Título: Oposição dividida
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2013, Economia, p. 8

Na esteira de combates agressivos em suas próprias fileiras por causa do “abismo fiscal” e da ajuda às vítimas da supertempestade Sandy, republicanos da Câmara dos Deputados inauguraram ontem um Congresso mais dividido do que nunca. Embora o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, não pareça correr perigo de perder sua posição por causa das divisões, sua capacidade de falar em nome do partido na Casa parece muito diminuída.

Isso não poderia ter acontecido em pior momento para os republicanos, enquanto preparam a próxima tentativa para obter mais reduções de gastos do presidente Barack Obama. Eles vão tentar usar o teto da dívida — e o pedido da Casa Branca para elevá-lo — como margem de manobra, como fizeram em 2011. Mas se os últimos dias do Congresso em 2012 foram um indicativo do que está por vir, os republicanos terão um período difícil contra o presidente norte-americano que, até mesmo a oposição reconhece, está em um bom momento depois da reeleição em novembro.

A batalha de abismo fiscal para evitar aumentos de impostos e cortes de gastos excessivos, que deveriam começar no início deste ano, provou-se extremamente dolorosa para os republicanos. A exigência de Obama por um aumento de impostos sobre os ricos contestou um princípio central que vem guiando os oposicionistas por décadas: sem novos impostos. Nunca. Mesmo assim, na noite de ano-novo, 85 republicanos na Câmara fizeram justamente isso, ao votarem para aumentar o imposto sobre rendas familiares de mais de US$ 450 mil por ano.

Algumas das maiores estrelas do Partido Republicanos estavam entre os 85 — inclusive Boehner e Paul Ryan, o republicano candidato a vice-presidente em 2012, que é visto como um ícone conservador. Mas 151 deputados oposicionistas resistiram, deixando Boehner na posição pouco invejável de ter que contar com parlamentares democratas para aprovar a lei. Anteriormente, na batalha do abismo fiscal, Boehner sofreu uma derrota humilhante quando o seu “Plano B” — limitar os aumentos tributários para rendas superiores a US$ 1 milhão por ano— recebeu tão pouco apoio, que ele teve de cancelar a votação.

Mal a batalha do abismo fiscal tinha terminado e Boehner já se encontrava em apuros com outros republicanos sobre a ajuda para as vítimas do Sandy, a segunda tempestade mais cara na história dos Estados Unidos, que destruiu comunidades costeiras em Nova York e Nova Jersey em outubro. A legislação que fornece alívio para esses desastres foi adiada. Um assessor republicano da Câmara disse que, dada a frustração com a lei de abismo fiscal e a falta de cortes de gastos, não era um bom momento para votar imediatamente sobre novas despesas de US$ 60 bilhões.