O globo, n. 31698, 20/05/2020. País, p. 16

 

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Aguirre Talento

20/05/2020

 

 

Ex-chefe da PF do Rio desmente Bolsonaro e diz ter sido convidado por Ramagem

 Em novo depoimento prestado no inquérito sobre a suposta interferência do presidente Jair Bolsonarona Polícia Federal, o ex-superintendente da PF no Rio Carlos Henrique Oliveira revelou aos investigadores que participou de um encontro privado com Bolsonaro em 2019, levado pelo delegado Alexandre Ramagem, à época diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo o depoimento, Ramagem lhe disse que seria “importante” que ele conhecesse o presidente.

No seu primeiro depoimento, o atual número dois da PF afirmou que não tinha sido sondado por Ramagem para assumir um posto na nova gestão da corporação. Agora, ele admitiu que o convite para ocupar o cargo de diretor-executivo da PF partiu do próprio Ramagem no dia 27 de abril, quando ele se preparava para ocupara direção-geral da Polícia Federal por indicação de Bolsonaro. Após a decisão que barrou a indicação de Ramagem para o comando da PF, o novo indicado ao cargo, Rolando Alexandre de Souza, manteve o convite feito anteriormente por Ramagem e oficializou Oliveira na direção executiva. Aversão de Oliveira é diferente do que Bolsonaro disse a jornalistas. Segundo ele, o convite a Oliveira teria partido de Rolando.

As informações prestadas por Oliveira reforçam o interesse de Bolsonaro na PF do Rio e a proximidade do presidente com Ramagem. Quando havia sido indicado para assumira Superintendência da PF do Rio, no segundo semestre de 2019, Oliveira relata que estava em Brasília e foi chamado por Ramagem para um encontro privado com o presidente.

“Havia um convite prévio do delegado Alexandre Ramagem para que o depoente comparecesse numa audiência com o presidente Jair Bolsonaro”, relatou no seu depoimento. Segundo Oliveira, o ministro da Justiça Sergio Moro e o diretor-geral da PF Maurício Valeixo foram informados do convite e autorizaram o encontro, mas não participaram da reunião .“A reunião ocorreu no Palácio do Planalto, tendo participado apenas o depoente, o delegado Alexandre Ramagem e o presidente Jair Bolsonaro”, afirmou. Segundos eu relato, Bolsonaro contou sobre sua trajetória política mas não falou de investigações e mandamento na Superintendência do Rio.

“Perguntado se o presidente Jair Bolsonaro sabia que o depoente havia sido indicado para a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, o depoente respondeu que o presidente não disse isso diretamente, mas que isso já era um dado público à época”, afirmou no depoimento. Prossegue: “Não foi declarado nenhum objetivo específico para a sua audiência com o presidente Jair Bolsonaro; que o delegado Alexandre Ramagem apenas pontuou que seria importante o depoente conhecer o presidente Jair Bolsonaro”.

Durante a gestão de Oliveira, Bolsonaro pediu à PF do Rio para tomar o depoimento do portei rodos eu condomínio que havia dado declarações apontando que o acusado de ter assassinado a vereadora Marielle Franco pediu para ir à casa do presidente no dia do crime. A PF abriu inquérito e ouviu o porteiro, que voltou atrás nas declarações.

Também na gestão de Oliveira, havia um inquérito eleitoral contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) em andamento na superintendência. A PF pediu o seu arquivamento em março sem quebrar os sigilos do senador.

MUDANÇAS

Neste depoimento, o atual diretor-executivo da PF também admitiu que prestou informações incompletas em suas declarações anteriores. Isso porque, na semana passada, ele havia sido questionado por duas vezes se Ramagem o sondou para ocupar algum cargo na direção-geral da PF e Oliveira negou. Esse foi o principal motivo pelo qual ele pediu para depor de novo.

“Na ocasião o depoente afirmou que ninguém o procurou”, disse. “Na realidade o depoente gostaria de esclarecer que foi procurado no dia 27 de abril do corrento ano pelo delegado de polícia Alexandre Ramagem, que perguntou para ele, depoente, se aceitaria ser diretor executivo da Polícia Federal durante sua gestão; que o depoente respondeu que sim”, afirmou.

“Não foi declarado nenhum objetivo específico para a sua audiência com o presidente Jair Bolsonaro; que o delegado Alexandre Ramagem apenas pontuou que seria importante o depoente conhecer o presidente” 

Trecho de depoimento de Carlos Henrique Oliveira