Título: Mais um candidato
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 16/01/2013, Política, p. 2

Parlamentares ligados ao grupo dos dissidentes decidem lançar um nome para concorrer com Renan Calheiros pela Presidência do Senado

Enquanto o candidato do PMDB à presidência da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), navega em mares revoltos, um grupo de senadores quer ampliar a marola para o nome do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Na semana que vem o grupo de dissidentes vai decidir entre os nomes do senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) ou de Pedro Taques (PDT-MT), com mais tendência para a segunda opção, para disputar a presidência da Casa.

O próprio grupo que apoia a candidatura dissidente reconhece que as chances de vitórias são mínimas. “A candidatura em si já é uma vitória”, disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos autores e signatários do manifesto lançado ontem intitulado Uma nova presidência e um novo rumo para o Senado e encaminhado para 48 senadores apenas ontem. O lançamento do manifesto foi antecipado pelo Correio na semana passada.

Por enquanto, o mais empolgado com o movimento é Randolfe. Ele próprio anunciou a disposição de candidatar-se pela segunda vez ao cargo de presidente da Casa. Em 2010, recém chegado ao Senado, disputou com o decano José Sarney (PMDB-AP). Perdeu por 70 contra oito. Aposta que, agora, possa ter mais votos. “Eu acredito que possa aglutinar forçar na oposição, no PDT e até, quem sabe, entre os dissidentes do PMDB.”

Apenas na última sexta-feira Randolfe foi autorizado pela direção partidária a buscar votos entre seus pares. “Eu não concebo uma eleição sem debate e sem candidatos. É inadmissível que no Senado tenhamos uma eleição nos moldes da Velha República, quando os senadores comparecerão no plenário apenas para referendar um nome nas urnas”, protestou ele.

O senador Pedro Taques (PDT-MT) admite a candidatura, mas diz que pode negociar o lançamento de outro nome do grupo, como Randolfe ou o próprio Cristovam Buarque. Ele explica que o objetivo é forçar a realização de um debate dentro do Senado sobre o papel e a atuação do legislativo. “Queremos debater propostas. Um candidato à presidência do Senado precisa trazer projetos e ideias, debater as relações do Executivo e do Legislativo e dizer o que pensa sobre o fato de o Senado ter virado um puxadinho do Executivo. Como não aceito eleitor de cabresto, não quero ser um senador de cabresto”, justifica Taques, que também é pré-candidato ao governo do Mato Grosso. “Nada contra o candidato do PMDB, mas queremos discutir propostas”, conclui Taques.

Mediador desta disputa, Cristovam vê o colega de bancada com mais chances de aglutinar apoios que Randolfe. “Randolfe foi candidato da outra vez”, lembra ele. O senador por Brasília refuta a possibilidade de o grupo apresentar dois nomes. “Isso não vai acontecer. Vamos nos reunir, conversar e, na próxima semana, definir quem abrirá mão para quem”, declarou.

Alternativa O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), prometeu reunir sua bancada em 31 de janeiro — véspera da eleição para a sucessão da Mesa do Senado. O PSDB sempre buscou uma alternativa à candidatura do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), lembrando dos questionamentos éticos sofridos pelo senador alagoano e que o levaram a renunciar à presidência da Casa na vez anterior.

O partido, contudo, tentou insuflar uma candidatura no PMDB. “Se o Luiz Henrique (senador pelo PMDB de Santa Catarina) tivesse aceitado, seria melhor, para não ferirmos o princípio da proporcionalidade”, declarou Álvaro Dias. “Dentre as opções colocadas, creio que a melhor alternativa é o Taques, por ser um parlamentar de um partido da base do governo”, completou ele.

Álvaro apressa-se em dizer que, pessoalmente, não tem qualquer restrição a Randolfe. Ao lado de Taques e do PSDB, o senador pelo Amapá teve atuação de destaque na CPI do Cachoeira, que se encerrou sem ter sequer um relatório final aprovado. Inclusive, a presença de Randolfe na CPI só foi possível porque o PSDB cedeu uma de suas vagas para o senador do PSol. “Mas ele é o único representante do PSol no Senado”, justificou o tucano.

