Correio braziliense, n. 20872 , 16/07/2020. Brasil, p.11

 

Quase mil mortos pela polícia

Renata Rios

16/07/2020

 

 

A Rede de Observatórios da Segurança divulgou, ontem,  o relatório Racismo, motor da violência, que monitora os registro policiais de cinco estados — Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo — e analisa mais de 12.500 registros de eventos relacionados à segurança pública e à violência. Dos números coletados, constatou-se que os mortos em operações policiais foi de 984 pessoas, sendo 483 no Rio de Janeiro, 260 na Bahia e 207 em São Paulo, no período entre 1º de junho de 2019 e 30 de maio passado.

Pelos dados obtidos ao longo de um ano, constatou-se que as ações de policiamento foram as mais numerosas, representando 56,2% do total. Foram 7.062 ações policiais monitoradas nos estados e, deste total, 2.772 no Rio de Janeiro; 2.210, em São Paulo; 1.015, na Bahia; 707, no Ceará; e 358, em Pernambuco.

O levantamento também reuniu dados sobre a violência contra a mulher, salientando que “ao longo de doze meses a Rede monitorou 1.314 violências contra mulheres, como feminicídios, agressões físicas e violência sexual”. Do total, 38,3% dos casos foram relativos à tentativa de assassinato ou agressão física, seguido por 33,7% dos casos registrados de feminicídio. “Boa parte deles ocorreu nos domicílios das vítimas e foi motivada por brigas e términos de relacionamento — uma evidência de o quanto o machismo reproduz a violência. Apesar do grande número de casos, são raras as informações sobre a raça/cor das vítimas”, complementa o estudo.

A atuação da imprensa também é criticada pelo relatório. “Um impressionante silêncio sobre o tema racial tem prevalecido na mídia e no debate público”, salienta o documento, alertando “o monitoramento resultou em 12.559 registros — dos quais apenas 50 relacionados ao racismo e à injúria racial”.

Foram reunidas informações a partir do acompanhamento diário de sites, portais noticiosos, jornais, perfis de redes sociais e grupos de WhatsApp. “Os pesquisadores esquadrinharam veículos jornalísticos e as redes sociais em busca de relatos sobre ocorrências relacionadas à segurança pública e à violência”, diz a publicação.