O globo, n. 31698, 20/05/2020. Economia, p. 21

 

Guedes quer ‘suavizar queda’ do auxilio de R$ 600

Manoel Ventura

Marcello Corrêa

Geralda Doca

20/05/2020

 

 

Em reunião com representantes do setor de serviços, ministro descarta prorrogar benefício emergencial, mas defende que valor não seja zerado de uma vez após fim do pagamento das três parcelas

 O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que o governo vai “suavizar a queda” e eliminar gradativamente o auxílio emergencial de R$ 600, criado para reduzir os efeitos da crise do coronavírus para trabalhadores de baixa renda. Até agora, está previsto o pagamento desse benefício por apenas três meses, sem interrupção gradual.

A declaração do ministro foi dada em uma reunião fechada com representantes do setor de serviços. O GLOBO obteve o áudio do encontro. Em um trecho, Guedes se refere à necessidade de rever programas sociais do governo e cita a ideia de fazer uma redução gradual no programa.

— Vamos tornar mais robustos e focalizados os programas sociais. Vamos agora jogar mais R$ 600 aí. Agora, quando acabar esse prazo, em vez de tirar de uma vez só, vamos fazer um (eliminação em fases). Não é que nós vamos prorrogar, porque não temos fôlego financeiro para fazer a gastança que está aí, mas vamos ter que suavizar a queda. Em vez de cair tudo de uma vez, nós vamos descer mais devagar um pouco —disse Guedes.

Essa é a primeira vez que o titular do Ministério da Economia fala em pagar o auxílio emergencial por mais tempo que os três meses até agora previstos. Na semana passada, o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, disse que o auxílio poderia ter “vindo para ficar”. No dia seguinte, a pasta divulgou nota negando essa possibilidade. Mas, na ocasião, integrantes da equipe econômica já admitiam que a ampliação da vigência da ajuda emergencial estava em estudo, conforme mostrou O GLOBO.

De acordo com técnicos da equipe econômica, uma possibilidade seria reduzir o valor do auxílio aos poucos, após o pagamento da última parcela do benefício.

Até agora, o governo prevê gastar R$ 124 bilhões com o programa. Ontem, a Caixa Econômica Federal informou que 10 milhões de trabalhadores ainda aguardam na fila a aprovação da primeira parcela do auxílio.

Segundo o presidente do banco, Pedro Guimarães, são pessoas que tiveram de refazer o cadastro no aplicativo do banco pela segunda ou terceira vez devido a inconsistência nos dados ou irregularidades no CPF.

Além de rever regras do auxílio emergencial, o governo avalia revisar, depois da pandemia, os programas de transferências de renda, sendo possível uma ampliação do Bolsa Família. Para isso, técnicos estudam propor a revisão de benefícios considerados ineficientes, como o abono salarial e o seguro-defeso( pago a pescadores no período em que apescaé proibida ).

20 MILHÕES DE EMPREGOS

Durante o encontro com empresários, Guedes também voltou a defender a desoneração da folha de pagamento como forma de incentivar a geração de empregos. Segundo o ministro, será possível gerar até 20 milhões de empregos em um sistema com menos impostos sobre salários:

— Nós temos que ter coragem de lançar um sistema onde há muito mais empregos, mas com muito menos encargos trabalhistas, com menos interferência de sindicatos, com menos legislação trabalhista. Nós vamos correr esse risco, vamos avançar nessa direção. Nós podemos gerar dez, 15, 20 milhões de empregos nos próximos um, dois, três anos.