Correio braziliense, n. 20869 , 13/07/2020. Brasil, p.4

 

Mais de 72 mil mortes por covid em 4 meses

Bruna Lima

Maíra Nunes

13/07/2020

 

 

CORONA VÍRUS » Dez unidades federativas, que antes conseguiram segurar a explosão de casos, agora registram menor adesão à quarentena e veem média de mortes aumentar. Com mais 24.831 infectados, Brasil totaliza 1.864.681 confirmações

O Brasil completou, ontem, quatro meses desde a primeira morte por covid-19. De lá para cá, foram 72.100 vidas perdidas; 631 registradas nas últimas 24 horas. Com mais 24.831 casos, totalizando 1.864.681 infectados no país, preocupa, também, o forte avanço do novo coronavírus pelo Centro-Sul brasileiro, que, em geral, não consegue manter taxas de isolamento acima de 50%. Apesar das dificuldades cada vez mais acentuadas em conseguir adesão às medidas de distanciamento, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reafirma que essa é a ação central para evitar o crescimento descontrolado da taxa de contágio do vírus, já que não existe tratamento específico ou vacina contra o causador.

Um estudo feito pela Rede CoVida, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontou que o distanciamento social foi responsável por salvar milhões de vidas nos 26 estados e no Distrito Federal. A conclusão é baseada na análise da dinâmica de transmissão da covid nesses lugares e nos efeitos de 547 decretos de governos estaduais relativos ao distanciamento social. A pesquisa, porém, também aponta que todas essas medidas ainda não foram suficientes para frear o avanço da pandemia no Brasil.

O que se observa no país é um abandono das ações que regulam o distanciamento social, como revelam as recentes taxas de isolamento. Das dez unidades federativas em que a média de mortes por covid-19 está crescendo, Santa Catarina foi a que alcançou o índice mais alto de distanciamento. O estado chegou a registrar 72,8% em 22 de março. No primeiro domingo de abril, a taxa caiu para 60,5% e, desde o início de maio, o índice mais alto obtido foi de 53%.

 A média de mortes também apresenta aumento no Distrito Federal, em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Tocantins e Rio Grande do Sul. No estado gaúcho, o pico do isolamento social esteve entre os mais altos do país, com 69,5% em 22 de março. No primeiro domingo deste mês, o isolamento social caiu para 57,9%. Ainda assim, está entre os estados melhor ranqueados nesse critério. No último sábado, registrou 46,65%, atrás, apenas, do Piauí, com 48,59%.

Estados que, antes, conseguiram segurar a explosão de casos no território, atualmente observam uma inversão de necessidades: é justamente no período em que a doença se encontra mais disseminada e com capacidade de causar mais estragos que há menor adesão às medidas de isolamento. Em Goiás, por exemplo, o time de especialistas da Universidade Federal de Goiás sugeriu um lockdown intermitente até setembro. A taxa de isolamento no estado, porém, está abaixo de 40%, enquanto o crescimento de casos de covid segue em ritmo acelerado, com 36.244 infecções e 849 mortes.

Para o pesquisador José Alexandre Diniz Filho, professor do Departamento de Ecologia da UFG e um dos responsáveis pela proposta ao estado, essa desistência em Goiás se dá por um conjunto de fatores. A configuração econômica-social do Brasil faz parte desta dificuldade em se manter uma quarentena por períodos prolongados, destaca Diniz. “Para completar tudo isso, temos, também, uma falta de confiança da população no governo de modo geral e, para piorar, há o problema do negacionismo do Governo Federal desde o início da pandemia, que já discutimos bastante e que tem um enorme impacto em termos de criar confusão na população, que termina sem saber como reagir à pandemia”, detalha o especialista em análise publicada nas redes sociais.

Estados

Mais da metade das unidades federativas já atingiu a marca de mil mortes, cada, e não há nenhuma com menos de 100 óbitos. São Paulo lidera os números brasileiros, com 371.997 casos e 17.848 mortes. Os outros 14 estados com mais de mil mortes são: Rio de Janeiro (11.415), Ceará (6.868), Pernambuco (5.595), Pará (5.289), Amazonas (3.039), Maranhão (2.463), Bahia (2.483), Espírito Santo (2.003), Minas Gerais (1.576), Rio Grande do Norte (1.394), Paraíba (1.284), Alagoas (1.281), Mato Grosso (1.047) e Paraná (1.045).

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Médica pede desculpas

Bruna Lima

13/07/2020

 

 

O futuro da médica Nise Yamaguchi como membro da equipe do Hospital Israelita Albert Einstein começa a ser decidido hoje. A direção não descarta a possibilidade de demitir a oncologista que há 30 anos trabalha na instituição. O motivo: uma declaração na qual compara o medo instaurado diante da pandemia de covid-19 ao controle exercido sobre “aquela massa de rebanho de judeus famintos”. Enquanto comunidades judaicas rechaçaram a fala, a médica defendeu-se do que chamou de “interpretações errôneas”.

 Nise emitiu uma nota por meio de sua assessoria jurídica, ontem, alegando não ter tido a intenção de ofender a comunidade judaica, reforçando a crença de que o descompasso com o hospital tem como pano de fundo o posicionamento quanto ao uso da hidroxicloroquina no tratamento de covid-19. “Suas palavras, objeto de interpretações não condizentes com suas convicções, foram manifestadas no intuito de expressar a maior dor que ela conhece”, explica, finalizando com um pedido de desculpas “por expressões outras e interpretações errôneas sobre assuntos sensíveis ao grande sofrimento judaico que envolveram seu nome, pois é solidária à dor dessa ilustre comunidade como a maior das atrocidades de nossa história ocidental.”

“Declarações deploráveis”

A Confederação Israelita do Brasil divulgou, ontem, uma nota conjunta com a Federação Israelita do Estado São Paulo em repúdio. “São deploráveis as declarações da médica Nise Yamaguchi comparando a tragédia do Holocausto, que causou a morte de 6 milhões de judeus inocentes, além de outras minorias, com a atual pandemia do coronavírus”, criticam as entidades. Segundo a avaliação dos representantes, comparações como essa “minimizam os horrores do nazismo e ofendem a memória das vítimas, dos sobreviventes e de suas famílias.”

Na nota, a assessoria jurídica da médica agradeceu às “inúmeras manifestações de apoio e solidariedade de todos aqueles que compreendem a importância da discussão da hidroxicloroquina em tratamento precoce da covid-19”. O Einstein reiterou, porém, que a avaliação ética pela qual Yamaguchi será submetida nada tem a ver com o uso do medicamento.

Frase

"(A médica) manifesta o pedido de desculpas por expressões outras e interpretações errôneas sobre assuntos sensíveis ao grande sofrimento judaico que envolveram seu nome, pois é solidária à dor dessa ilustre comunidade”

Nise Yamaguchi, oncologista e imunologista