O Estado de São Paulo, n.46245, 29/05/2020. Internacional, p.A7

 

Morte de negro em Minneapolis provoca onda de violência

29/05/2020

 

 

No terceiro dia de protestos contra ação da polícia, manifestantes queimam prédios e saqueiam lojas

A morte de um negro pela polícia transformou a cidade de Minneapolis, nos Estados Unidos, em uma praça de guerra. Ontem, pelo terceiro dia seguido, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a violência policial. Durante a madrugada, prédios foram incendiados e lojas saqueadas.

Os policiais usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar a multidão. Na TV e nas redes sociais, imagens mostraram uma loja de autopeças em chamas e pessoas carregando mercadorias. Ao todo, os bombeiros disseram ter respondido a 30 chamados de incêndio.

A onda de protestos começou após a divulgação de um vídeo de 10 minutos, filmado por uma testemunha da morte de George Floyd, de 46 anos. Nas imagens, o policial se ajoelha no pescoço da vítima. “Não consigo respirar”, diz Floyd. “Não me mate.” Testemunhas pedem ao policial que retire o joelho do pescoço do homem, observando que ele não estava se mexendo. Pouco depois, ele é colocado em uma maca e transferido para uma ambulância.

Em comunicado, a polícia disse que Floyd morreu “após um incidente médico durante uma interação policial”. Os agentes estavam respondendo à denúncia de que um homem tentava usar cartões falsos em uma loja de conveniência.

A polícia disse que nenhuma arma foi usada durante o episódio e as imagens das câmeras foram enviadas para o Departamento de Execução Penal de Minnesota, que também iniciou uma investigação.

John Elder, porta-voz da polícia, informou que os últimos protestos não foram pacíficos e relatou uma morte – um homem que teria sido assassinado ao tentar saquear uma loja. “Foi uma noite diferente de protestos”, disse o porta-voz.

Ontem, ainda havia locais em chamas e moradores jogando água na frente de suas casas para impedir o avanço do fogo. Alguns manifestantes se reuniram na casa do policial que deteve Floyd e na casa do promotor local. Também houve protestos em outras cidades dos EUA, como Memphis e Los Angeles.

O chefe da polícia de Minneapolis, Medaria Arradondo, disse que a política de uso da força será revisada. O prefeito da cidade, Jacob Frey, afirmou no Twitter que “quatro policiais envolvidos no caso haviam sido demitidos”. Ontem, ele descreveu o incidente como “absolutamente desastroso”. “Ser negro nos EUA não deveria ser uma sentença de morte”, disse.

A família de Floyd, no entanto, pede que os policiais também sejam processados criminalmente. “Eles têm de responder por homicídio”, disse a irmã, Bridgett Floyd. O Departamento de Justiça e o FBI prometeram fazer do caso uma “prioridade”.

A morte de Floyd causou indignação de várias celebridades, entre elas o jogador de basquete LeBron James. O astro da NBA publicou uma foto de Floyd no chão ao lado da imagem de Colin Kaepernick, ex-jogador de futebol americano que se ajoelhava na hora do hino dos EUA em protesto contra a violência policial. “Entenderam agora?”, escreveu LeBron.