Título: Inflação fica acima da meta
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 11/01/2013, Economia, p. 9

Governo diz que carestia deve diminuir ao longo de 2013, mas analistas acreditam que tendência é de aumento nos próximos dois anos

Pelo terceiro ano consecutivo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, ficou acima do centro da meta de 4,5%. A escalada dos preços acelerou em dezembro, batendo em 0,79%. No mês, de cada 10 itens pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sete tiveram aumento. Com isso, 2012 fechou com inflação de 5,84%.

A inflação só ficou abaixo de 6% devido à nova metodologia do IBGE, que alterou a ponderação no ano passado. Não fosse isso, o IPCA teria se aproximado do teto da meta, batendo em 6,41% (o teto é de 6,5%). “Há tempos, temos problemas com a inflação e o mercado não acredita mais que o Banco Central vai fazer o que deve. Parece que a autoridade monetária, apesar da meta estabelecida, está operando com um objetivo extraoficial maior, de 5,5%”, avaliou Flávio Serrano, economista do Espirito Santo Investment Bank.

Para o professor da Fundação Getúlio Vargas, Paulo Picchetti, a situação do BC é bastante desconfortável. Ele disse que os choques de commodities, sempre citados na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e no Relatório de Inflação, explicam apenas parte do problema. Para o economista, a inflação de serviços é a grande vilã da história e ela não dá mostras de que vai ceder a médio prazo.

Para os analistas, os próximos meses serão os piores. Em algum momento do primeiro semestre, a inflação acumulada em 12 meses vai estourar o teto da meta. “Temos um ano começando com a economia ainda fraca e a inflação em alta”, disse Eduardo Velho, economista-chefe da Planner Corretora. Segundo ele, essa situação se traduz em rigidez para uma ação do BC no que se refere à taxa de juros.

Em disparada No horizonte dos economistas teremos pelo menos mais dois anos — este e o próximo — de inflação acima do centro da meta. Na nota que soltou logo após a divulgação do IPCA pelo IBGE, o presidente do BC, Alexandre Tombini, lembrou que a inflação recuou em relação a 2011. “Não obstante, na segunda metade de 2012, observaram-se pressões de preço decorrentes de choques desfavoráveis no segmento de commodities agrícolas, entre outros fatores. A curto prazo, a inflação mostra resistência, mas as perspectivas indicam retomada da tendência declinante ao longo de 2013”, assegurou.

A aceleração da inflação nos últimos meses de 2012 foi causada pelo aumento nos preços dos alimentos, segundo o IBGE. “As causas são climáticas”, explica Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Nos serviços, os empregados domésticos lideraram a lista de itens de maior impacto sobre a inflação no ano.

Como o mercado está convencido de que os alimentos vão continuar a pressionar a inflação nos primeiros meses de 2013, e que existem outros fatores de risco, como transportes coletivos, energia elétrica e gasolina, a aposta é de alta para a inflação. “Nossa expectativa é que a inflação em 12 meses vai atingir 6,3% em junho. Basta ter um choque para extrapolar a meta”, afirmou o economista Flávio Serrano, do BES Investimento.

O cenário mais complicado nos preços daqui para frente só não é pior, segundo os analistas, porque o governo tem reforçado que vai garantir a redução média de 20% nos preços das tarifas de energia elétrica. Apesar da ameaça do estouro da meta da inflação em 12 meses, ninguém aposta numa alta da Selic este ano, para não atrapalhar a retomada do crescimento. A primeira reunião do Copom para discutir a taxa está marcada para a próxima semana.

“O cenário é adverso para a inflação, mas o BC não planeja elevar os juros para reverter essa tendência. Eles vão manter essa política enquanto não houver risco de estourar o teto”, afirmou o economista da Consultoria Tendências, Silvio Campos Neto.

Promessa pela metade Índice de preços fica longe do objetivo definido pelo governo

Ano Centro da meta Inflação real 2009 4,5% 4,31% 2010 4,5% 5,91% 2011 4,5% 6,50% 2012 4,5% 5,84%

Fonte: IBGE

Correção maior

O reajuste de 6,15% anunciado na quarta-feira pela Previdência Social para as aposentadorias e as pensões acima do salário mínimo não é o definitivo. Depois da divulgação oficial do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de dezembro, ontem, a instituição refez imediatamente o cálculo. O novo percentual de correção dos benefícios desses segurados é de 6,20%. Com o ajuste, o teto do salário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) vai para R$ 4.159,00. De acordo com a Previdência Social, a portaria interministerial com os índices de aumento e a nova tabela de contribuição será divulgada hoje. Nada muda, porém, para quem recebe o salário mínimo.