Correio braziliense, n. 20871 , 15/07/2020. Cidades, p.21

 

Bares e restaurantes abrem hoje

Alan Rios

15/07/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Empresários afirmam estarem preparados, atendendo a todas as medidas do GDF, para receber clientes nos estabelecimentos, após 116 dias fechados. No entanto, há aqueles que preferem esperar um pouco mais antes de retomar as atividades de forma presencial

A população do Distrito Federal pode voltar a frequentar bares, restaurantes, lanchonetes e lojas de conveniências a partir de hoje. Os estabelecimentos fecharam por 116 dias, após o Decreto n°40.539, de 19 de março, como medida de combate ao novo coronavírus. Durante as últimas semanas, empresários conviveram com a incerteza do retorno, pois uma ação popular na Justiça barrou a retomada de algumas atividades comerciais, na última quarta-feira, mas o Governo do Distrito Federal (GDF) recorreu e ganhou o embate judicial um dia depois. Em Ceilândia e Sol Nascente/Pôr do Sol, porém, apenas serviços considerados essenciais — como padarias e farmácias — estão autorizados a funcionar, sendo que a bares e restaurantes está permitido operar somente com entregas e retiradas. O governador Ibaneis Rocha (MDB) declarou, na véspera da reabertura, que pode voltar atrás e decretar novos fechamentos, caso seja necessário impor medidas mais rígidas de isolamento.

Dessa forma, os estabelecimentos precisam redobrar os cuidados e se ajustar às medidas impostas pela crise sanitária para funcionar. É o caso do Gentil Café, da Asa Sul, que firmou uma parceria com o aplicativo e-Bill, para que os clientes baixem o programa pelo QR Code fixado nas mesas, tenham acesso ao cardápio e possam fazer os pedidos pelo próprio celular. “Vamos seguir rigorosamente as recomendações da Vigilância Sanitária, com distanciamento de dois metros por mesa, aferição de temperatura dos empregados, troca de máscaras a cada três horas, capachos com solução desinfectante, suspensão de eventos, entre outras recomendações. É uma mudança de cultura em prol da saúde de todos e estamos confiantes que vai dar certo”, detalha a sócia Patrícia Gentil. Essas são algumas das regras de funcionamento impostas pelo GDF para o funcionamento legal.

O Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista) divulgou que as suspensões de atividades econômicas em medidas de combate à pandemia resultou na perda de pelo menos 85 mil empregos no DF. Os shoppings, que comemoram hoje a reabertura das praças de alimentação, tiveram queda de 80% nas vendas durante a quarentena. Mas, o vice-presidente do Sindivarejista, Sebastião Abritta, lembra que a preocupação pelo lucro deve vir em segundo plano neste momento. “A prioridade agora é salvar vidas. Não adianta salvar CNPJ e esquecer o CPF. Então, essa retomada de hoje deve vir com muita responsabilidade. Para isso, precisamos da consciência da sociedade e dos empresários, que devem cumprir as medidas impostas pelo governo, evitar aglomerações e não sair de casa com sintomas”, alerta Sebastião Abritta. Ele lembra, ainda, que uma volta de atividades de qualquer forma pode levar a outro fechamento.

 Precaução

O restaurante Nakombi priorizou a calma antes de abrir as portas. O empreendimento especializado em gastronomia japonesa recebeu vários pedidos de reservas na última semana, mas abriu mão do atendimento aos clientes no primeiro dia de liberação. “Não abriremos hoje, vamos voltar somente amanhã. Isso porque vamos descobrindo como estará o comportamento das pessoas e nos adaptando ao novo contexto”, avalia a chef Catarina Freire. Ela acredita que o ato de servir alguém é cercado de muitas responsabilidades, e os estabelecimentos precisam refletir sobre isso. “Restaurante é um lugar de vínculos, de socialização. Por isso, queremos propiciar um espaço agradável e seguro, com as recomendações necessárias. Entre as mudanças, estão o número de mesas, que antes atendíamos 110 pessoas e agora vamos atender somente 45, e o nosso kit de rodízio individual, um zip lock que vem com álcool em gel, hashi, molhos, guardanapos, lápis individual e comanda de pedidos descartável”, conta.

