Título: Vereadora ficará detida
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2013, Política, p. 6
Parlamentar que forjou o próprio sequestro para não participar da votação da Mesa Diretora não prestou depoimento à polícia e está presa temporariamente. Câmara vai esperar explicações antes de tomar providências
Ana Maria Branco de Hollenbem (PT), vereadora da cidade de Ponta Grossa, no Paraná, presa em flagrante na quarta-feira à noite, suspeita de forjar o próprio sequestro, recebeu alta médica na tarde de ontem e foi levada à 13ª subdivisão policial do município. Ela deveria prestar esclarecimentos ao delegado Danilo Cesto, responsável pelo caso, no entanto, os advogados alegaram que Ana Maria não estava em condições psicológicas de ser ouvida. A assessoria de imprensa da Polícia Civil do Paraná comunicou que a vereadora permanecerá presa até posicionamento da Justiça sobre o caso.
Na tarde de ontem, o presidente da Câmara Municipal de Ponta Grossa, Aliel Machado (PCdoB), informou que ainda não há nenhum procedimento em curso na Casa em relação ao caso. "Não existe sequer uma denúncia formal. É importante salientar que ela não cometeu nenhum erro político. Vamos esperar os esclarecimentos da vereadora. E, claro, vamos cobrar uma fiscalização rigorosa a respeito de tudo o que aconteceu."
Os vereadores estão em recesso. Os trabalhos só serão retomados em 18 de fevereiro. "A gente não sabe ainda o que aconteceu realmente. Para que a Câmara tome as providências, algum vereador tem que denunciá-la por quebra de decoro. A partir deste ponto, tem início todo o processo", acrescentou o presidente. O vereador acredita que Ana Maria pode ter sido ameaçada para não comparecer à sessão que definiria os cargos da Mesa Diretora. "Ela vai explicar tudo. A vereadora pode ter sofrido uma pressão grande. Neste caso, ela teria cometido um erro por ter sido forçada. Ainda é cedo. Vamos aguardar." Os advogados de Ana Maria afirmaram que ela não prestou depoimento porque estava sedada e bastante abalada emocionalmente. A defesa promete entrar o mais rápido possível com um pedido de habeas corpus. A vereadora foi reeleita em outubro do ano passado para cumprir o terceiro mandato. Ela desapareceu por volta das 18h de terça-feira, após a cerimônia de posse, no Cine Teatro Ópera. A parlamentar era aguardada na Câmara Municipal, onde aconteceria a eleição dos membros da Mesa Diretora, mas não apareceu.
O delegado-chefe do Grupo Tigre, unidade de elite da Polícia Civil do Paraná, Luiz Alberto Cartaxo, afirma que a vereadora simulou ter sido vítima de rapto para não comparecer à votação na Câmara Municipal. Além de Ana Maria, outras quatro pessoas que teriam participado do plano também foram presas: o motorista dela, Idalécio Valverde da Silva; a mulher dele, Suzicleia Rocha Valverde da Silva; e o irmão, Adauto Valverde da Silva. Um primo de Idalécio, Reginaldo da Silva, que também participou da simulação, continua foragido.
Logo após ser detida, Ana Maria foi internada no Hospital Regional de Ponta Grossa. Ela ficou em custódia por dois policiais até ser liberada na tarde de ontem. Todos os suspeitos foram enquadrados por falsa comunicação de crime, fraude processual e formação de quadrilha. Durante o suposto sequestro, Ana Maria chegou a entrar em contato com o filho usando o telefone celular do motorista. Ela informou à família que estava em poder de bandidos, mas que passava bem.
Eleição Em razão do desaparecimento da vereadora, a eleição para os cargos da Mesa da Câmara Municipal, que ocorreria na quarta-feira, foi adiada. O Regimento da Casa estabelece que, para haver eleição, é necessário o quórum de pelo menos 12 dos 23 vereadores da cidade. Só na tarde de ontem, os vereadores voltaram a se reunir e elegeram os membros que ocuparão os cargos pelos próximos quatro anos.