O globo, n. 31694, 16/05/2020. Especial Coronavírus, p. 8

 

General é cotado para assumir

Leandro Prazeres

Thais Arbex

Daniel Gullino

Gustavo Maia

16/05/2020

 

 

Às ordens. Pazuello tem indicado que acataria, sem resistência, a orientação de Bolsonaro sobre o uso da cloroquina
A saída de Nelson Teich do Ministéro da Saúde abriu caminho para que o órgão divulgue um novo protocolo sobre o uso da cloroquina em pacientes infectados pela Covd-19. Fontes na pasta acreditam que o secretário-executivo, general Eduardo Pazuello, ficará como interino e será o responsável por avalizar o protocolo, uma exigência do presidente Jair Bolsonaro. Além de Pazuello, o ex-ministro Osmar Terra, a médica Nise Yamagushi e um almirante do Rio são cotados para assumir o posto.

Nos últimos dias, Pazuello indicou que acataria, sem resistência, a orientação do mandatário do Palácio do Planalto sobre a prescrição da cloroquina. Diante da fragilidade de Teich, o general passou a atuar nos bastidores, assumindo funções que estavam sob a alçada do então ministro. Segundo relatos feitos ao GLOBO, Pazuello vinha mantendo contato com secretários estaduais e municipais e tomando decisões sem consultar Teich. A escolha do nome de Pazuello como número dois do Ministério da Saúde se deveu ao sucesso que teve à frente da Operação Acolhida, dedicada a receber imigrantes venezuelanos em Roraima, na qual atuou até dezembro do ano passado, quando foi promovido comandante da 12º Região Militar. Lá, era o general quem pilotava toda logística dos abrigos e das viagens de interiorização dos imigrantes.

 GUERRA DE NARRATIVA

A avaliação de integrantes do governo, no entanto, é a de que não basta dar aval a um novo protocolo — é preciso defendê-lo publicamente. Neste contexto, Osmar Terra ganharia pontos. Há a avaliação de que ele tem mais potencial de comunicação para levantar a bandeira de Bolsonaro a favor da cloroquina do que um militar. O governo entende que a guerra, agora, é de narrativa. Médico, Terra já criticou diversas vezes o isolamento social. Para ele, a medida não consegue evitar a propagação do vírus. No começo da pandemia, chegou a menosprezar seus efeitos.

No dia 18 de março, ele publicou em sua conta no Twitter que a H1N1 matou duas pessoas a cada dia no Brasil em 2019. "Este número deve ser maior que as mortes que acontecerão pelo coronavírus aqui", escreveu. Terra foi ministro da Cidadania, no governo de Jair Bolsonaro, e de Desenvolvimento Social, na gestão de Michel Temer. Deixou a pasta para disputar um novo mandato de deputado federal e foi reeleito.

Outra cotada para a vaga de Teich é a médica Nise Yamagushi, defensora da utilização da cloroquina em pacientes com Covid-19 desde os primeiros sintomas. Ontem, pouco antes de o ex-ministro pedir demissão do Ministério da Saúde, Bolsonaro teve uma reunião com ela. O presidente se encontrou com Yamagushi das 10h30 às 10h55, no Palácio do Planalto. Em seguida, teve uma reunião com Teich, de 10h55 às 11h05. Nenhuma das reuniões constava na previsão inicial da agenda presidencial. A médica, que assessora o comitê de crise do governo federal contra a pandemia, já havia tido dois encontros com Bolsonaro, nos dias 6 e 7 de abril —época em que Luiz Henrique Mandetta ainda era ministro da Saúde. Quando a exoneração de Teich foi divulgada, Yamaguchi estava no Salão Nobre do Planalto, no evento de lançamento de uma campanha de combate à violência contra a mulher. Ao fim da cerimônia,

depois que Bolsonaro deixou o local, ela subiu para o terceiro andar, onde fica o gabinete do presidente.

 EFICÁCIA NÃO COMPROVADA

À tarde, a médica foi vista pelo GLOBO falando ao telefone no terceiro andar, acompanhada de sua assessora de imprensa, que disse não saber de nada. Ela estava ao celular e não atendeu aos chamados da reportagem. Médica do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, Yamagushi chegou a

ser cotada para assumir o cargo de Mandetta. De acordo com ela, a cloroquina aumenta a chance de cura e impede internações, já que a reversão do quadro de insuficiência respiratória a partir da fase de inflamação se torna mais difícil. Defensora da droga, cuja eficácia não foi comprovada por estudos internacionais, a imunologista já disse que suas contribuições ao comitê eram apenas técnicas e científicas "alinhadas aos melhores centros internacionais".