Nos bares, devido aos ambientes proporcionarem um contato mais próximo entre as pessoas, empreendedores estão em alerta. Dudu Camargo, chef do Dudu Bar, na Asa Sul, encerrou as atividades do ponto do Lago Sul, que funcionava há seis anos, mas diz que a ordem do retorno é a precaução. “Falo, há mais de três meses, que não quero abrir de cara, assim que possível, e planejo voltar somente no dia 1º de setembro. A gente vê vários locais pelo Brasil que estão abrindo e logo fecham de novo, isso quebra o empresário”, lamenta.

Regras

Higienização das cadeiras e mesas de uso coletivo regularmente;

Disposição das mesas a uma distância de dois metros uma das outras, a contar das cadeiras que servem cada mesa;

Limite de 6 pessoas por mesa;

Funcionamento com 50% da capacidade autorizada em alvará regularmente expedido;

Proibida a apresentação de qualquer espetáculo musical ou show ao vivo;

Privilegiar a ventilação natural do ambiente. No caso do uso de ar-condicionado, realizar manutenção e limpeza dos filtros diariamente;

Cobrir a máquina de cartão com filme plástico, para facilitar a higienização após o uso. Se possível, instalar uma barreira de acrílico no caixa;

Dispor de protetor salivar eficiente nos serviços ou refeitórios com sistema de bufê;

Higienizar cardápios após a manipulação pelo cliente (os cardápios deverão ser revestidos de material que possibilite a higienização, ou expostos em lousas, ou aplicativos eletrônicos que possam ser acessados, por meio de QR Code no celular);

Implementar medidas de controle de acesso para evitar grande fluxo e aglomeração de pessoas;

Evitar que os clientes realizem o autoatendimento para se servir, designando um funcionário devidamente paramentado para realizar o porcionamento do alimento no prato ou marmita;

Disponibilizar luvas descartáveis de plástico ou, se não for possível, guardanapos de papel na entrada do bufê, para que os clientes se sirvam;

Promover a organização das filas;

Evitar uso compartilhado de embalagens de condimentos, priorizando uso de sachês individuais. Caso são seja possível, higienizar com frequência os frascos/embalagens compartilhados;

Colaboradores devem vestir uniforme somente no local de trabalho. Uniformes, equipamentos de proteção e máscaras não devem ser compartilhados;

Não dispor de itens para uso coletivo como cafezinho e outros itens de degustação de uso comum;

Substituir o uso de guardanapos de tecido por papel descartável;

Não dispor talheres e pratos nas mesas antes da chegada do cliente;

Evitar abrir latas e garrafas que possam ser abertas pelo próprio cliente, priorizando e orientando que sirvam as próprias bebidas no copo a ser utilizado.

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Conselho é contra liberações

15/07/2020

 

 

O Conselho de Saúde do Distrito Federal aprovou, ontem, uma resolução contra a liberação total de atividades e do comércio no DF. O documento pede que o GDF mude a política de combate ao novo coronavírus e priorize a elaboração de estratégias de vigilância sanitária contra a covid-19. O assunto estava em discussão há meses e os conselheiros decidiram, por unanimidade, manifestar oposição à política estabelecida atualmente pelo Executivo local.

De acordo com o conselheiro, membro do Comitê de Acompanhamento da covid-19 e relator da proposta, Rubens Bias, o governo está agindo de forma precipitada. “O governador vem agindo de maneira errática. Ele encaminha essa abertura, justamente, no momento em que Brasília se aproxima de mil mortos”, disse. “Não é comum que o Conselho de Saúde emita resoluções, mas, diante da gravidade do momento que a gente está vivendo, os conselheiros acharam necessário”, completou Bias.

O documento, a que o Correio teve acesso, diz que o Conselho de Saúde “manifesta oposição à liberação total de atividades no DF, anunciado em 2 de julho de 2020, especialmente quanto à retomada das atividades escolares, até que ocorra o real declínio do patamar de casos e óbitos por covid-19 no Distrito Federal”. E determina ao GDF “estabelecer a imediata mudança no foco do manejo da pandemia, priorizando ações estratégicas de vigilância epidemiológica voltadas à busca ativa e precoce de casos, interrompendo precocemente a cadeia de transmissibilidade do vírus”.

Em entrevista coletiva, na tarde de ontem, o secretário de Saúde, Francisco Araújo, disse que a secretaria respeita todas as decisões de órgãos de controle. “Do iniício ao fim da pandemia, nosso trabalho será baseado em dados e focados em cuidar da vida das pessoas. Temos cumprido nossas obrigações diárias.”