O globo, n. 31728, 19/06/2020. Opinião, p. 2

 

Governo protege Weintraub, acusado de crime contra a segurança nacional

19/06/2020

 

 

Ao acenar a Abraham Weintraub com uma diretoria no Banco Mundial, o presidente Jair Bolsonaro, talvez, tenha preferido abstrair uma realidade: a de que o ex-ministro da Educação está sob investigação no Supremo Tribunal Federal por delitos contra a ordem constitucional e democrática, e também contra as suas instituições, além de ofensas pessoais aos integrantes do STF.

Designá-lo para um posto de representação do país no exterior pode ter sérias implicações para um governo já atrapalhado por sua política de confronto permanente com o Legislativo e o Judiciário.

Weintraub está enquadrado em inquérito (nº 4.781) em seis modalidades delituosas: quatro descritas em artigos (nº 18, 22, 23 e 26) da lei de crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social; e dois (nº 139 e 140) do Código Penal, por difamação e injúria contra juízes do Supremo. Essa investigação, é bom lembrar, nasceu de prova penal fornecida pelo próprio acusado, de viva voz na reunião ministerial de abril. Foi reconhecida com “plena eficácia jurídica” pelo tribunal.

A gravidade da situação judicial do ex-ministro compromete o governo Bolsonaro e amplia sua fragilidade, porque deixa a impressão de prêmio a um suspeito de atentar contra a segurança nacional, oferecendo-lhe abrigo em Washington, no Banco Mundial, com imunidade de cargo oficial, remuneração e mordomias. Não deixa de ser uma renovada aplicação da velha prática política do tudo aos amigos, e a lei aos inimigos.

A queda de Weintraub não foi pelas sucessivas demonstrações de incivilidade ou de inaceitáveis grosserias, impróprias ao debate político no âmbito das instituições e, portanto, incompatíveis com o status ministerial, embora aceitos, partilhados e fomentados por seu chefe, o presidente da República. Também não foi por sua conhecida inaptidão à língua pátria, apesar de ministro da Educação. Ou ainda por um eventual desafino ideológico com o clã Bolsonaro.

Caiu, sim, por absoluta inépcia na condução de um ministério estratégico aos interesses nacionais. Lamentável é que tenha sido o segundo ministro, no curto espaço de 17 meses, a demonstrar total incompetência no cargo. Isso indica a persistência do presidente em transformar a Educação num aparelho de militantes de extrema direita, no delírio de uma “guerra cultural” cuja essência expressa somente um elevado nível de analfabetismo político. Weintraub deixa uma folha em branco no Ministério da Educação.