O Estado de São Paulo, n.46252, 05/06/2020. Política, p.A6

 

À PF, Weintraub nega racismo e alega 'liberdade de expressão'

05/06/2020

 

 

Investigado por post considerado ofensivo a chineses, ministro também faz críticas a Partido Comunista
Apoiadores. Ministro é recebido após deixar prédio da PF

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, atacou o Partido Comunista Chinês e alegou “liberdade de expressão” em depoimento por escrito entregue à Polícia Federal ontem, no inquérito que apura suposto crime de racismo. Segundo o ministro, as publicações questionadas na investigação eram críticas ao governo chinês, uma “ditadura comunista que despreza os princípios que regem uma democracia liberal”, e não ao povo do País.

“Não é possível que se afirme que a postagem se dirigiu a um povo. O que quer que o PCC (Partido Comunista Chinês) faça não pode ser tido como expressão da vontade popular chinesa, uma ditadura comunista, campeã de violações aos direitos humanos, o que inclui até mesmo genocídio em décadas passadas”, escreveu Weintraub.

O ministro é investigado por racismo após publicar um tuíte em que insinuou que a China vai sair “fortalecida da crise causada pelo coronavírus, apoiada por seus ‘aliados no Brasil’”. A publicação usou personagens da Turma da Mônica na Muralha da China e substituiu a letra “r” pelo “l”, para fazer referência ao modo de falar do personagem Cebolinha, o que foi visto como tentativa de ridicularizar os chineses. Segundo Weintraub, o uso da linguagem e da imagem dos personagens de quadrinhos foi para dar “humor” à publicação.

No documento, o ministro diz ainda que a imputação de crime decorre de “interpretação extensiva” baseada em “sensibilidades de determinados grupos sociais”. “Não se pode imputar um crime nessas circunstâncias, sob pena de se revogar um princípio e direito maior constitucional, que é a liberdade de expressão”, escreveu. “Onde está a discriminação ou preconceito? Há apenas referência a um governo.”

O pedido de investigação partiu do vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, ao vislumbrar que o ministro “teria veiculado manifestação depreciativa, com a utilização de elementos alusivos à procedência do povo chinês”. Após a postagem de Weintraub, a Embaixada da China no Brasil repudiou a publicação. “Tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil.”

Ao deixar o prédio da PF ontem, o ministro foi carregado nos braços por apoiadores que o aguardavam. “A liberdade é a coisa mais importante em uma democracia e a primeira coisa que vão tentar calar é a liberdade de expressão. Obrigado pelo apoio, gente”, disse Weintraub, usando um megafone.