Correio braziliense, n. 20872 , 16/07/2020. Brasil, p.10

 

País em acordo mundial de vacina

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

16/07/2020

 

 

Na busca de uma resposta concreta à população em relação ao combate do novo coronavírus, o governo brasileiro manifestou ontem o interesse em participar do programa de cooperação Covax Facility — co-liderado pela Aliança Global para Vacinas e Imunização (GAVI, em inglês), Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI) e Organização Mundial da Saúde (OMS) —, que tem como objetivo acelerar a fabricação de vacinas contra a covid-19 e garantir o acesso igualitário do imunizante.

Ao todo, 75 países manifestaram interesse em aderir ao mecanismo, ofertando, para isso, financiamento dos próprios orçamentos públicos. Esse grupo ajudará, ainda, até 90 nações de baixa renda que compõem outra linha de cooperação, chamada Covax Advance Market Commitment (AMC). Segundo detalhou a OMS, esses 165 países representam mais de 60% da população do mundo.

A iniciativa diante da pandemia tem como vantagem a garantia de que o país receberá a imunização capaz de atender ao percentual da população que mais necessita da proteção, como trabalhadores da saúde e comunidades mais vulneráveis.

“Por meio do Covax, nossa aspiração é poder vacinar os 20% mais vulneráveis da população de todos os países que participam, independentemente do nível de renda, até o final de 2021. Garantir acesso justo não é apenas uma questão de equidade; é a maneira mais rápida de acabar com esta pandemia”, disse Richard Hatchett, CEO da CEPI.

Ontem, em coletiva de imprensa, o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia, ressaltou, sem dar mais detalhes do interesse brasileiro, que o governo federal está por dentro das movimentações de diversas vacinas feitas no mundo todo. “Este ministério, através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE) está atento a todas as movimentações de todas as vacinas que estão em diversas fases de experimentação, de produção e de aprovação no mundo inteiro. Esse governo está atento e está dando o seu melhor para o combate à pandemia”, afirmou Correia. Ele não detalhou, no entanto, qual seria a contribuição brasileira no Covax.

Estoque

Para garantir 2 bilhões de doses até 2021, a Aliança Global para Vacinas e Imunização, da qual o Brasil participa desde 2018, planeja um investimento de US$ 18 bilhões, de forma a encerrar a pior fase da pandemia. As vacinas serão entregues igualmente a todos os países participantes. A parceria prevê doses adicionais para países mais vulneráveis e mais atingidos pela covid-19, além de um estoque emergencial para casos de surtos.

Em junho, o mecanismo começou a levantar um fundo para financiar fabricantes na produção de vacinas em quantidade suficiente para ofertar aos países em desenvolvimento. Das nove vacinas apoiadas pela CEPI, sete já estão em fase de ensaios clínicos.

Representante da OMS nas Américas, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) organiza a participação dos países da região. “Precisamos trabalhar, agora, para fortalecer a capacidade que nos permitirá alcançar comunidades vulneráveis quando encontrarmos uma vacina bem-sucedida. Caso contrário, pode levar anos para que as pessoas sejam vacinadas e não podemos permitir esse atraso”, alertou a diretora da entidade, Carissa Etienne.

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Covid avança sobre 97% dos municípios

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

16/07/2020

 

 

Perto de bater a marca de 2 milhões de infectados, país tem só 142 cidades sem casos da doença. Enquanto vê o Brasil passar de 75 mil mortes, Ministério da Saúde afirma que nação é um “grande exemplo” no combate à pandemia

Há mais de um mês, o Brasil estacionou a atualização de mortes por covid-19, o que não é nem de longe uma boa notícia. Com acréscimos diários batendo a casa de mil vidas perdidas, o país lidera o ranking mundial de novas fatalidades. Ontem foram confirmadas mais 1.233 mortes. Ao todo, 75.366 brasileiros perderam a luta para a doença. A previsão é que o número de infectados ultrapasse, hoje, a barreira dos dois milhões. Enquanto isso, na avaliação do Ministério da Saúde, o governo mostra um “grande exemplo” no combate à pandemia.