Álvaro chegou a fazer novas consultas nas hostes peemedebistas ontem. Com a desistência oficial de Luiz Henrique em disputar com Renan, o tucano procurou outro independente nas fileiras do PMDB: o senador Ricardo Ferraço (ES). “Ele não aceitou, alegando que a candidatura poderia provocar desgastes internos posteriormente”, lamentou Álvaro. O senador paranaense também procurou outro experiente companheiro de luta, o senador Pedro Simon (RS). “Ele não aceitou, mas tampouco fechou as portas para a ideia. Quem sabe?”, completou.

A ideia inicial era pressionar o senador Luiz Henrique a aceitar o desafio. O catarinense andou se estranhando com o Palácio do Planalto durante a tramitação do Código Florestal na Casa. Nas eleições de 2010, embora o PMDB estivesse representado por Michel Temer na chapa de Dilma Rousseff, Luiz Henrique fez campanha presidencial a favor do tucano José Serra (PSDB-SP).

As conversas cresciam. “Com Henrique, teríamos grandes chances de derrotar Renan”, declarou Álvaro. Mas o Planalto e o candidato oficial do PMDB agiram rápido e convenceram a presidente Dilma a entrar no circuito. Ela convidou o senador por Santa Catarina a integrar a comitiva presidencial nas viagens para a França e para Rússia, na qual, dentre outros tópicos, foi discutida a suspensão do embargo à carne brasileira. Quando retornou ao Brasil, o espírito dissidente de Luiz Henrique havia arrefecido.

Quem são eles Randolfe Rodrigues (PSol-AP) » Aos 40 anos, Randolfe Rodrigues pretende disputar pela segunda vez a presidência do Senado. Em 2011, logo no primeiro dia do mandato, enfrentou o atual presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Eleito deputado estadual por oito anos, filiado inicialmente ao PT, migrou para o PSol em 2005. Em 2010 tornou-se o senador mais jovem que venceu uma eleição no país. Professor de história, é enxergado pelo partido como potencial candidato ao governo do Amapá em 2014 ou até mesmo à Presidência da República.

Pedro Taques (PDT-MT) » Aos 44 anos, também está, a exemplo de Randolfe, em seu primeiro mandato como senador da República. Professor de direito constitucional, é ex-procurador da República e tornou-se uma figura nacional pela atuação nas investigações de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Tornou-se procurador do Ministério Público Federal em 1995 e atuou em 12 estados. Entre seus casos mais famosos, está a prisão de João Arcanjo Ribeiro, o comendador Arcanjo, considerado o maior bicheiro de Mato Grosso.

Principais tópicos Confira trechos do manifesto Uma nova presidência e um novo rumo para o Senado

» A Constituição prevê a igualdade entre os três Poderes da União. Mas os últimos anos mostram que o parlamento tem sido um poder menor: - Pela submissão a medidas provisórias - Pela judicialização da política

» Pontos que envergonham e reforçam a inoperância do Senado: - 3.060 vetos presidenciais sem apreciação há décadas - Fim das atividades legislativas sem votar o orçamento para o ano fiscal iniciado em 1º de janeiro - Falta de acordo para definir o Fundo de Participação dos Estados (FPE) - Fim melancólico da CPI do Cachoeira - Falta de desconto do Imposto de Renda de parte do salário dos senadores - Ausência de candidatos explícitos à presidência do Senado

Ideias para mudar o funcionamento da Casa » Sessões ordinárias de segunda a sexta para votar: - Os vetos presidenciais - Reforma política - Código civil - Reformas no regimento e na estrutura do Senado - Plano Nacional de Educação (PNE) - Fundo de Participação dos Estados (FPE)

» Outras propostas - Reforma na Consultoria Jurídica - Fim do voto secreto - Redução do número de comissões - Democracia na divisão de relatorias - Criação de um comitê de acompanhamento e controle da gestão