Título: Sem terra avisa que vai resistir
Autor: Almeidas, Kelly
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2012, Cidades, p. 27

Terminou ontem o prazo para que o MST deixasse o Catetinho. Líderes alegam que, como o GDF não apresentou nenhuma opção, as 1,3 mil famílias vão permanecer na área

Acabou ontem o prazo para que integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deixem o terreno invadido, há pouco mais de três meses, na BR-040, próximo ao Catetinho. Os invasores, entretanto, permanecem na Fazenda Gama e avisam que irão resistir, mesmo que seja necessária a retirada por meio de ação policial. O Governo do Distrito Federal (GDF) afirma que não será feita a transferência das famílias e espera que os manifestantes cumpram pacificamente o acordo de reintegração de posse assinado no mês passado. Ontem, integrantes de outros movimentos também estiveram no local para dar apoio aos sem terra.

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) determinou que os integrantes do Acampamento 22 de agosto — referência à data da ocupação — deixem a fazenda, de propriedade da Companhia Imobiliária do Distrito Federal (Terracap). Mas, no que depender dos invasores, a decisão está longe de ser cumprida. "Não avançamos nas negociações com o governo, que também não deu outras opções para sairmos daqui. Se a gente desocupar, nada vai avançar. Vamos resistir e não desocuparemos, mesmo que tentem nos tirar", garantiu Edmar Tavares, representante do MST. A invasão, segundo os manifestantes, começou com 800 famílias, e, hoje, chega a 1,3 mil — todas do DF.

Apesar de o prazo para a desocupação ter se esgotado, a Secretaria de Governo do DF, por meio da assessoria de imprensa, informou, na tarde de ontem, que não se pronunciaria, pois os manifestantes tinham até meia-noite para deixar a Fazenda Gama. A assessoria reafirmou ainda que não será feita a transferência dos trabalhadores rurais para outras áreas e que, ao governo, o MST não demonstrou interesse em descumprir o acordo de reintegração de posse. A negociação, segundo a pasta, ocorreu entre o GDF, a Ouvidoria Agrária Nacional e o MST.

Manifestação O impasse entre o GDF e o MST tem feito com que os invasores da Fazenda Gama tomem medidas extremas. No último dia 21, eles queimaram pneus e bloquearam as pistas da BR-040 por quatro horas. O engarrafamento chegou a 2,5km de extensão. Ocorreram ainda protestos nas BRs 080 e 020. Próximo ao Catetinho, os manifestantes ficaram no canteiro central da pista.

Em nota, o Executivo local condenou o radicalismo do movimento e informou que "os movimentos sociais de luta por reforma agrária para agricultura familiar possuem espaço de negociação no governo. Em 2012, foi criado o Fórum Distrital de Política de Reforma Agrária, instância coordenada pela Secretaria de Governo, com espaço dedicado ao diálogo. Periodicamente, são realizados encontros para identificar áreas produtivas, planejar melhorias para o setor e intermediar o diálogo entre os órgãos governamentais e os movimentos sociais."