Correio braziliense, n. 20861 , 04/07/2020. Economia, p.7

 

Em uma semana, mais 700 mil desempregados

Marina Barbosa

04/07/2020

 

 

Aumento da lista das pessoas que procuram, mas não conseguem trabalho foi identificado pelo IBGE entre a primeira e segunda semana de junho. Segundo especialistas, tendência é de aumento da desocupação, mesmo com a reabertura de atividades econômicas

A flexibilização das medidas de distanciamento social tem permitido que milhares de trabalhadores voltem a suas atividades profissionais. Porém, ainda não conseguiu conter o avanço do desemprego pelo Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 700 mil brasileiros entraram na lista de desocupados em apenas uma semana por conta da crise do novo coronavírus. Por isso, a taxa de desemprego avançou de 11,8% para 12,4% só nas duas primeiras semanas de junho.

O impacto do novo coronavírus no mercado de trabalho brasileiro tem sido acompanhado semanalmente pelo IBGE por meio da Pnad Covid19. Nesta semana, a pesquisa mostrou que a reabertura das atividades econômicas não tem diminuído as incertezas dos trabalhadores. Na segunda semana de junho, 1,1 milhão de brasileiros que disseram ter sido afastados do trabalho por conta da pandemia puderam voltar ao emprego. Porém, nesse mesmo período, houve redução na taxa de ocupação e, também, aumento na taxa de desocupação.

O número de brasileiros que se disseram ocupados profissionalmente caiu de 83,7 milhões para 83,5 milhões na segunda semana de junho. Já o número de desempregados, que havia disparado de 9,8 milhões para 11,2 milhões entre maio e junho, avançou mais um pouco, chegando a 11,9 milhões de pessoas nesse período. Por isso, o IBGE diz que não é possível saber ainda quanto desses 1,1 milhão de trabalhadores que saíram do isolamento social efetivamente voltaram ao trabalho e quantos acabaram sendo demitidos. 

O que os especialistas dizem é que, apesar de já terem feito muitas demissões na quarentena, as empresas, de fato, podem voltar a reduzir o quadro no processo de retomada. “A força de trabalho está começando a se mexer, porque há um espaço para isso com a reabertura dos serviços, dos shoppings. Mas esses serviços vão rever seus quadros e muitos vão voltar com um contingente menor de pessoas para tentar se recuperar da crise. Afinal, a retomada vai ter um custo e o consumo não deve voltar tão rápido, já que a renda das pessoas está muito pressionada", explicou a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto.

Explosão

Além disso, como também mostra a Pnad Covid19, ainda há 18,2 milhões de brasileiros que gostariam de trabalhar, mas não estão procurando emprego devido às medidas de isolamento social ou à crise imposta pela pandemia de covid-19. Por isso, os especialistas dizem que deve haver uma explosão da taxa de desemprego quando esse contingente se somar ao dos que já estão à procura de uma nova fonte de renda e aos novos desempregados.

“Essas pessoas não estão procurando emprego por medo da pandemia ou porque estão recebendo auxílio emergencial. Mas, quando o isolamento e o auxílio acabarem, elas vão voltar a procurar emprego. Por isso, a tendência é de que a taxa de desemprego continue subindo”, disse a economista da Coface para a América Latina, Patricia Krause.

As economistas lembram que o mercado de trabalho brasileiro demora a se ajustar a crises como essa. Por isso, calculam que a taxa de desemprego brasileiro ainda pode saltar dos atuais 12,4% para 16% neste ano. E acreditam que, como muitos desses novos desocupados não vão conseguir empregos formais, já que as empresas também estão tentando se recuperar da crise, a informalidade também deve aumentar no pós-pandemia. Essa taxa, porém, já não é pequena: está em 35%, segundo o IBGE, mesmo com milhões de informais afastados do seu trabalho.