Correio braziliense, n. 20875 , 19/07/2020. Brasil, p.5

 

Investigados dois casos suspeitos de reinfecção

Augusto Fernandes

19/07/2020

 

 

Apuração está a cargo do Hospital das Clínicas em São Paulo. Número de pessoas mortas pelo coronavírus no país chegou a 78.722, com a confirmação de 921 novos óbitos ontem. O acumulado de casos da covid-19 no Brasil somou 2.074.860

Dois casos suspeitos de reinfecção por covid-19 em pessoas que já haviam se curado da doença estão sob investigação pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

O HC considerou essa hipótese depois que os pacientes voltaram a testar positivo para a doença e passaram a manifestar sintomas da enfermidade. Mas a instituição informou que ela é “ainda pouco provável” visto que não há uma comprovação científica de que é possível se infectar com o novo coronavírus mais de uma vez.

De todo modo, o hospital quer apurar se o novo diagnóstico da doença trata-se, na verdade, de vestígios inativos do vírus Sars-CoV-2 que continuaram no corpo dos pacientes em questão. Uma terceira possibilidade para o caso, de acordo com o HC, é que as duas pessoas tenham sido acometidas por uma enfermidade diferente da covid-19.

“Os sintomas e testes positivos em dois períodos diferentes poderiam ser explicados por: outra virose por um vírus diferente, que causaria confusão porque haveria ainda fragmentos inativos que permaneceram no corpo do paciente; pela longa permanência do vírus no corpo, com período de inatividade; pela reinfecção, hipótese ainda pouco provável por não ter sido constatada em nenhum outro caso registrado pela literatura médica internacional”, explicou o hospital, em comunicado enviado à imprensa.

SP lidera

Segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde sobre a situação da pandemia no Brasil, o número de pessoas mortas pelo novo coronavírus no país chegou a 78.722 ontem, com a confirmação de 921 novos óbitos. Além disso, a pasta contabilizou mais 28.532 brasileiros infectados pela doença em 24 horas. Com isso, o acumulado de casos confirmados da covid-19 no Brasil é de 2.074.860.

São Paulo segue sendo a unidade da federação com as estatísticas mais alarmantes da crise sanitária. Pelo levantamento da Saúde, 412.027 pessoas no estado já foram infectadas pelo novo coronavírus, enquanto 19.647 morreram por covid-19. Sozinho, o estado é responsável por aproximadamente 20% dos casos confirmados e quase 25% dos óbitos pela enfermidade em todo o Brasil.

Na atualização de ontem, os números da pandemia no Rio de Janeiro não sofreram alterações porque o estado relatou dificuldades para realizar a exportação de dados. Dessa forma, a unidade da Federação repetiu as estatísticas da última sexta-feira e tem, ao menos, 135.230 pessoas infectadas e 11.919 óbitos. “O Ministério da Saúde está auxiliando o estado na resolução do problema, e os dados devem ser atualizados no boletim de domingo”, garantiu a pasta.

O ministério também constatou problemas nas informações sobre o Mato Grosso. O número acumulado de casos confirmados, que na sexta-feira foi de 32.971, caiu para 32.707. “O estado do Mato Grosso verificou que os dados divulgados ontem (sexta-feira) continham algumas duplicidades, que foram corrigidos no boletim divulgado hoje (ontem)”, justificou a Saúde. A quantidade de mortes no estado permaneceu em alta, passando de 1.268 para 1.305.

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Raoni é internado na UTI

19/07/2020

 

 

Maior liderança indígena do país, o cacique Raoni está internado na UTI de um hospital em Mato Grosso, após agravamento do seu quadro de saúde. No mês passado, o líder da etnia caiapó perdeu a mulher, Bekwyjkà Metuktire, e, desde então, tem apresentado um quadro depressivo.

Indicado ao prêmio Nobel da Paz em 2019, Raoni estava internado em um hospital de Colíder (MT), mas foi transferido para Sinop (MT), depois de seu estado de saúde piorar. Segundo o boletim médico, divulgado ontem, ele se alimenta com dificuldade e se queixa de fraqueza e de falta de ar — exames da covid-19 deram negativos. A piora do quadro é devido ao agravamento de uma anemia e problemas renais. “Raoni foi transferido para Sinop (MT), onde vai fazer novos exames. Estou muito preocupado com meu tio. Vamos fazer tudo para ele ficar bom”, disse o intérprete do cacique e sobrinho dele, Megaron Txucarramãe.

Em setembro do ano passado, Raoni esteve em Brasília, onde se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para falar sobre direitos dos povos indígenas. Um dia antes dessa visita, o presidente Jair Bolsonaro havia feito críticas diretas ao cacique. “Acabou o monopólio do senhor Raoni”, disse, ao citar Ysani Kalapalo, liderança indígena que viajou com o chefe do Executivo aos Estados Unidos.

Em junho do ano passado, em entrevista ao Estadão, Raoni fez críticas duras à forma como o governo tem conduzido as políticas indigenistas e disse que seu povo corre o risco de desaparecer, se nada for feito. “Queremos dialogar com o governo, mostrar a ele que nós, indígenas, não aceitamos o que Bolsonaro pensa sobre nós, não aceitamos a violação dos direitos indígenas e dos territórios indígenas. Essa gestão é contra o povo indígena”, frisou, na ocasião. Desde o início do governo Bolsonaro, as demarcações de terras indígenas no país foram paralisadas. O que se pretende é abrir as áreas atuais para exploração das áreas, o que hoje é proibido por lei.

Ícone da luta dos indígenas brasileiros, Raoni ganhou notoriedade internacional no fim da década de 1980. Em 1987, o músico britânico Sting iniciou uma série de viagens pela Amazônia, onde conheceu o cacique, em 1989. A amizade com o líder da tribo dos caiapós levou o astro a se engajar na causa ecológica e na luta pela demarcação das terras indígenas no Xingu. A parceria levou à criação da Rainforest Foundation, entidade que atua na proteção da floresta e de seus povos tradicionais.