Título: Receita para acelerar PIB é questionada
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2012, Economia, p. 12

Ineficácia das medidas de estímulo adotadas pelo governo derruba projeções e eleva pressões por mudanças de rumos

Apesar de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter se mostrado surpreso com o desempenho pífio da economia no terceiro trimestre — uma expansão de só 0,6% sobre do trimestre anterior, exatamente a metade da sua aposta —, ele terá de apresentar nos próximos dias bem mais que otimismo com os próximos resultados do Produto Interno Bruto (PIB). Mas sua promessa de "novas medidas" de estímulo tende a ser continuidade das já adotadas, como desoneração de bens de consumo duráveis. Para piorar, a eficácia da política econômica é condenada por especialistas ao mesmo tempo que o cenário de 2013, com riscos inflacionários e fiscais e incerteza global, torna "novas" saídas mais complexas.

"Todas as medidas atenuaram os efeitos da crise externa. Se o governo não tivesse adotado nenhuma, possivelmente teríamos crescimento de 0% a 0,5% no ano", avaliou Felipe Queiroz, economista da Austin Rating. Entre os instrumentos adotados pelo governo, estão o alívio na carga tributária de setores considerados vistos como estratégicos, como automotivo e eletrodomésticos da linha branca, e ações para manter o dólar acima de R$ 2, para melhorar a competitividade externa. O BC também cortou a taxa básica de juros (Selic) para a mínima histórica de 7,25% ao ano, indicando que vai mantê-la assim pelo próximo ano. A esperança de Mantega está na retomada de investimentos com a redução dos estoques industriais.

Para Julio Hegedus Netto, economista-chefe da consultoria Lopes Filho e Associados, a grande dúvida sobre o horizonte da economia está nos limites da política monetária do governo. As pressões para elevar juros poderão ficar mais claras no segundo semestre de 2013, em razão de valorização cambial, do provável reajuste dos combustíveis e dos efeitos desses sobre a inflação. "Se a expectativa de a economia voltar a rodar na casa de 3% a 3,5%, o aperto monetário ficaria inevitável. Vamos ver ate quando o governo suporta o tranco", disse.

Renato Fragelli, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), acha que o mercado financeiro tem razão em ficar pessimista com os números do PIB porque representam erros na condução da política econômica. "O esforço do governo para reindustrializar o país a qualquer custo não está dando certo", afirmou. Ele também lamenta que o comportamento intervencionista em setores como o setor elétrico esteja "espantando investimento no momento de incertezas globais". Assim, analistas começam a reduzir as projeções .

Investimento

De toda forma, especialistas acreditam em novo adiamento na retomada do PIB, consolidando o pibinho de 2012, que já ameaça a economia em 2013. O sinal mais terrível disso veio dos números sobre a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede o investimento direto, mostrados sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Seu retrocesso de 2% sobre o segundo trimestre do ano e de 5,6%, ante o terceiro trimestre de 2011, deixa claro que empresários estão desanimados, deixando rendimentos futuros comprometidos.