Título: Sucessão de Gurgel mobiliza o MPF
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2013, Política, p. 4
Inscrições para as candidaturas à Procuradoria Geral da República começam apenas em abril, mas quatro nomes já despontam na corrida
Quatro subprocuradores da República — sendo três mulheres — despontam como pré-candidatos a suceder o atual chefe do Ministério Público Federal, Roberto Gurgel. Apesar de o prazo inicial para o registro de candidaturas ser apenas em abril, Rodrigo Janot, Deborah Duprah, Raquel Dodge e Sandra Cureau são vistos pelos colegas de profissão como os prováveis postulantes à lista tríplice, que será encaminhada à presidente Dilma Rousseff no início de maio. "Precisamos ser ágeis, porque o mandato de Gurgel se encerra em 15 de agosto e o nome do novo procurador-geral precisa ser sabatinado pelo Congresso", explicou o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Alexandre Camanho.
A escolha do novo procurador-geral da República acontece em um momento em que o PT reclama intensamente da postura de Gurgel, sobretudo durante o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, que levou à condenação caciques do partido, como José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha.
Radicais do partido reclamam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou passivamente a escolha dos procuradores e decidiu nomear para o cargo o mais votado na lista tríplice. Pela Constituição Federal, é dever do presidente indicar o procurador-geral, mas não existe uma obrigatoriedade em referendar o nome do vitorioso na eleição feita pelos procuradores. Por isso, esperam que o futuro procurador seja mais amistoso.
Para Camanho, esse debate não está sendo travado entre os integrantes do MI? "O Ministério Público não está à procura de um procurador-geral mais oposicionista ou mais governista. Os procuradores vão escolher com base na qualidade de cada um dos candidatos", aposta o presidente da ANPR. Ele não vê qualquer um dos pré-candidatos como favorito na disputa que será travada em abril. "Todos são subprocuradores, integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público, instância máxima consultiva da carreira", declarou.
O procurador elogia a prática adotada pelo governo, desde os mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, de nomear para o cargo de procurador-geral da República o mais votado na lista tríplice entregue para análise do Palácio do Planalto. Por esse método, foram escolhidos Cláudio Fonteles, Antonio Fernando de Souza e Roberto Gurgel. "Isso sinaliza a legitimidade da escolha e o respeito que a instituição usufrui perante o presidente da República", completou Camanho.
O presidente da ANPR ressalta que Raquel Dodge, além de se colocar como uma das postulantes ao cargo de procurador- geral da República, ainda é mencionada como uma possível indicada para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). "Se ela for nomeada para o STJ, terá que abrir mão de concorrer à sucessão de Gurgel", explicou.
Regras
Cabe à presidência da ANPR definir as regras que nortearão as eleições para a lista tríplice. No início de abril, a associação vai elaborar o edital convocando a categoria para a votação. O colégio eleitoral é composto por aproximadamente mil procuradores da ativa e cerca de 200 aposentados. A partir dessa convocação inicial, é aberto um prazo de 10 dias para o registro das candidaturas. Depois disso, Camanho prevê duas semanas para as campanhas e possíveis debates entre os postulantes ao cargo.
Camanho espera encaminhar a lista tríplice a Dilma até 7 de maio. "Não é que tenhamos outros candidatos, mas todos estão cautelosos em se apresentarem oficialmente para que o gesto não seja considerado um réquiem do mandato de Gurgel", explicou o presidente da ANPR. O mandato é de dois anos, com possibilidade de recondução.
Prisão imediata
OPTeo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, começaram a se estranhar desde que ele apresentou a denúncia que formalizou o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, trabalho iniciado pelo antecessor, Antonio Fernando de Souza.
A primeira investida dos pe- tistas contra o procurador aconteceu durante a CPI do Cachoeira. Aliados ao senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), eles pressionaram pela convocação de Gurgel. Queriam que o procurador-geral explicasse por que não pediu a prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira após a Operação Vegas, em 2009, esperando para fazer o pedido ao término da Operação Monte Carlo, deflagrada em fevereiro do ano passado. Meses depois, a convocação foi barrada pelos demais integrantes da CPI.
Em agosto, começou o julgamento do mensalão, e o comportamento de Gurgel irritou ainda mais os petistas. O procurador- geral declarou esperar que os trabalhos do mensalão "interferissem no resultado final das eleições". Depois, foi veemente ao pedir a prisão imediata dos condenados.