10/01/2013, Mundo, p. 18

Incomodados com o futuro do país, organizações de venezuelanos que vivem nos Estados Unidos manifestaram preocupação ante o adiamento da posse do presidente reeleito, Hugo Chávez, prevista para hoje. Por meio de um comunicado, os grupos Venezuelanos Perseguidos Políticos no Exílio (Veppex) e Venezuela Awarennes Foundation (VAF) rechaçaram a decisão, que chamaram de "aberração constitucional", e alertaram para um possível golpe de Estado. "O espírito da Assembleia Constituinte está sendo violentado, em nome de uma revolução", diz o comunicado.

Para o presidente da organização Cidadãos Venezuelanos-Americanos Independentes, Ernesto Ackerman, que reside em Miami desde 1989, "o que está ocorrendo não é um adiamento, mas a quebra das regras da Constituição da Venezuela". Contrário a Chávez, Ackerman ressalta que o momento político de seu país natal é extremamente delicado e que o apoio estrangeiro será primordial para garantir os diretos dos venezuelanos. "Esperamos que a comunidade internacional apoie o povo da Venezuela, e não os comunistas, e nos ajude a restaurar a democracia", declara.

Ao todo, quase 200 mil venezuelanos vivem nos Estados Unidos, a maioria, como Ackerman, defende o fim do chavismo e um novo rumo para a política do país. No estado da Flórida, onde vivem cerca de 91 mil imigrantes venezuelanos, a produtora de rádio Donatella Ungredda e o marido fazem constantes críticas ao presidente e aos seus aliados. Donatella acredita que o estado de saúde Chávez não permitirá que ele assuma o governo e lembra que foi o presidente quem designou os demais membros do gabinete. "A única pessoa eleita foi o presidente. O vice, os secretários e os ministros não foram eleitos. Por isso, o trabalho deles deve terminar amanhã (hoje)", observa.

Incertezas

O fim da era Chávez traz incertezas até para os que torcem para que ele não regresse a Caracas. "Temo que a Venezuela esteja prestes a enfrentar momentos muito difíceis e, caso os políticos não tomem as medidas necessárias para que o governo não fuja à legalidade, qualquer coisa poderá ocorrer", diz Donatella. Ackerman afirma que a oposição deve conquistar o poder para que os imigrantes se sintam à vontade para retornar. "Eu estou estabelecido aqui, mas muitos venezuelanos mantêm negócios na Venezuela e podem achar melhor voltar. Os exilados e os políticos de oposição certamente regressarão", defende.