 “Eu discordo literalmente e frontalmente que o nosso país é um dos piores exemplos do mundo no combate da doença. Isso não é verdade por vários motivos. O primeiro grande motivo é que, talvez, sejamos o país com o maior número de recuperados da doença”, disse, em entrevista coletiva, o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia, ao ser questionado se houve falha na luta contra o vírus. Atualmente, o Brasil soma 1.255.564 de pacientes recuperados da covid-19 (63,8% do total de infectados).

 A resposta de Correia não mencionou, porém, o número de mortes e de casos da doença e o secretário voltou a ser questionado. “Às vezes é uma opção, se você olha pelos dados de óbitos ou dados de vida. Se você prefere fazer relatos da tristeza e da dor de quem perdeu uma vida ou fazer um relato de quem lutou contra essa doença no serviço público de saúde e alcançou a sua recuperação. É sobre essa perspectiva que nós estamos falando”, justificou, frisando não existir omissão de dados.

 As afirmações foram feitas na coletiva que atualizou, ontem, o cenário epidemiológico da covid no Brasil, onde apenas 142 municípios, ou seja, 2,6%, não relataram infecções pelo novo coronavírus. A análise feita pelo Ministério da Saúde mostra que  97,4% dos municípios brasileiros (que são 5.570 ao todo) têm registros de pelo menos um caso. Já ao observar quais localidades tiveram perdas pela doença, o número chega a 3.056.

Na apresentação do fechamento da 28ª semana epidemiológica, o país se manteve em primeiro lugar no mundo com confirmação de atualização de mortes diárias. No número absoluto, no entanto, continua atrás dos Estados Unidos, que, com 136.466 fatalidades, têm quase o dobro de óbitos brasileiros. Com a explosão de novos casos norte-americanos, o Brasil não é mais o líder de novas confirmações de infeções. Na semana 28, o país fechou o acumulado dos sete dias com 262.846 casos, enquanto os EUA tiveram mais 408.142 registros. No total, o Brasil tem 1.966.748 confirmações. A expectativa é que, hoje, o número de infectados ultrapasse a marca de dois milhões. Para que isso aconteça, basta que o país confirme a média de registros diários de casos da última semana epidemiológica, ou seja, mais 37.549 infecções.

Estados

Na variação de casos entre as semanas epidemiológicas 27 e 28, houve redução em 10 estados, estabilização em oito e incremento em nove. Já em relação ao número de óbitos, em 12 unidades federativas houve uma diminuição. A estabilização foi vista em outras cinco unidades federativas, e houve aumento em 10 (veja arte). “Isso mostra, efetivamente, que a doença se comporta de forma absolutamente diferente em diversas regiões do nosso país, o que já era esperado, já que temos dimensões continentais e com muita influência nos períodos sazonais”, acrescentou o secretário da pasta de Saúde. 

Por região, o Ministério da Saúde observou redução de 9% dos casos e 20% dos óbitos no Norte, ao comparar as semanas 27 e 28. A correlação no Nordeste também foi de diminuição: 8%, nas infecções, e 4%, nas mortes. Na região Sudeste, enquanto houve aumento de 7% dos casos, houve redução de 3% das fatalidades. Houve incremento tanto em mortes quanto em casos no Sul: 36% e 8%, respectivamente. Por último, no Centro-Oeste, a elevação também foi observada, com incremento de 6%, nas infecções, e 26%, nas perdas.

 Atualmente, 19 estados registraram mais de mil mortes pela doença e, ontem, o Distrito Federal e o Piauí entraram para o grupo, contabilizando 1.001 e 1.019 fatalidades, respectivamente. São Paulo lidera o ranking brasileiro, com 18.640 óbitos e 393.176 confirmações do novo coronavírus. O Rio de Janeiro é o segundo, com 11.757 vítimas da doença.

 Em seguida estão: Ceará (7.030), Pernambuco (5.772), Pará (5.337), Amazonas (3.080), Bahia (2.638), Maranhão (2.572), Espírito Santo (2.097), Minas Gerais (1.752), Rio Grande do Norte (1.473), Paraíba (1.383), Alagoas (1.331), Paraná (1.200), Mato Grosso (1.174), Rio Grande do Sul (1.101) e Sergipe (1.054). No pé da tabela, somente cinco estados têm menos de 500 óbitos. São eles: Amapá (488), Acre (446), Roraima (403) e Tocantins (271) e Mato Grosso do Sul (183).