Título: Filho de ministro e corregedor
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2012, Política, p. 2

Alvo de devassa da Polícia Federal (PF) na Operação Porto Seguro, as agências reguladoras voltaram aos holofotes políticos e são acusadas pela oposição de ineficiência e de serem usadas como cabides de emprego do governo federal. Na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), autarquia não atingida pela operação da PF, o filho do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, ocupa o cargo de corregedor substituto da instituição. O advogado Leonardo Farias Passos é o responsável por procedimentos internos contra funcionários no órgão vinculado à pasta chefiada pelo pai.

Servidor público federal desde março de 2005, Leonardo é analista administrativo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em julho de 2006, período em que o pai esteve à frente do ministério pela primeira vez, ele foi requisitado pela ANTT, onde ganha R$ 14,3 mil por mês (salário bruto). A assessoria de comunicação do órgão nega que a nomeação de Leonardo tenha influência do pai e informa que ele foi indicado pela atual corregedora, Maria Carolina Pullen Arrais. Ela está no cargo desde 2002 e recebe praticamente o mesmo salário de Leonardo: R$ 14,5 mil. A nomeação "é questão interna da agência", diz a assessoria.

Por decreto da ANTT, o corregedor titular é indicado pelo ministro dos Transportes e nomeado pelo presidente da República. Cabe à Corregedoria da reguladora fiscalizar as atividades da agência, apreciar representações contra a atuação de servidores e instaurar sindicâncias. Tudo é submetido à decisão da diretoria, que nunca foi contrária a nenhum dos 24 processos presididos por Leonardo.

Para o professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira, há, nesse caso, uma espécie de nepotismo disfarçado. Segundo ele, é uma questão que, no mínimo, merece ser examinada com profundidade para saber o alcance que o filho do ministro tem no cargo. "Não é um caso que caminha para o campo da ilegalidade, pois não há nenhum impedimento legal. Mas, possivelmente, caminha para o campo moral. O fato de o filho do ministro ocupar um cargo estratégico em uma agência estratégica cria uma situação de desconforto. Os dirigentes não vão querer contrariar o filho do dono do galinheiro", afirma.