O globo, n. 31692, 14/05/2020. País, p. 16

 

MP pede fim de acampamento pró - Bolsonaro

Vinicius Sassine

14/05/2020

 

 

Apoiado por parlamentares em Brasília, grupo mantém integrantes armados, segundo sua porta-voz Sara Winter. Na ação, promotores pediram busca e apreensão de armas e lembraram proibição de aglomerações

 O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) solicitou, em caráter de urgência, a dissolução do acampamento bolsonarista intitulado “300 do Brasil”, além de uma revista de seus integrantes para verificar se há armas de fogo e a busca e apreensão de armas em situação irregular. Os promotores de Justiça Flávio Augusto Milhomem e Nísio Tostes Filho, da 3ª Promotoria de Justiça Militar do DF, classificaram o grupo como “milícia armada” e colocaram como ré na ação a ativista Sara Fernanda Giromini, de 27 anos, que se autodenomina Sara Winter. Ela é a porta voz do acampamento.

Na ação, os promotores pediram ainda que o governo do DF proíba a aglomeração de pessoas para a realização de manifestações na capital, em atendimento aos decretos locais que buscam garantir o isolamento social e barrar o avanço da Covid-19.

Em entrevista ao site da “BBC Brasil”, Sara Winter admitiu que integrantes do grupo andam armados — segundo a ativista, para autoproteção. Giromini ocupou, em 2019, um cargo de confiança no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, a convite da ministra Damares Alves.

O acampamento do “300 do Brasil”, montado em local secreto, oferece alojamento e “treinamento em revolução não violenta e táticas de guerra de informação” aos militantes, que integram a linha de frente dos atos contra a democracia feitos em Brasília.

“Milícias não se subordinam à normatividade jurídica do Estado; seguem paralelas a ela ou em contraposição ao poder estatal. Não é necessário haver uniforme, distintivo, continência ou sinais de respeito à hierarquia, símbolos ou protocolos de conduta visíveis ou explícitos”, afirmam os promotores na ação.

O grupo tem apoio de parlamentares, como as deputadas federais Caroline de Toni (PSL-SC) e Bia Kicis (PSLDF), que chegou a fazer a interlocução do “300 do Brasil” com o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres. Um assessor da deputada integra o movimento.

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Franjas do bolsonarismo formam frente antidemocrática

Bernardo Mello

14/05/2020

 

 

O discurso e a estética paramilitares chamaram a atenção de órgãos públicos para o “300 do Brasil”, que representa uma das facetas dos atos com pauta antidemocrática que têm se sucedido nas últimas semanas em Brasília. Liderado por Sara Winter, uma ex-integrante do grupo ucraniano Femen que passou a se definir como “exfeminista”, o acampamento compartilha a pauta de ataques ao Congresso e ao STF com outros movimentos bolsonaristas menos conhecidos —vários deles sequer existiam à época dos primeiros atos pró-governo, em 2019, mas assumiram a linha de frente agora.

Ao menos dez militantes dessas novas franjas do bolsonarismo participaram da articulação de atos antidemocráticos na capital federal, como mostrou reportagem do GLOBO no último domingo. Embora não tenham endossado abertamente a convocação para os atos, parlamentares da base do presidente Jair Bolsonaro estiveram presentes nessas manifestações. Um deles, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), sugeriu em suas redes sociais que era necessário “ucranizar” o país. A expressão, usada também por Sara Winter, se refere a protestos que dividiram a Ucrânia numa guerra civil, iniciada em 2014 e até hoje não concluída.

O STF autorizou abertura de inquérito sobre os atos antidemocráticos. Entre os alvos estão os deputados bolsonaristas que incentivam a radicalização. Um dos pontos a ser esclarecido pelo inquérito é até onde vai o vínculo entre governo e sua militância. A “Folha de S. Paulo” apontou, na última semana, que os atos recentes tiveram participação de assessores e ex-auxiliares de aliados do presidente.