Correio braziliense, n. 20868 , 11/07/2020. Brasil, p.6

 

Brasil atinge 2 milhões de infectados até 4ª feira

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

11/07/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Se o país levou aproximadamente quatro meses para atingir 1 milhão de pessoas afetadas pela covid-19, em menos de um mês pode dobrar a marca, tal a velocidade com que a doença se espalha. Mortos são 70.389 e superam público de um dos jogos da seleção na Olimpíada

O segundo maior estádio do Brasil jamais comportou, em vidas, o equivalente ao número de brasileiros mortos pelo novo coronavírus. São 70.389 mil óbitos causados pela pandemia. Se fossem torcedores, superariam o público do jogo da seleção brasileira contra a África do Sul, no Estádio Mané Garrincha, durante a Olimpíada de 2016. As confirmações de novas infecções continuam acima de 40 mil pelo quarto dia consecutivo, com 45.048 casos, fazendo com que o país chegue a 1.800.827 confirmações da doença. A previsão é que, entre a próxima terça e quarta-feira, o país atinja a marca de 2 milhões de infectados, segundo o Portal Covid-19 Brasil, uma iniciativa formada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP).

A marca demonstra a rapidez com que a curva no país subiu nas últimas semanas. Em 19 de junho, o país alcançou 1 milhão de positivos confirmados e, caso a estimativa se consolide, o número dobrará em menos de um mês. Isso significa que o novo milhão deve vir 4,4 vezes mais rápido do que o primeiro, que se iniciou em 26 de fevereiro, quando foi registrado o primeiro caso no Brasil.

Com atualizações diárias na faixa de mil mortes, e mais de 40 mil casos, o país deve encerrar a semana 28, que vai de 5 a 11 de julho, mantendo a média de registro do fechamento semanal anterior. Para atingir o mesmo patamar da 27ª semana epidemiológica, os registros diários até o fechamento de hoje precisam chegar a 39.514 casos e 1.062 mortes.

No cenário mundial, apenas os Estados Unidos superam o total de casos e óbitos pelo novo coronavírus. Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, 133.847 norte-americanos perderam a vida nesta pandemia e mais de 3,1 milhões foram infectados. Somente a soma dos números brasileiros ao dos EUA representa 40% do total de casos em todo o mundo.

O crescimento preocupa os especialistas, que reforçam a necessidade de um isolamento efetivo para a queda na curva. “A gente vê uma política do (Poder) Executivo que é totalmente voltada para uma flexibilização mais precoce. A economia não pode parar e a gente entende isso, mas, pensando pela questão sanitária, nós tínhamos que ter feito essas medidas de isolamento e esperar estabilizar o número de casos para a gente ter essa abertura”, ressalta Rodrigo José, médico do serviço de controle de infecção hospitalar do Hospital Imaculada Conceição, em Curvelo (MG).

Estados

Liderando o ranking brasileiro de mortes e casos, São Paulo acumula 17.442 óbitos e 359.110 confirmações do novo coronavírus. Dos 645 municípios, houve, pelo menos, uma pessoa infectada em 632 cidades, sendo 407 com um ou mais óbitos. Entre o total de casos diagnosticados, 204.531 pessoas estão recuperadas, mas apenas aproximadamente 25% desses adoecidos precisaram, de fato, ficar internados. Mais de 51,5 mil pessoas que ocuparam leitos em SP já tiveram alta.

Atualmente, as taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 63,8% na Grande São Paulo e 65% no estado. O número de pacientes internados é de 13.550, sendo 8.259 em enfermaria e 5.291 em unidades de terapia intensiva.

Mato Grosso tem 986 mortes e Paraná está com 978. Minas Gerais o Rio Grande do Norte bateram a marca e têm, respectivamente, 1.504 e 1.356 fatalidades pela covid. Além deles e de São Paulo, outros 10 estados já ultrapassaram a marca.

O Rio de Janeiro é o segundo com mais óbitos, com 11.280 vítimas da doença. Em seguida estão Ceará (6.777), Pernambuco (5.482), Pará (5.224), Amazonas (3.008), Maranhão (2.392), Bahia (2.383), Espírito Santo (1.967), Alagoas (1.246) e Paraíba (1.229).

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Medo não impede a morte em casa

Renata Rios

Fernanda Strickland*

11/07/2020

 

 

A pandemia de coronavírus mudou a realidade das cidades. As ruas esvaziaram, os leitos hospitalares encheram para, depois, se tornarem escassos, e o risco de ser contaminado pelo novo vírus está, de fato, no ar que respiramos. Chegando a quase 70 mil mortes, os números exibidos no Brasil assustam não só pelo volume, mas também por situações inusitadas. Entre os casos de óbitos no país, alguns são registrados em casa. Só no mês de julho, quase 3 mil pessoas morreram em domicílio e, destas, 80 devido à covid-19, de acordo com dados do Portal da Transparência do Registro Civil.

