Título: Quatro petistas na retaguarda
Autor: Mader, Helena; Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2013, Política, p. 2

A aparente tranquilidade de José Genoino enquanto concedia sua primeira entrevista coletiva à imprensa como deputado desta legislatura tinha pelo menos uma razão: a blindagem de seu partido estava representada por quatro correligionários posicionados estrategicamente atrás do réu do mensalão. Ao longo dos mais de 30 minutos de entrevista, os deputados petistas Sibá Machado (AC), José Mentor (SP), Ricardo Berzoini (SP) e José Guimarães (CE) — irmão de Genoino e líder da bancada — ficaram de pé, como "cães de guarda" do parlamentar que era sabatinado pelos jornalistas, sem medo de aparecer nas imagens.

O grupo viajou a Brasília especialmente para acompanhar a posse. José Mentor admitiu que a posição do quarteto formando um paredão de seguranças de José Genoino foi proposital. "Era para demonstrar que ele tem nosso apoio", explicou. O acriano Sibá Machado completou: "O PT o julga inocente, entende que houve abuso de autoridade por parte do Supremo Tribunal Federal e, por isso, ele está assumindo por ser seu direito".

Já que Genoino fugiu de todas as perguntas sobre o julgamento do mensalão, os quatro cavaleiros que o protegiam saíram em sua defesa. O também ex-presidente do PT e deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) voltou a criticar o posicionamento dos ministros do Supremo na Ação Penal 470. "Foi um julgamento realizado sob circunstâncias muito específicas, o que levou a várias contradições, inclusive no âmbito da produção de provas. Vários ministros tiveram que recorrer a teorias estranhas ao mundo político brasileiro para justificar a condenação", criticou.

Ricardo Berzoini negou que a posse de Genoino represente um constrangimento para a legenda e afirmou que o partido "só tem a ganhar" com a volta do correligionário à Câmara. "O PT ganha pela experiência política do Genoino e por sua qualidade, e ao mesmo tempo ganha porque dá uma demonstração de solidariedade que é importante no mundo político e não agindo por pressões momentâneas", disse.

Berzoini também defendeu que a condenação no Supremo dos réus do mensalão não deve implicar a expulsão dos envolvidos no caso, apesar da previsão no estatuto do partido de que os condenados devem deixar os quadros do PT. "Essa é uma decisão que compete ao diretório nacional do partido. Se provocado por alguém, o diretório vai se posicionar. Eu pessoalmente acredito que a situação política dos companheiros do PT que são réus da ação não justifica medida disciplinar", comentou.

Laços de sangue Apesar de compor a cena dos defensores com o mesmo semblante de altivez que os demais, o deputado José Guimarães foi o menos incisivo nas palavras. Irmão de Genoino, ele preferiu se manifestar mais em nome da liderança do PT na Câmara que dos laços sanguíneos. "Não vivemos em um estado de exceção, mas em um no qual os direitos são respeitados e, por isso, o partido está muito tranquilo hoje", afirmou.

Guimarães esteve a maior parte de sua vida política à sombra do irmão e chegou a admitir isso em entrevista recente ao Correio. Desde ontem, porém, ele ocupa uma posição superior a Genoino, ao menos na teoria. Questionado sobre o retorno à Câmara tendo o próprio irmão como líder, o réu do mensalão foi evasivo. "Ele é meu irmão, companheiro de partido, mas temos uma autonomia de procedimentos, métodos e prioridades. Sempre nos respeitamos como irmãos de sangue e de ideias", comentou Genoino. Nitidamente constrangido, Guimarães se retirou da sala pouco depois da resposta.

O deputado que tomou posse ontem tem o PT a seu lado porque sempre foi um nome forte do partido, que presidiu de 2002 a 2005, único período em que ficou sem mandato — não concorreu à reeleição na Câmara porque disputou sem sucesso o governo de São Paulo. Ele renunciou ao comando da legenda justamente quando estourou o escândalo do mensalão e foi sucedido interinamente pelo atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Em seguida, Berzoini foi eleito para presidir o PT no período de recuperação da crise, que culminou na eleição de Dilma Rousseff à presidência da República.