Título: Chuvas castigam o Rio
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Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2013, Brasil, p. 7
Temporais deixam um morto e mais de mil desabrigados em municípios fluminenses. Em Xerém, distrito mais afetado, o cantor Zeca Pagodinho divulgou campanha para ajudar moradores. Governador sobrevoará a região hoje
As chuvas que castigam o Rio de Janeiro desde a noite de quarta-feira deixaram um morto e 1.262 pessoas fora de casa. O município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi o mais atingido pelas enchentes. Os rios Saracuruna, Inhomirim e Capivari transbordaram. Um idoso, ainda não identificado, morreu. O corpo foi encontrado na Praça da Mantiqueira. Equipes de resgate acreditam que o homem dormia quando foi arrastado pela força da enxurrada. Até o fechamento desta edição, oito pessoas estavam desaparecidas, entre elas, cinco são da mesma família. O prefeito de Caxias, Alexandre Cardoso, decretou estado de emergência no distrito de Xerém, um dos mais devastados da cidade.
Logo de manhã, o cantor Zeca Pagodinho, dono de um sítio em Xerém, Duque de Caxias, rodou pelo local, em um quadriciclo, ajudando os moradores. O sambista contou que suas terras não foram atingidas, tendo perdido apenas cabritos e coelhos, mas ressaltou que a situação estava muito "triste" na vizinhança. Emocionado, Zeca falou que há crianças desaparecidas e casas soterradas em Xerém.
O cantor lamentou estar com viagem marcada para Orlando hoje, ao acrescentar que tem muitos amigos passando necessidade. O sambista reuniu comida e roupas para distribuir na igreja que abriga os desalojados e também lançou uma campanha virtual Chuvas no Rio, vamos ajudar!, no site administrado por sua equipe no Facebook. Até a noite de ontem, a foto de Zeca ajudando as pessoas foi compartilhada por mais de 10 mil pessoas e quase 1,5 mil pessoas haviam "curtido" a iniciativa, mas ainda não havia instruções sobre como encaminhar doações.
Os outros locais atingidos são Angra dos Reis, Mangaratiba, Teresópolis e Nova Friburgo — os dois últimos ficam na Região Serrana, palco do maior desastre climático do país, dois anos atrás, com saldo oficial de quase mil mortos. Em Angra, oito moradias desabaram e cerca de 2 mil pessoas tiveram de deixar suas casas durante os temporais na madrugada de ontem. Aproximadamente, 150 ficaram desabrigados. Também ficaram desalojados moradores de Teresópolis e Petrópolis, onde Ronaldo Carlos Baptista Cândido, 25 anos, foi resgatado dos escombros.
Ele dormia em casa, no bairro Siméria, em Petrópolis, quando a residência foi atingida por um deslizamento. A mãe do rapaz, assustada com a tempestade, estava acordada para monitorar a situação. Tentou chamar os filhos no momento da enxurrada, mas não conseguiu. Ronaldo ficou embaixo de terra, água e do colchão, que amorteceu o impacto de uma pedra grande que veio com a enxurrada. Quando o homem estava quase sem respirar, familiares conseguiram retirá-lo dos escombros.
Equipes da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos foram para a Região Serrana, Angra dos Reis e Duque de Caxias. Para Caxias, serão enviados 100 kits de higiene pessoal, destinados as cerca de 150 pessoas abrigadas em uma igreja. O secretário municipal da Defesa Civil da cidade, Marcelo Silva Costa, afirmou que os alagamentos foram provocados por uma cabeça d"água —termo que se refere a uma enchente rápida em um rio. Ele negou rumores de que houve quebra de uma barreira. Em Caxias, de acordo com a Defesa Civil municipal, 215 milímetros de água caíram em apenas 24 horas — o volume corresponde a um mês de chuva. Segundo o prefeito Alexandre Cardoso, a situação se agravou devido ao lixo acumulado, que se misturou ao material que desceu a serra com a enxurrada, dificultando a passagem da água. O bairro mais atingido na região é Mantiqueira, onde havia lama e água até os telhados das casas. Dezenas de carros foram arrastados.
Capital A presença de uma frente fria no município do Rio provocou chuva em toda a cidade ontem. Choveu forte em alguns bairros da Zona Oeste e Norte. A capital fluminense entrou em estágio de atenção ainda na madrugada de quinta-feira. O governador, Sérgio Cabral, determinou, ontem, a formação de um Gabinete de Crise no Centro Estadual de Gestão de Desastres (Cestad), na Praça da Bandeira. Na manhã de hoje, está prevista uma reunião com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, no Palácio da Guanabara. Eles devem sobrevoar os locais atingidos. Ontem, Bezerra falou ao telefone com a presidente Dilma Rousseff, sobre as enchentes.