Valor econômico, v.21, n.5016, 05/06/2020. Brasil, p. A6

 

Pela primeira vez, Mercosul vai realizar cúpula virtual

Daniel Rittner

05/06/2020

 

 

De forma inédita, os presidentes do Mercosul vão fazer virtualmente a reunião de cúpula semestral do bloco.

O encontro ocorreria provavelmente em Encarnación, no Paraguai, país que exerce a presidência rotativa do grupo nesta primeira metade de 2020. Por causa da pandemia de covid-19, foi substituída por uma teleconferência, em 2 de julho.

Mais uma vez, o brasileiro Jair Bolsonaro e o argentino Alberto Fernández não terão a oportunidade de se conhecer pessoalmente, após seguidos ataques de lado a lado. Em fevereiro, durante visita ao Itamaraty, o chanceler Felipe Solá foi recebido pelo colega Ernesto Araújo. Os dois selaram a paz e tentaram organizar um encontro dos presidentes no dia 1º de março, em Montevidéu, na posse do uruguaio Luis Lacalle Pou.

A data, entretanto, coincidiu com a abertura do ano legislativo na Argentina e Fernández decidiu abortar a ida. Depois, o presidente argentino participou de uma reunião virtual do Grupo de Puebla, organização de lideranças políticas de esquerda na América Latina, que inclui os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. A divulgação do encontro esfriou novamente as relações Brasília-Buenos Aires.

Com a pandemia, o governo argentino tomou uma decisão polêmica. Decidiu sair de todas as negociações do Mercosul para acordos comerciais com parceiros externos. A Casa Rosada se comprometeu apenas a honrar os termos do anunciado tratado de livre comércio com a União Europeia e com o EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein). Outras conversas - como discussões com Coreia do Sul, Cingapura, Canadá e Líbano - não teriam mais a participação do vizinho.

Diante da repercussão negativa na própria Argentina e da convicção do Brasil de seguir adiante nas negociações comerciais, mesmo sem a segunda maior economia do Mercosul, a Casa Rosada recuou e agora fala em acordos com "velocidades diferentes". Ou seja, cada integrante do bloco sul-americano poderia eliminar tarifas de importação e outras restrições à sua maneira.

Há mais uma pendência nos debates do Mercosul. O Brasil quer uma revisão ampla da Tarifa Externa Comum (TEC), adotada em conjunto pelos quatro países para produtos importados de fora do bloco, e a Argentina de Fernández também resiste. Com o advento da pandemia, a discussão perdeu tração e foi para o segundo semestre, sob a presidência do Uruguai.