Valor econômico, v.21, n.5035, 03/07/2020. Brasil, p. A2
Países da Amazônia perdem 10% da mata em 34 anos, aponta estudo
Daniela Chiaretti
03/07/2020
Os nove países amazônicos perderam 10% da cobertura florestal em 34 anos. De 1985 a 2018 foram 72,4 milhões de hectares, sendo 69 milhões de hectares de florestas derrubadas na região conhecida por Pan-Amazônia. Isso equivale à área somada dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
O tamanho da cobertura vegetal perdida no período nos nove países, somando vegetações naturais que não são bosques, corresponde ao território do Chile.
Ao mesmo tempo em que esta transformação do uso da terra aconteceu, houve um crescimento de 172% na área ocupada pela agricultura e pecuária.
Os dados fazem parte da “Coleção 2.0 de Mapas Anuais de Cobertura e Uso do Solo da Pan-Amazônia”, plataforma com mapas e estatísticas da região lançada ontem. Trata-se de uma iniciativa de pesquisadores dos nove países que fazem parte da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg) junto à equipe dos analistas do MapBiomas.
O Brasil foi, de longe, o país que mais perdeu cobertura vegetal no período. A modificação no uso da terra afetou mais de 62 milhões de hectares. Em seguida veio a Bolívia (com 3,6 milhões de hectares), o Peru (1,5 milhão de hectares) e a Colômbia (1,4 milhão).
O Suriname e a Guiana não perderam floresta. Ao contrário, somaram cobertura vegetal no período, explica o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas, uma iniciativa de várias instituições e que inclui universidades, ONGs e empresas de tecnologia.
Imagens analisadas do satélite Landsat têm resolução de 30 metros. Isso significa que é possível identificar a dinâmica do uso da terra dentro de uma unidade de conservação ou terra indígena, por exemplo.
O mapeamento mostra com clareza o quanto as terras indígenas e as unidades de conservação são importantes para a preservação da floresta e da biodiversidade. As terras indígenas em toda a região perderam 3% do total no período e as unidades de conservação, 4%. As grandes mudanças no uso do solo ocorreram fora destas áreas de preservação.
O mapeamento observou as mudanças que atingiram as florestas, os campos naturais, os manguezais, a vegetação nas proximidades dos rios. A região que ainda registra 84% do território coberto por florestas.
Na Pan-Amazônia, área de 8,47 milhões de quilômetros quadrados, vivem 47,4 milhões de pessoas.
Ao ano, segundo os mapas e análises lançados ontem, foram perdidos dois milhões de hectares ao ano de florestas. Em formações naturais não-florestais, as perdas foram muito menos dramáticas - 3,2 milhões de hectares entre 1985 e 2018. A iniciativa contou com o apoio da equipe técnica do MapBiomas Brasil. A iniciativa, conta Azevedo, surgiu em 2015. “Criamos um projeto para monitorar a cobertura vegetal e o uso da terra no país”, diz Azevedo. “Queríamos entender as transformações que ocorrem depois do desmatamento. Quanto daquilo vira pasto? Quanto regenera?”, conta.
A plataforma lançada ontem é o segundo capítulo de um esforço iniciado em 2019. Na ocasião, o mapeamento teve menor alcance. Analisava dados da região entre os anos 2000 e 2017. O estudo mostra os principais vetores que exercem pressão sobre as florestas, como as estradas, a mineração, a exploração de petróleo e as hidrelétricas.
A iniciativa representa um avanço para que seja possível “construir e fomentar uma visão integral da Amazônia considerando os aspectos políticos de uma região compartilhada entre vários países, assim como aspectos socioambientais de grande importância”, diz o antropólogo Beto Ricardo, coordenador da Raisg e co-fundador do Instituto Socioambiental, o ISA.