Correio braziliense, n. 20868 , 11/07/2020. Cidades, p.18

 

De cobras exóticas a tubarões em aquários

Darcianne Diogo

Samara Schiwingel

11/07/2020

 

 

INVESTIGAÇÃO » Após capturar cobras de várias espécies, dentre elas a naja que atacou Pedro Henrique Lehmkuhl, no Guará 2, polícia encontra três tubarões em uma chácara, em Taguatinga. Suspeita-se de uma possível rede de tráfico de animais. Estudante deve ter alta da UTI hoje

Depois de capturar cobras de diversas espécies, entre elas a naja kaouthia que picou o estudante de medicina veterinária Pedro Henrique Lehmkuhl, a Polícia Civil do Distrito Federal, por intermédio da Delegacia Especial de Proteção ao Meio Ambiente e à Ordem Urbanística (Dema), capturou, ontem, três tubarões. Os peixes estava dentro de aquários, em uma chácara localizada na Colônia Agrícola Samambaia, em Taguatinga. Na mesma residência, foram encontradas sete serpentes —  cinco jiboias de Madagascar e duas Python da Birmânia — uma moreia e um lagarto teiú. O responsável pelos animais apresentou documentações de, apenas, uma das jiboias e do teiú. Ele foi autuado em flagrante por crimes ambientais e será multado pelo Ibama. Fontes policiais ouvidas pelo Correio informaram que a suspeita é de que a residência onde os animais foram encontrados pertence a um dos amigos de Pedro. Com isso, as investigações caminham para uma possível rede de tráfico de animais.

Até o fechamento desta edição, o Ibama não havia confirmado as espécies do tubarões, e nem os tamanhos dos peixes. A polícia investiga a procedência e se o proprietário tinha ou não autorização para criá-lo. Enquanto isso, o jovem, de 22 anos, picado pela naja, deve receber, hoje, alta da unidade de terapia intensiva (UTI). Ele estava internado, desde a última terça-feira, dia do ataque, na UTI do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama. A cobra está no serpentário do Zoológico de Brasília.

A polícia trabalha com algumas linhas de investigação para chegar ao desfecho do caso. Entre elas, é o envolvimento de Pedro e de outros colegas em um esquema internacional de tráfico de animais e em pesquisas clandestinas de animais exóticos. “Se a naja for proveniente de um cruzamento que aconteceu em território brasileiro, é muito provável que existam outras pelo país. E isso é perigoso, já que as cobras não são da fauna local e podem causar um desequilíbrio ambiental se forem soltas na natureza”, esclarece o delegado Willian Ricardo, da 14ª Delegacia de Polícia (Gama), responsável pelo caso. Ontem, a polícia ouviu três colegas de Pedro, entre eles o amigo que estava em posse da naja e que teria a deixado perto do shopping Pier 21. De acordo com o delegado, ele não colaborou com as investigações e permaneceu calado durante o interrogatório. “Ainda que esses rapazes tenham esses animais para a coleção, há um grupo organizado de tráfico por trás disso, e que será esclarecido”, frisou o investigador.

Nenhum dos jovens foi indiciado por algum crime. O delegado Willian Ricardo ressaltou que isso só será feito ao final das investigações. Até lá, outros alunos do grupo de estudos serão procurados para esclarecerem dúvidas sobre o caso.

Mistério

Na última quinta-feira, o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) capturou outras 16 serpentes em uma chácara no núcleo rural Taquara, em Planaltina. O proprietário do local é um amigo de Pedro, como apontam as investigações. Aos policiais, o jovem informou que um colega teria deixado os répteis perto de uma baia de cavalos. “Acreditamos que a naja estava junto às outras e foi retirada de lá. Por se tratar de um aras, os répteis seriam mantidos no local para a produção de soro antiofídico. Os cavalos, quando são picados, produzem os anticorpos necessários para a produção do antídoto”, explicou o delegado.

Todas as serpentes foram para o Zoológico. Durante a apreensão, os militares encontraram, ainda, duas caixas vazias. A suspeita é de que, em uma delas, haveria uma outra serpente de espécie naja. O Correio apurou que as cobras estão magras e apresentam quadro de desnutrição. Com isso, as investigações também seguem para um possível caso de maus-tratos a animais.

Pedro Henrique Lehmkuhl tem reagido bem aos tratamentos e deve receber alta hoje. Na quinta-feira, o rapaz acordou do coma e os médicos retiraram os tubos. Ele conversou com os profissionais de saúde e agradeceu pelo socorro prestado. No entanto, ele desenvolveu necrose no braço e lesões no coração devido ao veneno da serpente.

O estudante recebeu uma dose de soro antiofídico que foi cedida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, ainda na quarta-feira. Ele também passou por uma sessão de hemodiálise. A família importou mais 10 doses de soro vindas dos Estados Unidos. As que não foram utilizadas no tratamento do rapaz serão encaminhadas ao Butantan para estoque.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Após naja, Ibama recebe outras cobras

Darcianne Diogo

11/07/2020

 

 

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) recebeu, ontem, duas cobras, após o criador ter se preocupado com o caso do estudante que foi picado nesta semana por uma naja kaouthia. Como a entrega foi espontânea, o responsável não foi penalizado, o que é amparado pela legislação.

As serpentes, das espécies trimelosuros e jararacuçu, foram encaminhadas ao Zoológico de Brasília, onde passaram por exames clínicos. Outras 17 cobras estão sob os cuidados da equipe desde terça-feira, e foram encontradas pelo Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) após denúncias. O Ibama fará uma consulta a instituições habilitadas, como o Instituto Butantan, que poderá mantê-las em caráter definitivo para pesquisas.

Ainda ontem, após denúncia, o BPMA apreendeu em uma residência, em Brazlândia, duas jiboias: um macho, medindo cerca de 2,6m; e uma fêmea, de aproximadamente 3,6m de comprimento. Aos policiais, a dona da casa disse que a família comprou os répteis em um criadouro, em Goiás. Os répteis serão encaminhados ao Ibama para destinação adequada.

Segundo o Ibama, para manter cobras em residência, o interessado deve solicitar autorização junto ao órgão ambiental do estado, no caso de espécies não venenosas. Cobras peçonhentas podem ser criadas apenas com fins comerciais, por instituições farmacêuticas, ou com intuito de conservação, ou seja, quando o animal não pode voltar à natureza por diversos motivos, como ter sido vítima de maus-tratos. “A orientação é de que as pessoas que tiverem esses animais em casa não soltem na rua por receio da polícia ou de levar uma multa. Isso pode ocasionar um desequilíbrio no meio ambiente e coloca outras pessoas em risco”, pontuou o delegado Willian Ricardo. 

Disque-denúncia

Quem mantém animais silvestres ou exóticos de forma irregular pode fazer a entrega voluntária ao Ibama em todas as unidades do país. A população também pode denunciar suspeitas de criação por meio da “Linha Verde”, no telefone 0800-618080. O órgão chama a atenção para o risco de ter animais, como serpentes, em ambientes inapropriados, tanto para o bicho, quanto para as pesssoas.