Título: Militantes curdas são assassinadas
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 11/01/2013, Mundo, p. 15

O assassinato de três ativistas curdas, na França, levantou suspeitas de um atentado de cunho político ligado ao movimento separatista do Curdistão turco. Atingidas por tiros na cabeça, as mulheres eram ligadas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla em curdo) e uma delas seria próxima ao líder da organização armada, Abdullah Ocalan, preso na Turquia.

Segundo a Federação das Associações Curdas da França, as vítimas foram identificadas como Sakine Cansiz, uma das fundadoras do PKK, Dogan Fidan, representante do Congresso Nacional do Curdistão e presidente do Centro de Informação Curdo, e Soylemez Leyla, ativista ligada a associações de jovens. O caso levou centenas de manifestantes curdos às ruas de Paris e Marselha. Eles acusam o governo turco pelas mortes e afirmam que o principal alvo do ataque seria Sakine, que tem ligações com Ocalan.

O ataque aconteceu após o governo turco iniciar negociações com o líder curdo para por fim ao conflito, em 22 de dezembro. Cerca de 45 mil pessoas já morreram desde que os rebeldes do PKK pegaram em armas para estabelecer um Estado curdo independente da Turquia, em 1984.

De acordo com a France-Presse, o caso será apurado pela polícia antiterrorismo da França. Investigadores disseram ao jornal Le Figaro que não acreditam na participação do serviço secreto turco no crime. Em Ancara, especula-se que se trata de um acerto de contas dentro do próprio grupo político. “Nós sabemos que existem divisões dentro do PKK”, disse Huseyin Celik, vice-presidente do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, que governa a Turquia.

O ministro francês do Interior, Manuel Valls, considera a hipótese de execução e assegurou que a França está empenhada em “esclarecer este ato completamente insuportável”. O presidente François Hollande disse que o crime atinge “diretamente”, porque conhecia uma das vítimas. Cerca de 150 mil curdos vivem na frança — quase 90% da Turquia, segundo um estudo realizado por Rusen Werdi, do Instituto Curdo de Paris, em 2006.

Execução

As três mulheres foram encontradas no prédio do Centro de Informação Curdo, em Paris, por volta da 1h da madrugada. Segundo a Federação dos Curdos da França, amigos e familiares das vítimas não tiveram sucesso ao contatá-las e foram a sua procura. Eles teriam notado vestígios de sangue na porta e forçaram a entrada. Duas das mulheres foram baleadas na nuca e a terceira atingida no estômago e na testa. De acordo com o Le Figaro, nenhuma placa identifica o estabelecimento no prédio. Os investigadores acreditam que as ativistas estavam sozinhas e abriram a porta para o atirador.

45 mil pessoas já morreram nos conflitos separatistas na Turquia, desde 1984Boris Horvat/AFP Para manifestantes, morte das ativistas na França foi crime político