Título: Ajuda externa para evitar novo pibinho
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2013, Economia, p. 8

Palácio do Planalto aposta que, com a recuperação econômica dos EUA e da China, o Brasil crescerá pelo menos 3% em 2013

A retomada do crescimento econômico mais forte dos Estados Unidos, da China e da Argentina, os três mais importantes parceiros comerciais do Brasil, pode dar uma boa ajuda ao governo Dilma Rousseff para evitar um novo pibinho em 2013. Na avaliação do Palácio do Planalto, com o aumento da demanda desses países por produtos brasileiros, o setor produtivo nacional tenderá a ser beneficiado com o incremento das exportações, já que a demanda extra compensará parte das compras que deveriam vir da combalida Europa. Não à toa, o governo insiste que o Produto Interno Bruto (PIB) avançará pelo menos 3% e as vendas ao exterior cravarão um novo recorde neste ano, de US$ 268 bilhões. Em 2012, diante da frágil atividade global, o PIB avançou menos de 1% e o comércio internacional do país sentiu o baque, com o saldo na balança ficando em US$ 19,4 bilhões — o menor em 10 anos.

Dos três países que mais compram mercadorias brasileiras, somente os EUA ampliaram os pedidos no ano passado. A tendência é de que, com a solução, ainda que temporária, do impasse em torno do chamado “abismo fiscal”, a principal locomotiva do planeta retome as rédeas do crescimento e, por tabela, ajude a China, cuja desaceleração econômica pôs o mundo em alerta. Depois de crescer por mais de uma década acima de 10% ao ano, o PIB chinês avançou em torno de 7,5% em 2012.

Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, o mundo enfrentou, no ano passado, uma combinação perversa de recessão na Europa com a desaquecimento nos EUA e na China. Esse quadro, disse, contribuiu para que o preço das matérias-primas caísse nos mercados, o que afetou países produtores como o Brasil e a Argentina. “Acontece que afetando os argentinos, o Brasil sofre duas vezes”, afirmou. “Quando os nossos vizinhos têm problemas, eles acabam importando menos. E como eles são responsáveis por boa parte do consumo dos nossos produtos manufaturados, isso se torna um problema adicional.”

A grande aposta para 2013 é que a Argentina consiga colher uma safra recorde de soja, o que ajudaria aquele país a acumular mais reservas com os dólares de exportações. No ano passado, após enfrentar problemas climáticos, o governo de Cristina Kirchner passou a barrar importações da indústria brasileira sob a desculpa de conter uma fuga de moeda estrangeira do país. “Como eles conseguiram obter os US$ 11 bilhões de superavit de que necessitavam para financiar o rombo nas transações correntes em 2013 e com a previsão de safra maior e preços, teoricamente, maiores, a Argentina pode melhorar também o saldo comercial, o que é particularmente interessante para o Brasil”, avaliou o presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro.

Ameaça europeia Dos três principais parceiros comerciais do país, apenas para os EUA é previsto um crescimento econômico menor em 2013 do que o registrado em 2012. Mas a estimativa de alta de apenas 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB) feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) não levou em conta que o Congresso norte-americano e, principalmente, o presidente Barack Obama conseguiriam chegar a um acordo para postergar a redução de gastos sociais e a elevação de impostos que jogariam aquele país no temido abismo fiscal e, pior, na recessão.

“Se houvesse uma incerteza com o abismo fiscal, isso certamente levaria à restrição nos fluxos de capitais e no comércio global, prejudicando todo o planeta”, afirmou Padovani. José Augusto de Castro ressalta que, apesar dos bons ventos dos EUA, continua temeroso em relação à Europa.