O globo, n. 31700, 22/05/2020. País, p. 13

 

Site que perdeu anúncio do BB mentiu em 2018

22/05/2020

 

 

Portal Jornal da Cidade Online teve propaganda do Banco do Brasil suspensa depois de campanha de movimento nas redes sociais. Agências jornalísticas mostram divulgação de conteúdo falso nas eleições 

REPRODUÇÕESInformações compartilhadas pelo Jornal da Cidade Online foram verificadas e classificadas como falsas por iniciativas de checagem de fatos

 Objeto de uma campanha contra notícias falsas na internet, o site Jornal da Cidade Online tem divulgado informações inverídicas ou distorcidas pelo menos desde as eleições de 2018. Verificações feitas por agências jornalísticas especializadas no tema, como Aos Fatos e Lupa, mostram que o portal já publicou incorreções a respeito do poder Judiciário, mais precisamente sobre a Justiça Eleitoral, e de personalidades da política.

Os conteúdos veiculados pelo site têm sido alvo de campanha nas redes sociais — o perfil do Twitter Sleeping Giants Brasil, inspirado num similar americano, conclama empresas públicas e privadas a retirar publicidade de sites suspeitos de promover fake news. Entre as marcas acionadas via rede social, estão bancos públicos, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, ambos com anúncios exibidos no Jornal da Cidade Online.

Anteontem, após a campanha ganhar força na internet, o Banco do Brasil anunciou que a propaganda da instituição, distribuída aucotráfico”, tomaticamente, não seria mais autorizada a aparecer no portal suspeito. Depois, empresas privadas como o McDonald's e a Philips Brasil fizeram o mesmo. Convidada publicamente a tomar a mesma atitude, a Caixa Econômica ainda não anunciou medidas nesse sentido para seus anúncios.

A suspensão anunciada pelo Banco do Brasil provocou críticas do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente Jair Bolsonaro. O parlamentar afirmou que o “marketing do Banco do Brasil pisoteia em mídia alternativa que traz verdades omitidas”. Diante da reclamação, o secretário de comunicação do governo, Fabio Wajngarten, indicou que poderia reverter a decisão. O BB, no entanto, não respondeu ao GLOBO se pretende alterar a diretriz de propaganda e retomar os anúncios suspensos. A Secom também não se manifestou.

As agências jornalísticas de checagem discordam que o teor do conteúdo divulgado pelo Jornal da Cidade Online seja apenas “alternativo” e o classificam, em geral, como falso ou duvidoso.

Em 17 de setembro de 2018, por exemplo, o portal publicou matéria com o título “Tribunal Superior Eleitoral entregou códigos de segurança das urnas eletrônicas para a Venezuela e negou acesso para a auditores brasileiros”. Compartilhada 60 mil vezes em uma rede social, a informação estava distorcida e tratava sobre uma licitação cancelada quatro meses antes, que não chegou sequer ser concluída.

Publicada em 24 de outubro de 2018, a matéria “Ciro Gomes volta da Europa e vota em Bolsonaro” foi compartilhada 9 mil vezes e classificada como falsa pela agência Aos Fatos. Àquela altura, Ciro, derrotado em primeiro turno, tinha declarado apoio crítico ao candidato do PT, Fernando Haddad, junto com seu partido, o PDT. Não havia sinal de que ele apoiaria Bolsonaro.

Para a Agência Lupa, é falsa notícia publicada pelo portal em 5 de dezembro de 2019. Com o título “Fundador e ex-deputado do PT denuncia envolvimento de Lula e do partido com o nara matéria incluía um texto do ex-deputado estadual de Sergipe Ismael Silva no qual ele embasava suas afirmações a um áudio comprovadamente falso atribuído ao petista.

Procurado, o editor do Jornal da cidade Online, José Tolentino, disse que não se manifestará sobre o caso após ter recebido orientação jurídica nesse sentido.

CRITÉRIOS TÉCNICOS

Ontem, sem mencionar o mais recente episódio envolvendo o Banco do Brasil e o Jornal da Cidade Online, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) enviou uma representação à primeira instância do Ministério Público Federal (MPF) recomendando a apresentação de uma ação judicial para garantir que a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo adote critérios técnicos na distribuição da publicidade oficial e justifique os veículos escolhidos para recebê-la.

A representação não tem caráter obrigatório e caberá ao procurador responsável pelo tema no MPF avaliar a ação recomendada.