O globo, n. 31703, 25/05/2020. Especial Coronavírus, p. 9

 

Fechados para brasileiros

André Duchiade

25/05/2020

 

 

EUA banem viajantes do Brasil devido à crise da covid-19

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou um alerta que fizera por mais de uma vez e anunciou ontem a proibição da entrada de brasileiros e de demais não americanos que estiverem no Brasil por causa do descontrole do coronavírus no país. A decisão consta de um decreto assinado por Trump, que estipula que cidadãos não americanos que tenham estado no Brasil nos 14 dias anteriores à tentativa de ingressar nos EUA serão impedidos de fazê-lo. A decisão é válida a partir da sexta-feira, 29 de maio, e continuará em vigor até decisão em contrário do próprio chefe da Casa Branca.

No decreto, Trump diz que considera que “a entrada irrestrita nos EUA” de quem esteve no Brasil é “prejudicial aos interesses dos EUA, e portanto deve estar sujeita a restrições, limitações e exceções”.

Em um comunicado, a Casa Branca afirmou que “o presidente tomou uma ação decisiva para proteger nosso país (...). Até o dia 23 de maio de 2020, o Brasil registrou 310.087 casos confirmados da Covid-19, o terceiro maior número de casos confirmados no mundo. A ação de hoje vai ajudar a garantir que estrangeiros que estiveram no Brasil não se tornem uma fonte adicional de infecções em nosso país”.

O texto afirma que a decisão não se aplica ao fluxo comercial entre os dois países, que será mantido. Residentes permanentes nos EUA estão isentos das sanções, assim como pessoas casadas com cidadãos americanos e algumas outras exceções, como filhos de americanos.

Trump já proibira antes a entrada de viajantes de Europa, Reino Unido e China, lugares atingidos fortemente pelo vírus. O Brasil é o único país da América do Sul a sofrer agora tais restrições. Havia, antes da decisão, apenas nove voos semanais em operação entre Brasil e EUA, todos para Flórida ou Houston, no Texas. Empresas aéreas têm o direito de manterem as rotas.

Em reação à decisão americana, o assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, afirmou em uma rede social que“o governo americano está seguindo parâmetros quantitativos previamente estabelecidos, que alcançam naturalmente um país tão populoso quanto o nosso". Segundo ele, “não há nada específico contra” o Brasil. “Ignorem a histeria da imprensa”, escreveu.

‘PARCERIA PRODUTIVA’

Mais cedo, o chanceler Ernesto Araújo anunciou que os EUA irão doar mil respiradores ao Brasil. “Parceria produtiva entre duas grandes democracias”, disse também numa rede social. Não foi anunciada a data da entrega. Procurado, o Itamaraty confirmou a doação, mas não disse quando ela irá ser efetuada.