Título: Quadro é o pior em 12 anos
Autor: Furbino , Zulmira
Fonte: Correio Braziliense, 08/01/2013, Economia, p. 10

Os reservatórios de energia das usinas brasileiras estão em seu nível mais crítico dos últimos 12 anos, informou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Na média, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da capacidade de armazenamento de energia do país, detinham 28,52% de volume útil em 2000, ano imediatamente anterior ao racionamento. Hoje, contam com 28,86%, apenas 0,34 ponto percentual a mais, situação que pôs o governo em estado de pânico.

Nas principais usinas hidrelétricas localizadas em Minas Gerais, a situação verificada é a pior para o mês de dezembro desde 2000. Um retrato do problema pode ser colhido em Furnas —1.216 megawatts (MW) —, onde o volume armazenado estava em 12,35% em dezembro de 2012, menor do que os 19,06% apurados no mesmo mês há 12 anos.

Os dados do ONS também mostram que na hidrelétrica de Marimbondo (1.140 MW) o nível de água era de 21,61% em dezembro de 2000 e de 16,13% no mês passado. Na usina de Itumbiara, o volume de dezembro de 2012 era de 10,01% ante 22,45% em igual mês de 2000. Em São Simão, a capacidade armazenada era de 51,55% há 12 anos e agora é de 28,51%. Entre as principais hidrelétricas do estado, somente Emborcação e Nova Ponte estão em situação melhor na comparação entre os dois períodos.

Todas as usinas termelétricas do país — a gás, a óleo combustível, a óleo diesel e a carvão —, estão ligadas desde dezembro e isso deveria garantir o nível de água nos reservatórios, mas não é o que vem ocorrendo. Para Cláudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil, isso significa que a munição de que o país dispõe para enfrentar essa situação adversa já está sendo gasta. “O nível de água nos lagos das usinas está caindo apesar de as térmicas terem sido acionadas. A única região onde a água acumulada aumentou é o Norte, que responde por apenas 5% da capacidade de armazenamento do Brasil”, disse Salles. A expectativa de um possível racionamento de energia já fez o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) do mercado livre de energia, voltado para os grandes consumidores, subir 60% da semana passada para cá, chegando a R$ 554.

“Risco de racionamento sempre tem, mas se chover a situação pode se regularizar”, explicou Walter Froes, diretor da CMU Comercializadora de Energia. Ele reconheceu, no entanto, que hoje o Brasil vive uma das piores situações hidrológicas para o mês de janeiro.

Apesar do quadro dramático, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, assegurou que não existe chance de racionamento nem de desabastecimento de energia no Brasil. “Não há nenhuma possibilidade de racionamento, nenhuma possibilidade de desabastecimento”, frisou. Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff disse que o risco de falta de energia no Brasil era “ridículo”.

Sem muita opção As alternativas, porém, terão custo elevado, com impacto nas tarifas. “Mesmo se as chuvas retornarem ao nível normal no primeiro trimestre, que é o período mais úmido do ano, o país dependerá de um uso mais intensivo da energia térmica, de custo mais elevado, para garantir o abastecimento. Isso é certeza", afirmou Flávio Neiva, presidente da Associação Brasileira de Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage). Para ele, o uso das usinas térmicas poderá voltar ao mínimo a partir de abril, se São Pedro ajudar com as chuvas. “O corte de 20,2% nas contas de luz prometido pela presidente Dilma Rousseff já está sendo atrapalhado pelo uso das térmicas”, disse.

Para Cláudio Salles, se não chover, o governo poderá acionar novamente a usina térmica de Uruguaiana, que depende do fornecimento de gás da Argentina e está parada há anos. Outra alternativa seria usar usinas térmicas emergenciais, como ocorreu no racionamento em 2001. O preço da medida foi pago pelo consumidor durante três anos. Do lado do consumo, a solução seria, em primeiro lugar, incentivar a população a diminuir o uso do insumo. A outra saída seria o racionamento.