No Distrito Federal, por exemplo, os dados apresentados pela Secretaria de Saúde no último dia 8 apontam nove registros de mortes em casa devido ao coronavírus. “Não somente óbitos por covid-19 estão ocorrendo em casa, mas também há aumento do número de óbitos domiciliares no geral”, afirma a infectologista e integrante da Sociedade de Infectologia do DF Magali Meirelles. Ela também acredita que o medo pode ser um fator determinante para tais números.

“Nesse caso, é provável que parte deles tenha ocorrido em pacientes já diagnosticados, que tiveram piora respiratória súbita associada a comorbidades, e que não tenham tido tempo para procurar assistência. Mas parte da população está com receio de procurar os serviços de saúde devido à pandemia, tanto pelo alto volume de atendimentos quanto pelo risco de se contaminarem”, pondera.

Magali orienta que, apesar de a maioria dos casos da doença evoluir de forma benigna, é importante ter um acompanhamento médico e manter a vigilância quanto a sinais de alerta. Ela pontua que os quadros graves costumam ter uma evolução “bifásica”. “O paciente primeiro apresenta um quadro agudo de infecção viral, comum a todos os doentes, muitas vezes com sintomas de vias respiratórias superiores, dores no corpo, febre, fadiga, e até mesmo diarreia”, descreve.

Após esse primeiro momento, os pacientes que desenvolvem o quadro mais grave da doença têm outra sintomatologia. “Alguns desses pacientes apresentam queda da oxigenação do sangue antes mesmo de sentirem a falta de ar”, alerta.

* Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi

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Doria torna mais frouxa quarentena

11/07/2020

 

 

O governo de São Paulo anunciou, ontem, o maior afrouxamento à quarentena no estado desde maio, quando o programa de retomada econômica em meio à pandemia do coronavírus, o Plano São Paulo, foi anunciado. Apenas a regiões de Araçatuba, Campinas, Franca e Ribeirão Preto permanecem com o grau de restrição máxima, em que só o comércio essencial é autorizado a funcionar. Todo o restante poderá liberar o funcionamento de lojas de rua e shoppings, além de imobiliárias, concessionárias e escritórios, a partir da próxima segunda-feira.

Barretos, Presidente Prudente, Bauru, Sorocaba e Marília estavam com liberação apenas dos serviços essenciais, a fase “vermelha”, e agora foram reclassificadas para a fase “laranja”, em que poderão retomar o comércio de rua, shoppings, concessionárias e imobiliárias. As duas primeiras estavam na fase laranja havia quatro semanas.

Já as regiões de Registro, da Baixada Santista e parte da Grande São Paulo, que estavam na fase “laranja”, entraram na fase “amarela”, a mesma em que está a capital, quando bares, restaurantes e academias de ginástica podem voltar a funcionar. “Todos devem se lembrar que, podendo ficar em casa, devem permanecer em casa”, disse o governador João Doria (PSDB), ao anunciar as mudanças, lembrando que a quarentena ainda permanece e, agora, foi renovada até o dia 30 de julho. O uso de máscara continua obrigatório e passível de multas.

Segundo Doria, essa nova fase “marca gradualmente, de forma segura, o retorno à normalidade. Uma fase que resgata a esperança”. Ainda de acordo com o governador, “depois de um longo período enfrentando o pico, estamos entrando em um platô” da evolução da doença. “Isso significa atenção redobrada para mantermos o platô”.

O estado registrou mais 9.395 casos de covid-19 nas últimas 24 horas, fazendo o total de infecções confirmadas chegar a 359.110 registros. Já o número de mortes pela doença foi para 17.442, ontem, com 324 óbitos a mais desde quinta-feira.

Ao lado de Doria, o epidemiologista Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, avaliou as mudanças no mapa do estado como uma evolução “satisfatória”. “Vi a evolução do mapa, de acordo com a classificação de risco das regiões, de forma muito satisfatória. Um progresso que é gradual e mostra a direção para a qual estamos caminhando”, afirmou. Ele também usou a expressão “platô” para se referir à atual situação da epidemia no Estado.

Menezes, por outro lado, destacou a atenção necessária para evitar um novo crescimento abrupto de casos, a chamada “segunda onda”. “Temos uma preocupação muito grande com um risco de ter a chamada segunda onda. Uma preocupação internacional, que tem sido observada em outros países e cidades que tiveram seus processos de reabertura e retomada de atividades, mas nossa leitura aqui é que sempre há um risco, mas tudo indica que estamos andando de forma muito segura em relação a isso”.