O globo, n. 31698, 20/05/2020. País, p. 16
Ex-assessor de Flávio vai trabalhar com mãe do senador
Juliana Dal Piva
Juliana Castro
20/05/2020
Advogado Vitor Granado Alves está em fase de contratação para cargo em gabinete da Alerj onde Rogéria Bolsonaro está lotada
REPRODUÇÃOAdvogado. Vitor Granado Alves trabalhou com o senador Flávio Bolsonaro
O advogado Vitor Granado Alves, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), está em processo de contratação para um cargo no gabinete do deputado estadual Anderson Moraes (PSL) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Ele foi citado pelo empresário Paulo Marinho como o advogado que acompanhou o senador na reunião na qual foi mencionado o vazamento de informações de um delegado da Polícia Federal sobre Fabrício Queiroz em outubro de 2018. Rogéria Bolsonaro, mãe do senador, é funcionária no mesmo gabinete onde Alves vai trabalhar. Sobre o episódio, Marinho irá prestar depoimento na PF hoje.
Antes disso, Alves assessorou Flávio na Alerj entre fevereiro de 2017 e fevereiro de 2019. Depois disso, foi lotado na liderança do PSL, quando Flávio era presidente do partido no Rio. Coma saída do senador do PS L, Alves também perdeu o cargo. Ele é investigado junto com Flávio e Queiroz pelo Ministério Público do Rio no procedimento que apura peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no âmbito do gabinete devido à prática de “rachadinha”, eventual devolução dos salários de servidores. Alves, assim como Flávio e Queiroz, também teve o sigilo bancário e fiscal quebrado pelo TJ do Rio em abril do ano passado.
—A ala bolsonarista perdeu a liderança do partido e decidi convidá-l opara o meu gabinete porque é alguém de confiança, com convivência no legislativo e altamente capacitado —afirmou o deputado.
Sobre a investigação na qual Alves é alvo, o parlamentar disse que confia no novo funcionário:
— O processo é sigiloso, ele não é réu e eu confio no doutor Vitor. Nunca conversei com o senador para trazer o doutor Vitor para meu gabinete.
Além dele, sua mulher, Mariana Granado também consta como assessora de Flávio no Senado desde março do ano passado. O salário dela é de R$ 22,9 mil.
Segundo o jornal “Folha de S. Paulo”, o PSL nacional, antigo partido de Flávio, contratou em fevereiro de 2019 um escritório de advocacia de Vitor Granado Alves e, ao longo de 13 meses, pagou cerca de R$ 500 mil, do fundo partidário, por um trabalho de regularização dos diretórios municipais no Estado do Rio. A contratação teria ocorrido por indicação de Flávio.
Vitor Alves advogou para Flávio na empresa Bolsotini Chocolates, franquia da Kopenhagen no Shopping Via Parque, no Rio. Para o Ministério Público do Rio, a conta da empresa recebia depósitos em dinheiro vivo de superfaturamento. Vitor Alves também é empresário do ramo de chocolates, com lojas no Centro e em um shopping da Zona Norte do Rio, da mesma franquia.
Em nota, a defesa de Vitor negou qualquer irregularidade, mas confirmou que ele esteve presente na reunião de Flávio com o empresário Paulo Marinho na condição de advogado do hoje senador e que, por isso, não poderia falar sobre o encontro.
Paulo Marinho foi intimado para prestar depoimento hoje na Superintendência da PF do Rio em um novo procedimento de investigação instaurado para apurar eventual participação de servidores no vazamento de informações da Operação Furna da Onça.
Segundo o empresário, em relato publicado pela “Folha” no último domingo, Flávio foi informado por um delegado da Polícia Federal, entre o primeiro e o segundo turnos da eleição de 2018, que seria deflagrada a operação, que continha um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) que mostrava a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio. Esse delegado sugeriu que Queiroz e a filha fossem exonerados, o que ocorreu em 16 de outubro de 2018. Por causa desse relatório, Queiroz passou a ser investigado por operar um esquema de “rachadinha”.
Segundo o relato de Paulo Marinho, foi o próprio senador que o procurou para contar sobre o episódio do vazamento depois que o caso veio à tona em dezembro de 2018. Na ocasião, ele estaria acompanhado do advogado Vitor Granado Alves.
CHEFE DE GABINETE
No relato do empresário Paulo Marinho, quem teria recebido as informações do delegado da PF, em 2018, foi o chefe de gabinete dele, Miguel Ângelo Braga Grillo. O procurador- geral da República, Augusto Aras, também pediu que a PF tome o depoimento dele.
Homem de confiança de Flávio e também do presidente Jair Bolsonaro, Braga é outro assessor que teve o sigilo quebrado em virtude da investigação da “rachadinha”. Ele trabalha para Flávio desde 2007 e segue no comando do gabinete no Senado.