Valor econômico, v.21, n.5038, 08/07/2020. Política, p. A7

 

Facções disputam controle do MEC

Fabio Murakawa

Matheus Schuch

08/07/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro tenta se equilibrar entre os interesses das diversas alas de seu governo para fazer uma “escolha certeira” para comandar o Ministério da Educação. A disputa pelo comando da pasta envolve militares, a ala ideológica, evangélicos e o Centrão. Até a noite de ontem, Bolsonaro ainda não havia tomado uma decisão.

Segundo fontes no Palácio do Planalto, três nomes estavam à frente na disputa: Anderson Correia, reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA); o deputado major Vítor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara; e Milton Ribeiro, pastor da Igreja Presbiteriana, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e membro da Comissão de Ética Pública da Presidência, indicado por Bolsonaro.

De acordo com esses interlocutores, o nome de maior consenso era o de Anderson Correia. Ele havia angariado o apoio entre militares, evangélicos e até mesmo de integrantes da ala ideológica - que faz questão de manter o controle sobre ao menos alguns setores da Educação, após a saída de um de seus maiores expoentes, Abraham Weintraub.

Porém, o reitor do ITA enfrenta a resistência de auxiliares diretos de Bolsonaro e dentro do Ministério da Ciência e Tecnologia. Era isso, segundo as fontes, que vinha barrando sua nomeação.

Apesar de não se opor ao reitor do ITA, a ala ideológica do governo, que inclui também os filhos políticos do presidente, ainda trabalha pelo nome de Sergio Sant’ana, ex-assessor de Weintraub no MEC. Ele também tem a simpatia de parlamentares bolsonaristas que devem migrar do PSL para o Aliança pelo Brasil assim que o partido político de Bolsonaro se viabilizar.

Há no Planalto, entretanto, a percepção de que Weintraub, com seu comportamento espalhafatoso e os problemas que criou com os demais Poderes, queimou todas as possibilidades de o governo colocar um ministro ultraideológico como ele à frente da pasta neste momento. Daí a disposição desse segmento bolsonarista de compor com outro nome, desde que mantenha controle sobre alguns setores do MEC.

Vitor Hugo, por sua vez, conta com o apoio de líderes partidários no Congresso. Fontes afirmam que esse apoio deriva, em parte, do fato de que muitos deputados estão de olho no cargo de líder do governo na Câmara.

Também conta a favor do parlamentar sua fidelidade ao presidente. Ao indicá-lo, afirma um interlocutor, além de ter à frente do MEC um auxiliar obediente, Bolsonaro também resolveria um grande problema na articulação política. Isso porque o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), nutre uma profunda antipatia por Vítor Hugo. Além disso, o líder tem um histórico de desentendimentos com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), responsável pela interlocução com o Congresso.

Na entrevista em que confirmou estar com covid-19, ontem no Palácio da Alvorada, Bolsonaro colocou Vitor Hugo como “reserva” de um candidato de São Paulo. Mas ponderou que, por ser de origem militar, sua possível indicação receberia críticas.

“[Vitor Hugo] é uma pessoa que tem capacidade muito grande de organização, em poucos dias estudou o ministério, trouxe para mim e apontou os problemas”, disse Bolsonaro. “Seria uma pessoa excepcional, mas vão cair em cima dele por ser major do Exército. Pessoal acha que tem militar demais no governo.”

Quanto ao candidato paulista, fontes afirmam que ele poderia tanto ser o reitor do ITA quanto Ribeiro. Uma decisão deve ser tomada nos próximos dias.