Título: Pontos críticos a vencer
Autor: Rezende, Pedro Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2012, Pensar Brasília, p. 3

Distrito Federal tem enorme potencial para se desenvolver. Possui mão de obra de grande nível educacional (leia mais na página 9), a maior renda per ca­pita do país e uma localização geográfica privilegiada, na área central do Brasil e da maioria dos países da América do Sul. Por outro lado, sua infraestrutura urbana encontra-se conges­tionada e a economia centraliza-se na área central, responsável por 69% dos postos de trabalho. Além disso, crescem os indica­dores econômicos negativos de boa parte dos 22 municípios que formam, com Brasília, a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do DF (Ride-DF).

Presidente da Companhia de Desenvolvimento e Planejamen­to do Distrito Federal (Codeplan), o economista Júlio Miragaya é o responsável pela produ­ção dos dados estatísticos que embasam os programas de go­verno. Ele enfrenta dificuldades. As informações disponíveis so­bre o DF são confiáveis, mas não há qualquer dado sobre os municípios do Entorno. "É gente que trabalha, estuda e usa os serviços de saúde daqui, sobre a qual não temos a menor ideia de quanto ganha e se tem emprego."

A verdade é que a área metro­politana é a maior fonte de preo­cupação para o Distrito Federal. Estima-se que 800 mil pessoas saem diariamente das cidades vi­zinhas de Goiás rumo a Brasília, boa parte em busca de emprego. Esse movimento afeta a mobili­dade urbana da capital da Repú­blica e dificulta o fluxo de merca­dorias interestadual.

Além disso, os índices de vio­lência na periferia explodem. "Há dez anos", afirma Miragaya, "a grande preocupação das autori­dades federais em termos de se­gurança pública era a Baixada Fluminense. Hoje, ofoco de atenção voltou-se para o Entorno, que está sob a guarda da Força Nacional de Segurança. Segun­do o presidente da Codeplan, "o problema do narcotráfico impõe desafios sobre Brasília e o au­mento de sequestros relâmpagos é uma das conseqüências disso."

O desemprego afeta 12,9% da população da capital brasileira. De uma maneira geral, há um pa­drão. O Plano Piloto, o ParkWay, o Sudoeste, a Octogonal e os lagos Norte e Sul apresentam altíssimo nível de renda (veja quadro ao la­do). Essa relação é inversamente proporcional à distância da mo­radia em relação à área central. "Há uma força centrípeta que ex­pulsa os mais pobres para a peri­feria", diz o economista. "Além dissò, quanto mais longe das áreas nobres, maior é o índice de desemprego. Estima-se que, em algumas cidades do Entorno, chegue a 30%." .

Dependência

Segundo o presidente da Co­deplan, a matriz produtiva de Brasília é extremamente depen­dente do setor público. Quase metade do PIB de Brasília, equi­valente a R$ 140 bilhões, é oriun­do de recursos vindos direta ou indiretamente dos governos fe­deral e distrital. "Hlá uma excessi­va dependência e isso é danoso a longo prazo. Precisamos diversi­ficar nossa economia."

Para isso, a Codeplan traba­lha com uma hipótese polêmi­ca na preparação do Segundo Programa Especial da Região Geoeconômica de Brasília (Pergeb II): a ampliação do número de indústrias Segundo Júlio Míragaya, o setor de transformação é o que apresenta maior potencial de crescimento. Atualmente, o setor industrial gera 195.533 em­pregos, de acordo com estatísti­cas da Secretaria de Desenvolvi­mento Econômico. A maior parte desse total gerada, cerca de 80%, oferecida por pequenas e microempresas. A participação no PIB de Brasília é pequena: 6,58%.

Ele reconhece que há dificuldades a superar. "Temos proble­mas energéticos, o que produzi­mos mal supre a demanda resi­dencial atual", ressalta. "Uma das empresas que se instalou no Polo JK teve de instalar grupos geradores e produzir sua própria eletricidade para garantir um suprimento confiável."

Além disso, segundo Mira­gaya, há um gargalo logístico: "Possuímos apenas uma saída ferroviária para o Porto de Santos e seria necessário integrar-nos à Rede Norte-Sul, que interliga Anápolis ao Porto de Itaqui, no Maranhão. São obstáculos per­feitamente ultrapassáveis."

O Pergeb II também defenderá a criação de uma zona de de­senvolvimento industrial em 10 dos 22 municípios da Região In­tegrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF). "Precisamos gerar um cinturão de riqueza em torno de Brasília, capaz de gerar empregos para diminuir a pres­são sobre o DF", afirma Miragaya.

Audácia

O presidente da Codeplan de­fende uma ação agressiva e con­junta do governo do Distrito Fe­deral e da opinião pública. Segun­do ele, essa foi a receita para que um novo gasoduto chegasse a Uberlândia. "Necessitamos com urgência de fontes de energia. Lá, a população e os governos municipal e de Minas Gerais se uniram para que a cidade fizesse parte da rota", lembrou. "No futuro, deverá chegar até aqui, oferecendo uma fonte limpa e confiável de ener­gia, mas não temos previsão de quando isso ocorrera.

Para o economista, receitas usadas no passado mostraram-se infrutíferas. "Não devemos distri­buir terrenos", acentua. "A maio­ria das vezes que isso ocorreu, a destinação foi alterada e deixou de cumprir o objetivo inicial, co­mo no Polo de Moda do Guará e nos setores de oficinas. Além dis­so, não há mais, legalmente, co­mo oferecer incentivos fiscais."

A resposta estaria em mão de obra qualificada e segurança jurí­dica. "Foi a receita usada por Goiás para atrair a Hyundai" disse Miragaya. "Só para dar uma ideia do tamanho do investimento, a área da fábrica é duas vezes maior que a do Polo JK. Ele reconhece o desempenho do agronegócio na matriz produtiva do DF, mas afir­ma que ela perde escala diante do gigantismo do setor público.

"O secretário de Agricultura, Lúcio Valadão, reclamou que com uma produção equivalente a US$ 1 bilhão sua participação no PIB do DF era extremamente baixa", conta o presidente da Codeplan. "Reconheci que é um senhor de­sempenho, superior a Rio Verde (GO). Temos o 10° maior polo do país. E precisamos nos orgulhar disso, mas ele fica pequeno quan­do confrontado com o volume de investimento da União aqui. Brin­cando, disse que precisava recla­mar com o governo federal."