Título: Mantega na encruzilhada
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Fonte: Correio Braziliense, 14/01/2013, Economia, p. 7

Depois de prometer um Pibão e entregar um Produto Interno Bruto (PIB) minguado em 2012, acompanhado de uma inflação alta e regado à maquiagem nas contas públicas, a presidente Dilma Rousseff inicia o terceiro ano de mandato com a política econômica numa encruzilhada. Precisa garantir um crescimento mais forte em 2013, sem pressionar os índices de preços e tendo de enfrentar uma indústria e um comércio descrentes e desconfiados, que não estão dispostos, por enquanto, a desengavetar os investimentos.

Embora comemore o fato de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2012, ter ficado em 5,84%, pouco acima do centro da meta, de 4,5%, o Banco Central está preocupado com a escalada da inflação, porque o governo não pretende aumentar a taxa de juros tão cedo. A boa notícia para a equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, é que uma parte dos especialistas confirma a expectativa oficial de que os preços, em 2013, não deverão subir mais que em 2012.

O mais difícil, no entanto, será resgatar a credibilidade do empresariado para que faça investimentos nos negócios, a fim de aumentar a produtividade da indústria e, assim, gerar crescimento maior do PIB sem inflar os preços. As previsões oficiais até agora são de que o PIB avance em torno de 3% este ano, mas ninguém de fora do governo conta muito com isso, tamanha a incredulidade que tomou o meio produtivo em relação ao que a equipe econômica declara. Não à toa, a presidente Dilma Rousseff começou a receber, na semana passada, grandes empresários no Palácio do Planalto.

João Saboia, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que o modelo de crescimento do PIB baseado no consumo interno e na oferta de crédito se esgotou. Agora, a economia tem que seguir em frente a partir da retomada dos investimentos, especialmente os privados, dada a limitação da capacidade do Executivo de fazer isso. "Mas essa decisão de investir depende das expectativas que o setor privado tem e que, no momento, estão muito frustradas", destaca.

Estremecimento

O último abalo na confiança dos investidores foi a malfadada manobra fiscal, com a injeção de receitas advindas de vias controversas, como o resgate de recursos do Fundo Soberano, para o governo mostrar que conseguiu cumprir a programada meta de 3,1% do PIB de superavit primário — a economia para pagamento de juros da dívida pública.

Apesar dos acertos na adoção de algumas medidas importantes, como o corte da taxa básica de juros — está em 7,25% ao ano — e a redução do custo de energia, o governo é unanimemente visto pelos analistas como aquele que derrapa na forma de implementar as medidas e na de se comunicar com os agentes econômicos, ao mesmo tempo que não oferece ao empresariado um projeto de crescimento a médio e a longo prazos, com regras claras e seguras.

Os técnicos do Banco Central têm sentenciado que o Executivo perdeu a guerra da comunicação depois da apresentação "criativa" da contabilidade para o fechamento de 2012, classificada de "ideia de jerico" na Esplanada dos Ministérios. Antes, as críticas já estavam fortes devido à forma como decidiu promover a redução das contas de energia, além da bagunça na privatização dos aeroportos.

Equívoco

"Em períodos de crise, o orçamento tem característica mais anticíclica e o controle das contas públicas acaba sendo mais frouxo (com redução da carga tributária e maiores gastos, se necessários, para aquecer a economia). O maior problema não é ser desse jeito, mas, sim, insistir numa estratégia de comunicação equivocada. É o governo continuar dizendo que vai cumprir a meta, que o país crescerá 4%, quando não vai", afirma o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

Simão Silber, professor da Faculdade de Economia da Universidade São Paulo (USP), concorda: "Hoje, nenhum analista ou empresário vê com firmeza as políticas anti-inflacionária, fiscal e cambial do governo, nem a de incentivos. Está tudo muito incerto, pois é um governo imediatista", observa. Por conta dessas inseguranças e derrapagens, a capacidade do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de conduzir a política econômica está sob dúvida nos mercados interno e internacional, apesar da situação confortável do país em relação a alguns indicadores, como a menor relação da dívida pública com o PIB.

Também é nesse ambiente de dúvidas que aparece outro problema da política econômica: a falta de medidas "horizontais", nas palavras de João Saboia. Os economistas são unânimes em afirmar que o governo tem optado por medidas pontuais, "verticais", de resultado a curto prazo, sem sinalizar para o empresariado um rumo a médio e a longo prazos. Um exemplo são as desonerações de impostos para alguns setores da indústria. Além de seletivas, são temporárias.

"Estão faltando medidas de caráter mais geral para apontar ao empresariado, com mais clareza, para onde estamos indo", diz Saboia. Para Silber, a redução de impostos, por exemplo, deveria ser estendida a todos os setores da indústria de forma permanente, para permitir o planejamento das atividades num espaço de tempo maior.