O globo, n. 31631, 14/03/2020. Economia, p. 38

 

Guedes promete mais de 20 medidas contra crise do coronavírus

Marcello Corrêa

Manoel Ventura

Gabriel Shinohara

14/03/2020

 

 

Ministro avalia que é preciso dar resposta imediata, sem abrir mão de acelerar a tramitação da agenda de reformas

O governo encerrou a pior semanada Bolsa brasileira desde acrise de 2008 coma promessa de lançar um conjunto de 20 ações emergenciais para mitigar os efeitos do coronavírus na economia. Pela primeira vez desde que tomou posse, o ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a sexta-feira em Brasília reunido com assessores. Após uma série de declarações ao longo do dia sobre as alternativas disponíveis, coma expectativa de uma núncio do Banco Central (BC) e até a possibilidade de usar recursos do FGTS, nada foi apresentado oficialmente.

Na noite de quinta-feira, o governo apresentou suas primeiras iniciativas: cinco ações voltadas principalmente para idosos e para a área de saúde. Guedes chegou a informar, pela manhã, ontem, que o BC anunciaria ações "daqui a pouco" para garantir liquidez nos mercados, o que não ocorreu. — Soltamos ontem (quinta-feira) medidas, hoje (ontem) vamos soltar mais, segunda vamos soltar mais. A resposta à crise esta vindo.

BANCOS PÚBLICOS

O ministro não descartou ontem o uso de recursos do FGTS, dizendo que todas as alternativas estão na mesa. Na véspera, o secretário de Fazenda, Waldery Rodrigues, chegou a afirmar em entrevista coletiva que poderia haver um novo saque imediato de recursos, tal qual o de R$ 500 por conta anuncia dono ano passado. Pouco depois, o Ministério da Economia soltou nota desmentindo a hipótese. Guedes disse que serão mais de 20 ações emergenciais, a serem lançadas de acordo com demandas dos setores. A intenção do ministro é fazer análises sobre os principais setores da economia, e decidir como agirem cada um deles. Entre as medidas já decididas, está a criação de uma linha especial de crédito para empresas aéreas, um dos segmentos mais afetados pela crise, em razão da queda nas viagens, de acordo com uma fonte. As companhias terão até três meses para rolar financiamentos junto a bancos públicos, como o Banco do Brasil.

O uso da linha de crédito seria uma substituição à demanda inicial do setor, de desoneração de tributos, justamente por falta de espaço para abrir mão da arrecadação. A redução de impostos é defendida pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.

A ideia de Guedes é que as iniciativas respondam a demandas imediatas, mas insiste no esforço de acelerara tramitação das reformas no Congresso. Assim, seria possível atacar acrise em duas frentes: emergencial, e outra com foco em medidas estruturantes. A avaliação é que, se o sinal forde que as reformas vão parar por causada crise, o país perde credibilidade junto ao investidor. —Agora, estamos fazendo o programa de combate ao coronavírus, os bancos públicos estão nisso, estamos lançando o monitoramento acada 48 horas, vamos ter informação sobre todos os impactos na cadeia produtiva, estamos examinando a questão tributária. É uma série de medidas sérias,

profundas, que estamos examinando —disse o ministro a jornalistas, pela manhã, após se reunir com os presidentes do Banco do Brasil, Rubem Novaes, da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães.

META FISCAL EM DEBATE

Diante da crise fiscal, técnicos do Ministério da Economia buscam receitas para evitar um bloqueio no Orçamento na próxima semana a fim de destinar recursos a ações relacionadas ao Covid-19. Além disso, é importante manter investimentos públicos. As opções em estudo incluem o pagamento antecipado de R$ 10 bilhões em dividendos do BNDES, além da perspectiva de contar com R$ 21

bilhões em recursos não sacados do PIS e do Pasep. O dinheiro foi liberado no ano passado a todos os cotistas, mas a maioria não sacou. O recurso poderia entrar para o governo em parcelas, e não todo de uma só vez. Na entrevista, o ministro citou outros R$ 30 bilhões que poderiam ser recolhidos de outros fundos, sem detalhar. Outra alternativa em análise é até mesmo aumentar o déficit das contas públicas este ano. A meta é um rombo de R$ 124,1 bilhões. Para alterar o número, é preciso enviar projeto ao Congresso. O novo valor ainda é discutido no ministério. Guedes resiste a mexer na meta.