Título: Cubanos já podem viajar sem autorização
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 15/01/2013, Mundo, p. 17

Medida que libera cidadãos para deixar a ilha entra em vigor, mas oposição teme que governo de Raúl Castro selecione quem não precisará de visto de saída para ir ao exterior

Os cubanos fizeram fila para aproveitar a reforma migratória no país. Desde a meia noite de ontem (horário local), entrou em vigor a lei que permite, pela primeira vez em 50 anos, que cidadãos deixem a ilha sem autorização do governo. As restrições para sair do país entraram em vigor em 1961, em meio a tensões com os Estados Unidos, no auge da Guerra Fria. Ontem, o jornal oficial Granma informou que a nova regra “é mais um passo para fazer com que os movimentos migratórios ocorram de forma legal, ordenada e segura”.

As mudanças foram anunciadas em 16 de outubro e foram bem aceitas pelos cubanos. As filas em frente ao Departamento de Imigração de Havana começaram no domingo, de acordo com o jornal espanhol El País. Não foram registrados tumultos em frente à repartição pública responsável por receber os pedidos de passaportes.

A blogueira e opositora do governo Yoani Sánches foi uma das primeiras a solicitar o documento, no entanto, ela tem dúvidas sobre a nova lei. “Oscilo entre a esperança e o ceticismo, como tantos outros cubanos. A funcionária me assegurou de que poderei viajar. Mesmo assim, não consigo acreditar”, escreveu no Twitter. A jovem disse que já teve 20 vistos de saída negados e, em entrevista ao Correio, no último sábado, contou que já tem passagens para visitar o Brasil. Ela foi convidada pelo cineasta Dado Galvão para ir a Jequié (BA) em 26 de janeiro e assistir ao documentário Conexão Cuba-Honduras.

A líder do grupo Damas de Branco, Berta Soler, também teme que a reforma seja mera demagogia da gestão de Raúl Castro. Ela contou à agência de notícias France-Presse que gostaria de ir a Estrasburgo, na França, para receber o Prêmio Sakharov — concedido em 2005 ao grupo —, mas acredita que “a reforma migratória é mais do mesmo. Sempre vai existir um filtro, o governo cubano vai selecionar quem pode ou não sair do país”.

Apesar das incertezas, alguns cubanos pretendem aproveitar a mudança para tentar a sorte em outros países. Roberto Cortizas, contou ao El País que também deseja vir ao Brasil, onde seu irmão tem uma pequena empresa. “Poderei trabalhar com ele e enviar dinheiro para os meus pais”, falou. Outros, no entanto, não fazem planos de voltar à ilha caribenha. “Eu, aqui, nem de vista”, disse um jovem que não quis se identificar à publicação.