O globo, n. 31693, 15/05/2020. Especial Coronavírus, p. 13

 

Preparação para o ENEM 

Johanns Eller

Célia Costa

15/05/2020

 

 

O futuro de uma geração em debate

E se uma geração de novos profissionais fosse perdida? A indagação abre a peça publicitária do Ministério da Educação a respeito da abertura das inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), veiculada pela primeira vez no dia 4. A propaganda sustenta que a data da prova deve ser mantida a despeito da pandemia atual.

Para especialistas, a realidade é outra: a não postergação do exame, que ocorreria nos dias 1º e 8 de novembro na edição impressa e 22 e 29 de novembro na digital, pode custar o futuro de uma geração inteira de alunos de baixa renda, que não dispõem das mesmas ferramentas para manter os estudos.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), declarou ontem que conversou com o presidente Jair Bolsonaro sobre o assunto e, segundo ele, o presidente se mostrou “sensível” ao apelo pelo adiamento do exame. Na quarta-feira, Bolsonaro chegou a admitir a possibilidade, mas desde que a prova fosse aplicada neste ano.

Segundo o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, o ministro Abraham Weintraub reconheceu a possibilidade de adiamento em reunião na Câmara, mas ponderou que a confirmação da postergação de datas neste momento desestimularia os vestibulandos. Especialistas, no entanto, discordam.

—A manutenção da data só amplia as instabilidades. Você está produzindo insegurança psicológica em um momento em que as pessoas já estão frágeis — avalia Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco.

Levantamento da ONG Casa Fluminense, com base em números de 2018 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), indica que 2,3 milhões de candidatos declararam não ter acesso a computadores na edição em todo o Brasil. O universo corresponde a quase metade dos 5,5 milhões de inscritos.

A estudante Karolina Paulino de Farias Gomes, de 22 anos, moradora do Complexo da Maré, quer estudar Medicina. Mas, na pandemia, ela viu as aulas do vestibular comunitário da UniFavela serem suspensas.

— Eles disponibilizaram várias plataformas e bastante conteúdo, mas não consigo acompanhar. Não tenho computador em casa. Como vou me preparar?

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Plataforma gratuita reúne recursos de aprendizagem durante a pandemia

15/05/2020

 

 

Para garantir oportunidades a estudantes do país em tempos de isolamento social e reduzir o impacto da crise no aprendizado, mais de 20 organizações da sociedade civil se uniram na plataforma Aprendendo Sempre, que concentra recursos de aprendizagem gratuitos e selecionados por especialistas.

Em diferentes formatos, suportes e formas de acesso, as iniciativas já estão disponíveis na plataforma aprendendo sempre.org. Nela, há ferramentas para apoiar professores, gestores, famílias e alunos, com soluções por etapa de ensino e área de conhecimento, atividades práticas, videoaulas, cursos e até dicas de rotinas de estudo —tudo gratuito e alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Segundo Mônica Pinto, gerente de desenvolvimento da Fundação Roberto Marinho, desde que foi declarada a pandemia do coronavírus, em 11 de março, organizações da área da educação decidiram criar um grupo, o Coalizão, com reuniões semanais para discutir formas de dar apoio às secretarias estaduais e municipais de Educação.

— Nosso objetivo não é substituir o que o aluno aprende em uma aula presencial, mas apoiar professores, famílias e gestores nesse momento — explicou Mônica Pinto.

Lucas Rocha, gerente de inovação da Fundação Lemann, ressalta ainda que a plataforma permite a interação entre professores de várias partes do país:

— Caso precisem de ajuda, podem recorrer a professores voluntários para auxiliar nas mais variadas funções. Como editar um vídeo, por exemplo.

Além do Aprendendo Sempre, estão em desenvolvimento o programa Vamos Aprender, de videoaulas pela TV, além de estudos sobre o impacto da queda na arrecadação nos orçamentos das secretarias de educação. Também está em negociação com empresas de telecomunicação a isenção de cobranças para acesso à internet em aplicativos educacionais.