Título: Aprendizado interativo
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Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2013, Tecnologia, p. 16

Escolas de Brasília consolidam a adoção de tablets como ferramentas pedagógicas. Alunos que vivem a experiência aprovam a ideia. O uso deve ter como principal foco a melhora da metodologia de ensino

É comum um aluno perder a concentração em sala de aula. Ainda mais quando se trata de um adolescente que acabou de sair do ensino fundamental e ingressou no médio. Com Júlia Ayres Thomaz, porém, isso não aconteceu no ano passado. O motivo para a atenção? A escola particular onde estuda passou a adotar os tablets como ferramenta de ensino nas aulas. “Em um primeiro momento, não gostei muito da ideia. Demorei para me adaptar, mas hoje acho melhor utilizar o tablet. Não tem como dispersar. Eu acompanho o livro digital e, com ele, tenho mais informações e acessibilidade para o conteúdo. Sempre tem algum link, alguma sugestão, se você quiser saber mais e isso ajuda muito na hora de estudar.”

Colega de Júlia, Arthur Medeiros Camargo de Oliveira concorda. “Há muitos vídeos explicativos e você acaba entendendo mais a matéria. Ainda gosto do livro tradicional, mas prefiro o tablet como material”, diz. O estudante cita outra vantagem: a praticidade. “Como eu estudo muita coisa, não tem como eu levar tudo. Eu só carrego na mochila o tablet e outro livro do cursinho do vestibular.”

Na escola dos dois, o princípio básico para inserir o produto nas salas de aula foi transformar o livro didático tradicional em formato digital: “O que houve foi um acréscimo, uma substituição qualitativa. Acrescentamos interatividade para promover situações em que o aluno tenha uma ação direta com o material, vídeos, animações e slide show. Tudo com o intuito de ampliar o processo educativo”, afirma Eli Guimarães, professor de português e redação e coordenador do projeto responsável pela utilização dos tablets na sala de aula.

Guimarães afirma que o principal benefício da utilização foi o olhar mais cuidadoso e pró-ativo do aluno: “No tablet, existem filmes, artigos e sites. O retorno para indicações do professor é muito maior. Eles sempre falam que compraram o livro que foi sugerido ou assistiram ao filme. Existe uma curiosidade maior com as sugestões dos professores”, conta. “Quando estamos estudando um texto narrativo, o professor chama a atenção dos alunos para o ambiente. Ele pode mostrar um vídeo com o cenário representado”, exemplifica o professor.

Novos conteúdos O processo descrito por Guimarães é cada vez mais comum em salas de aula do mundo todo. Desde o lançamento do iPad, os tablets têm capturado a atenção de professores e alunos. Criado pela Apple, o iTunes U se torna um espaço cada vez mais procurado para acessar vídeos, palestras e outros conteúdos educativos. Universidades e governos disponibilizam ali cursos e aulas que podem ser acessados remotamente, a qualquer hora.

Outro aplicativo oferecido pela Apple, o iBooks Author também chama a atenção de muitos professores por permitir a criação de conteúdos multimídia. Além disso, aplicativos do sistema operacional Android, como o Wikidroid e o AP Today in History, oferecem suporte e um visual mais acessível para fazer pesquisas e entrar em discussões na sala de aula.

Todo esse arsenal pode tornar o ensino muito mais atraente, mas traz um exigência sempre lembrada por especialistas quando o assunto é a junção da educação com a tecnologia: os professores devem estar preparados para usar as novas ferramentas. Caso contrário, o tablet pode virar só um enfeite, sem fazer uma real diferença pedagógica.

“Optamos por não trazer simplesmente o dispositivo para a sala de aula, mas promover a formação intensa com o professor para que ele seja capaz de traduzir a utilização do tablet em melhoria de aprendizagem”, afirma Nilton Mariano, coordenador pedagógico de outro colégio de Brasília adepto da novidade desde 2011. A escola, porém, faz a adoção aos poucos. “Nós começamos com a construção de um espaço chamado de sala interativa, formada por equipamentos de tecnologia. O segundo passo foi inserir o tablet em apenas uma turma do 1º ano do ensino médio”, conta.

Para perceber o impacto da tecnologia, o colégio está comparando os resultados da turma-piloto com o de outra que não utiliza os tablets. “A nossa intenção é construir uma aula dinâmica com todos os recursos que a web e os dispositivos móveis podem oferecer.”

Professores envolvidos no processo já conseguem apontar algumas vantagens da tecnologia. “Teve uma aula em que estudamos a formação genética e alterações cromossômicas. Os alunos iniciaram a aula procurando as características de portadores de síndromes comuns. E começaram a desenvolver o conteúdo antes da explicação”, lembra o professor Lúcio Bravin, de biologia. “A gente capacita o aluno a ter maturidade e a entender que ele tem uma tarefa a realizar. Depois disso o aluno pode ter uma liberdade para verificar filmes, complementos que vão agregar ao conteúdo”, completa.