O globo, n. 31693, 15/05/2020. Economia, p. 16

 

Petrobras registra prejuízo de R$ 48,5 bi no 1º trimestre

Bruno Rosa  

Ramona Ordoñez

15/05/2020

 

 

Estatal tem a maior perda de sua história com baixa contábil de R$ 65,3 bilhões. Operação é resultado da queda no preço do petróleo, que afeta as projeções de geração de caixa de diversos ativos. Companhia prevê retomada lenta da economia

 A Petrobras registrou prejuízo de R$ 48,523 bilhões no primeiro trimestre deste ano. Trata-se do pior resultado na história da companhia. O desempenho, motivado em grande parte por uma baixa contábil bilionária, surpreendeu o mercado. Até então, a maior perda em um trimestre havia sido de R$ 36,9 bilhões no quarto trimestre de 2015, devido às investigações da Operação Lava-Jato.

Segundo a estatal, o resultado foi afetado pela baixa contábil de R$ 65,3 bilhões (ou US$ 13,4 bilhões) em campos de petróleo. A companhia explicou que a queda no preço do petróleo no mercado internacional derrubou a expectativa de geração de caixa futuro de diversos ativos. A estatal destacou a saída de produção de 62 plataformas de produção em águas rasas.

Em carta aos acionistas, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, destacou que as baixas não têm efeito no caixa da empresa. “Consideramos que nosso forte compromisso com a transparência deva prevalecer sempre, e decidimos aplicar o teste o mais rapidamente possível contemplando um novo cenário de preços e taxas de câmbio”, disse a estatal. A mesma coisa foi feita pelas petroleiras estrangeiras em seus balanços. Mesmo sem a baixa contábil, a Petrobras teria tido perda no primeiro trimestre, mas de R$ 4,6 bilhões.

 DEMANDA POR COMBUSTÍVEL

Segundo a Petrobras, os impairments (baixas contábeis) levaram a estatal a registrar despesas de R$ 75,616 bilhões, um aumento de 569% em relação ao mesmo período do ano passado. Os gastos também foram motivados pelo aumento do dólar e pelas maiores exportações.

O presidente da estatal disse reforçar “a disciplina na alocação do capital procedendo à completa revisão do portfólio de projetos de exploração e produção de petróleo e gás para decidir os que serão efetivamente implementados em seu formato atual ou revisados num cenário de preços em lenta recuperação para um patamar estimado em US$ 50 por barril”.

Castello Branco diz ainda que a recuperação da atividade econômica será lenta, assim como a demanda por combustíveis: “A perda súbita de renda está acelerando a alavancagem financeira das famílias, empresas e governos, e as incertezas associadas à inexistência de uma vacina, que só deverá estar disponível em 2021, e à persistência das tensões entre EUA e China”.

Com o aumento da exportação de petróleo em janeiro e fevereiro, a receita de vendas chegou a R$ 75,469 bilhões no primeiro trimestre. É uma alta de 6,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Por outro lado houve queda de 7,7% na receita se comparar com o fim de 2019 por causa da menor venda de derivados como gasolina e diesel no mercado interno.

O prejuízo surpreendeu o mercado. Para Ian Arbetman, analista da Ativa Investimentos, o balanço dá um recado claro de que, diante do atual cenário, a companhia precisará encontrar outras soluções, como o aumento das exportações. Disse ainda que a capacidade de gerar fluxo de caixa foi reduzida:

— A Petrobras tem desafios futuros com a nova dinâmica do mercado.

Para Pedro Galdi, da Mirae Asset, a baixa pode pesar no comportamento das ações hoje no mercado. Ontem, na expectativa dos resultados,os papéis ordinários (ON, com voto) e preferenciais (PN, sem voto) da estatal perderam, respectivamente, 2,43% e 1,08%. O Ibovespa (índice de referência da B3) avançou 1,59%, aos 79.010 pontos. O dólar caiu 1,39%, a R$ 5,818, após duas atuações do Banco Central no mercado de câmbio.