Título: Tsunami cambial fica na ameaça
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Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2013, Economia, p. 9

Alardeado no Brasil e no exterior pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o tão temido “tsunami monetário”, que faria despencar a cotação do dólar, com fortes prejuízos às exportações brasileiras, simplesmente não aconteceu. Dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostram que, em 2012, ocorreu justamente o contrário: a entrada de recursos externos na economia brasileira despencou 74,3% em relação ao ano anterior. Até 28 de dezembro, faltando apenas um dia útil para o fechamento do exercício, o ingresso de capital externo somou US$ 16,75 bilhões, ante US$ 65,23 bilhões em 2011. Foi o fluxo mais baixo em quatro anos.

Segundo o governo, a invasão de dólares ocorreria por causa das políticas de afrouxamento monetário adotadas pelos governos dos países desenvolvidos, sobretudo dos Estados Unidos, com o objetivo de revigorar a atividade econômica golpeada pela crise.

No entanto, o diagnóstico, repetido por Dilma e Mantega em vários fóruns internacionais, se revelou tão frágil quanto as previsões do ministro da Fazenda para o crescimento da economia brasileira em 2012. Na realidade, os dólares ficaram mais escassos, o que obrigou o governo a adotar sucessivas medidas para estimular bancos e empresas a captarem recursos lá fora.

Queda Essas ações começaram a surtir efeito no fim do ano, embora não tenham impedido uma valorização da 9% moeda norte-americana em 2012. Ontem, a divisa fechou em queda diante do real pela segunda sessão consecutiva, cotada a R$ 2,035 na venda, um recuo de 0,53% em relação ao dia anterior.

Segundo o BC, dos recursos que entraram na economia no ano passado, US$ 8,4 bilhões vieram por meio de contratos de câmbio ligados à balança comercial. Um quantia semelhante ingressou pelo segmento financeiro, que contabiliza operações como empréstimos, investimentos, remessas de lucros e transferências.

Em dezembro, especificamente, houve um forte movimento de saída de dólares do país, que superou as entradas em US$ 6,75 bilhões. Desse saldo negativo, US$ 4,3 bilhões corresponderam a operações comerciais. Outros US$ 2,5 deixaram a economia pelo canal financeiro.

» Estrangeiros voltam à Bovespa

Os investidores estrangeiros retornaram com força à Bovespa em dezembro, levando o saldo de recursos externos a ficar positivo em R$ 1,82 bilhão em 2012, quando o principal índice brasileiro de ações acumulou alta de 7,4%. Um ano antes, esses investidores haviam retirado R$ 1,35 bilhão da bolsa paulista. Somente em dezembro, a entrada líquida de recursos externos alcançou R$ 3,72 bilhões — o segundo melhor resultado do ano, atrás apenas de janeiro, quando os estrangeiros aplicaram R$ 7,17 bilhões. O montante de dezembro é reflexo de um total de R$ 58,3 bilhões em compras e de R$ 54,6 bilhões em vendas feitas por investidores externos até o dia 28, último pregão do ano. O grupo de instituições financeiras registrou entrada líquida de R$ 417,77 milhões na bolsa, em dezembro. Os demais retiraram recursos, com destaque para as pessoas físicas, com saída de R$ 2,44 bilhões.