Título: Alckmin tenta se reaproximar de Serra
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Fonte: Correio Braziliense, 08/01/2013, Política, p. 4

De olho na campanha pela reeleição em 2014, o governador de SP ensaia alguns movimentos para ter o ex-ministro da Saúde ao seu lado. Mas desmente convite para integrar secretariado

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, quer levar José Serra para o seu secretariado. Embora tenha negado ontem, por meio da assessoria, que tenha convidado o candidato derrotado à prefeitura paulistana para a pasta estadual da Saúde, o tucano sabe que precisa do desafeto político ao seu lado se quiser aumentar as chances de se reeleger em 2014. Com base em avaliações políticas e conversas com aliados, Alckmin percebeu que manter o PSDB rachado entre serristas e alckimistas só ajuda os adversários do PT, que sonham ocupar o Palácio dos Bandeirantes (veja reportagem nesta página). O primeiro movimento de reaproximação com o time de Serra foi o convite feito ao deputado estadual Edson Aparecido para assumir a chefia da Casa Civil do governo paulista. Aparecido foi coordenador da campanha de Serra à prefeitura de São Paulo no ano passado, quando o tucano foi derrotado pelo petista Fernando Haddad. Segundo apurou o Correio, além de unificar as duas pontas da legenda, Aparecido também pode ajudar no diálogo com outros partidos.

Integrantes do secretariado paulista reconhecem que a base de apoio de Alckmin está dispersa, o que pode minar a força do governador em seu último biênio de mandato. Se quiser ter alguma chance de reeleição, Alckmin precisa reaglutinar as forças políticas que ainda resistem em aderir à órbita petista, caso dos diretórios estaduais de PDT, PR, PSB e PTB. "Os movimentos de Alckmin têm uma preocupação política versus tempo de televisão", admitiu um tucano do primeiro escalão estadual. As quatro legendas integram, no plano federal, a base de apoio da presidente Dilma. Na capital paulistana, contudo, se alinharam ao PSDB. Pedetistas e petebistas aderiram apenas no segundo turno, recusando-se a apoiar Haddad. Para um tucano serrista, não é possível desprezar um candidato que teve 45% dos votos no segundo turno da disputa municipal paulistana e que perdeu a eleição para Fernando Haddad por uma diferença de pouco mais de 300 mil votos. Mas entende o receio de Alckmin em admitir publicamente um convite para que Serra integre seu governo. "Serra foi duas vezes candidato a presidente. Foi governador e prefeito de São Paulo. Alckmin só vai confirmar a oferta se tiver certeza de que ela será aceita, algo que ainda não tem", admitiu o aliado do ex-prefeito.

Um expert nas manias de Serra brinca que essa certeza poderá vir muito tardiamente. "Do jeito que ele é, se tiver uma posse marcada para as 15 horas, é bem capaz que confirme o convite para assumir o cargo às 14h30", completou o aliado. O recall serrista não desmente a piada. Serra deixou para a última hora a confirmação de que seria candidato a presidente em 2010 e à prefeitura em 2012.

Uma possível troca no comando da Secretaria de Saúde não seria traumática do ponto de vista político. O atual titular do cargo é o médico Giovanni Guido Cerri, médico radiologista e professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Está na cota dos notáveis que integram o secretariado paulista, sem ter qualquer amarra partidária. Caso se confirme a indicação, essa não seria a primeira vez que Serra — considerado morto politicamente após a derrota para o candidato de Lula à prefeitura paulistana — seria ressuscitado pelo seus colegas de partido. Apesar das várias derrotas que coleciona nas urnas, Serra sempre foi chamado de volta pelos tucanos para disputar cargos de visibilidade. Isso aconteceu, por exemplo, em 2004. Após perder a eleição presidencial para Lula, foi convocado para disputar a prefeitura de São Paulo.

Síndico e porteiro Em 2010, novamente rejeitado pelas urnas na disputa presidencial, mergulhou em um período sabático, mas se viu impelido pelo partido — especialmente por Geraldo Alckmin — a concorrer à prefeitura de São Paulo. O PSDB, à época, queria fazer uma prévia para escolher um novo nome para testar nas urnas. As opções eram o secretário de Minas e Energia, José Aníbal; de Comunicação, Andrea Matarazzo; de Meio Ambiente, Bruno Covas; e o deputado federal Ricardo Trípoli. Ao perceber que o PSD de Gilberto Kassab apoiaria Haddad, o PSDB entrou em pânico e Serra assumiu a candidatura.

Para outros integrantes do PSDB, porém, é arriscado trazer novamente Serra para a ribalta política. "É ruim para o Serra, porque é como se um síndico virasse porteiro. E, para Alckmim, também é um tiro no pé. O governo dele é cobrado para ter renovação e ele responde com o Serra?", ironizou o tucano. Ele lembra que o eleitorado paulistano mostrou, nas últimas eleições, ao eleger Haddad, que quer políticos novos, renovação.

Serra, contudo, não parece convencido a abrir caminho para caras novas. E deixou isso claro no primeiro discurso após a derrota para a prefeitura paulistana: "Esse contato (com o eleitorado) renovou a minha energia, a minha disposição e as minhas ideias a respeito da cidade e a respeito do Brasil".