Correio braziliense, n. 20871 , 15/07/2020. Política, p.3

 

Centrão quer saída de Pazuello

Maíra Nunes

15/07/2020

 

 

Bloco parlamentar pretende colocar no Ministério da Saúde o deputado Osmar Terra, que há tempos vem buscando a nomeação. Congresso convida ministro interino para dar explicações sobre ações da pasta de combate à pandemia

O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, já vinha sendo pressionado pela ala militar do Palácio do Planalto a entrar para a reserva, como forma de amenizar as críticas pela grande quantidade de militares em cargos estratégicos do governo Bolsonaro. Nesta semana, ele virou alvo, também, do Centrão. O bloco parlamentar — ao qual o chefe do Executivo vem recorrendo para formar a base política no Congresso — quer aproveitar esse movimento para indicar o substituto do general, que comanda a pasta interinamente desde 15 de maio, após saída de Nelson Teich.

O mais cotado pelo Centrão é o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). Médico, ele foi ministro da Cidadania no governo Bolsonaro e mantém presença frequente na agenda do presidente e do chefe da Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos. A provável saída de Pazuello da pasta ganhou força após o comandante do Planalto afirmar, na semana passada, que o ministro interino “é um nome que não vai ficar para sempre” e que ele “já deu uma excelente contribuição para nós”.

A pressão aumentou com as críticas do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), à participação de militares no Ministério da Saúde. Ele disse que o Exército se associou a um “genocídio”, em alusão à gestão do governo federal no combate à pandemia da covid-19.

Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão se posicionou contra a troca do comando do Ministério da Saúde. “Não acho que é o momento, agora. Espera a pandemia arrefecer, aí, troca”, disse em entrevista à CNN Brasil.

A defesa de Mourão pela permanência de Pazuello ocorreu no mesmo dia em que a comissão mista do Congresso que fiscaliza as ações do governo de combate à pandemia decidiu convidar o ministro interino a explicar a logística de distribuição de testes, medicamentos e kits usados para intubação de pacientes da doença nos estados. A audiência ainda não tem data marcada.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), demitido em 16 de abril por discordâncias com Bolsonaro, também criticou a militarização da pasta. “É como se você colocasse a condução do Ministério da Saúde, no momento de maior risco da história do país, nas mãos dos jogadores de futebol, nas mãos dos físicos nucleares”, disse à Deutsche Welle Brasil.