O globo, n. 31720, 11/06/2020. País, p. 12

 

Mãe Zambelliª insiste em pôr em risco credibilidade da PF

11/06/2020

 

 

A operação da Polícia Federal que investiga fraudes na compra de respiradores pulmonares no Pará ainda estava em curso, mas a deputada Carla Zambelli já foi ao Twitter, intitulando-se "Mãe Zambelli", para avisar que São Paulo, cujo governador, João Doria, é adversário do presidente Jair Bolsonaro, poderá ser um dos próximos alvos. "Mãe Zambelli" repete, com poucas variações, o papel que teve antes de uma operação similar da PF realizada no Rio de Janeiro, em que o governador Wilson Witzel foi um dos alvos. Um dia antes de os policiais revistarem o Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio, a deputada havia anunciado essa possibilidade.

A intenção de Zambelli pode ser amedrontar os governadores que se opõem a Bolsonaro, especialmente ao determinarem medidas de isolamento para evitar a disseminação do novo coronavírus, como não quer o presidente. E de quebra, mostrar intimidade com o poder. Na prática, ela levanta mais suspeitas contra Bolsonaro e uma instituição que, até a eleição do presidente, na esteira do discurso contra a corrupção, não tinha a credibilidade posta em risco por arautos de operações que, em tese, não deveriam saber com antecedência de sua execução.

Assim como no caso do Rio de Janeiro, a operação no Pará cumpre ordens judiciais. E não há motivos, até o momento, para se pensar que ambas não tenham se apoiado em elementos colhidos em investigações com solidez suficiente para convencer ministros do Superior Tribunal de Justiça que as determinaram.

As previsões de "Mãe Zambell", no entanto, jogam uma nuvem sobre a atuação da PF e sobre o presidente que ela tenta tanto defender. Um inquérito no Supremo Tribunal Federal investiga se Bolsonaro tentou interferir indevidamente na corporação. Outra investigação na PF do Rio apura a denúncia do ex-aliado Paulo Marinho de que Flávio Bolsonaro, senador e filho do presidente, foi beneficiado pelo vazamento de informações de uma operação que iria atingir Fabrício Queiroz, seu ex-assessor na Assembleia Legislativa. O tuíte de uma parlamentar tão próxima do presidente é exatamente o contrário do que Bolsonaro precisa para afastar essas suspeitas.