Título: Disputas do PMDB preocupam Dilma
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 15/01/2013, Política, p. 4

Briga pela liderança do partido na Câmara e denúncia contra o candidato da legenda ao comando da Casa levam presidente a convocar caciques peemedebistas

O racha no PMDB decorrente da disputa de Eduardo Cunha (RJ), Sandro Mabel (GO) e Osmar Terra (RS) pela liderança do partido na Câmara, somado ao bombardeio sofrido pelo candidato do partido à presidência da Casa, Henrique Eduardo Alves (RN), levou ontem a presidente Dilma Rousseff a marcar uma conversa, separadamente, com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e o vice-presidente Michel Temer. Dilma aproveitou a presença dos dois caciques e indagou, diretamente: “Como andam as sucessões na Câmara e no Senado?”.

Tanto Temer quanto Sarney tentaram acalmar a presidente e disseram que as coisas caminhavam bem, mas a verdade é que há turbulências, e os dois caciques se reuniram-se no fim da tarde para avaliar o quadro. A análise é de que as denúncias veiculadas no fim de semana apontando irregularidades de Henrique Eduardo Alves no uso das emendas parlamentares e de recursos do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) surgiram porque o peemedebista empenhou-se na candidatura à presidência e esqueceu de acertar a própria sucessão na liderança da bancada. “Ele viu a casca de banana e mesmo assim caminhou em direção à ela”, disse um interlocutor do partido. “Henrique sabia que seria candidato há muito tempo. Poderia ter negociado o sucessor e evitado essa confusão”, criticou outro aliado. Partidários de Eduardo Cunha reclamam que Henrique Alves o abandonou no momento em que o deputado fluminense cogitou se lançar líder. “Você diz que é amigo e na hora que precisam você some? É claro que isso está errado”, disse um aliado do parlamentar do Rio.

Ausente da bancada, mas acompanhando atentamente os desdobramentos da eleição interna, o vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, coloca mais lenha no debate. “Eu quero o melhor para o PMDB, por isso apoio o Henrique Eduardo Alves. Mas não sou de fogo amigo. Quando quero atacar uso artilharia direta e pública”, declarou ao Correio o ex-deputado do PMDB baiano.

Complicador O Planalto, contudo, ainda banca o apoio a Henrique. A eleição está muito próxima — será em 4 de fevereiro — e uma mudança brusca agora poderia provocar o surgimento de um novo Severino Cavalcanti (PP-PE), eleito presidente da Câmara em 2005 após um racha no PT. Além disso, na avaliação de interlocutores da presidente, não valeria a pena comprar uma briga e tornar o “PMDB indomável”. Especialmente porque os articuladores palacianos projetam um ano complicado com a manutenção de André Figueiredo (CE) na liderança do PDT — ele é mais ligado ao ex-ministro Carlos Lupi do que ao atual, Brizola Neto — e a escolha de Anthony Garotinho (RJ) para a liderança do PR.

A dúvida é quanto tempo Henrique ainda precisará sangrar. “Qualquer um que fosse candidato a presidente passaria por isso”, disse o ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP). Para Eduardo Cunha, o maior risco é a necessidade de se explicar constantemente. “Não vejo problemas para a candidatura do Henrique, mas para a imagem dele, sim”, declarou. O outro candidato à liderança do PMDB, Sandro Mabel (GO), afirmou que Henrique Alves tem muitos votos assegurados e acredita que a crise não o atingirá.

No Senado, para evitar a repetição do cenário da Câmara, José Sarney agiu como bombeiro. Seu grupo vai despejar todos os votos na eleição de Eunício Oliveira (PMDB-CE) para a liderança da bancada. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), que pretendia disputar o cargo, terá dois caminhos à disposição, como adiantou o Correio no fim do ano passado: a segunda vice-presidência do Senado ou a liderança do bloco da maioria, composto por PMDB-PP-PV.