Correio braziliense, n. 20878 , 22/07/2020. Economia, p.8

 

Auxílio tem milhares de contas bloqueadas

Marina Barbosa

22/07/2020

 

 

Caixa suspende pagamento a beneficiários por suspeita de fraude. Trabalhadores devem comparecer ao banco para refazer o cadastro e continuar recebendo a ajuda de R$ 600. Ação de hackers é investigada pela Polícia Federal

A Caixa Econômica Federal bloqueou, por suspeita de fraude, “centenas de milhares” de contas de poupança social, utilizadas para o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600. Algumas estimativas — não confirmadas pela instituição — falam em 3 milhões de contas suspensas. De acordo com a Caixa, trabalhadores que porventura tenham sofrido o bloqueio devem se apresentar pessoalmente em uma agência do banco, levando documento de identidade, para confirmar que são titulares das contas e regularizar o cadastro.

Na última sexta-feira, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, revelou que hackers haviam invadido o aplicativo Caixa Tem, usado para gerenciar as contas, e desviado recursos dos beneficiários. Ontem, em entrevista ao site Infomoney, Guimarães disse que “centenas de milhares” de contas foram suspensas devido à suspeita de fraude. Apesar do número elevado, ele ressaltou que as irregularidades representam uma pequena parte do total de auxílios pagos pela Caixa, que supera 65 milhões.

A maior parte dos casos ocorreu em maio, segundo Guimarães e, depois disso, foram adotadas providências para aumentar a segurança do programa. As fraudes estão sendo investigados pela Política Federal e pelo Ministério Público. Nesta terça-feira, o banco estatal divulgou nota sobre o assunto. 

“A Caixa esclarece que o aplicativo Caixa Tem possui múltiplos mecanismos integrados de segurança, mantendo-se inviolável e seguro. O baixo percentual de fraudes observado deve-se à engenharia social, em que são utilizados informações, documentos e acessos dos próprios clientes. Assim, recomenda-se utilizar apenas os aplicativos oficiais da Caixa e jamais compartilhar informações pessoais”, diz a nota. A Caixa não informou quantas contas foram bloqueadas.

Segundo a instituição, a área de segurança do banco monitora continuamente as contas e os acessos e, em caso de suspeita, realiza o bloqueio preventivo. “O banco esclarece que informações sobre eventos criminosos são repassadas exclusivamente às autoridades policiais, e ressalta que presta irrestrita colaboração nas investigações”, diz o comunicado.

De acordo com o presidente da Caixa, a origem do problema foi a possibilidade de usar um celular para fazer mais de um cadastro. “Muitas pessoas não tinham celular, então permitimos que um celular abrisse mais de uma conta. Aí é o cerne da fraude”, disse.

Desde a instituição do auxílio emergencial, houve inúmeras denúncias de que servidores públicos, militares, pessoas de classe média e até empresários haviam conseguido se cadastrar no programa e sacar indevidamente os recursos. Por conta disso, o governo montou uma estratégia para bloquear acessos suspeitos ao benefício e identificar fraudadores.

Os casos suspeitos estão sendo analisados pela Caixa e por técnicos do Ministério da Cidadania, responsável pelo cadastramento dos beneficiários do programa. Confirmadas as fraudes, as informações serão encaminhadas à Policia Federal, que está montando uma base de dados sobre irregularidades no auxílio emergencial. Casos envolvendo servidores púbicos e militares serão encaminhados para os órgãos a que estão subordinados para que sejam tomadas providências.

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Ipea: propostas para acelerar a retomada

Rosana Hessel

22/07/2020

 

 

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lança hoje um conjunto de propostas para ajudar o país a sair de forma mais rápida da recessão provocada pela pandemia do novo coronavírus. Com 96 páginas, o estudo denominado “Brasil pós-covid-19”, divide as propostas em quatro eixos de atuação: atividade produtiva e reconstrução das cadeias de produção; inserção internacional; investimentos em infraestrutura; e proteção econômica e social de populações vulneráveis.

De acordo com o presidente do Ipea, Carlos von Doellinger, o objetivo é contribuir para que a discussão da retomada tenha uma linha mestra, focada em atrair investimentos privados. “A taxa de investimentos do país está muito baixa, em torno de 15% do PIB (Produto Interno Bruto), e não tem como o país crescer mais do que 3% com uma taxa nesse patamar”, explicou,em entrevista ao Correio.

Com a adoção das medidas sugeridas, o estudo aponta que o país conseguirá crescer 42,5%, entre 2021 e 2031, “em um cenário transformador”, em vez de avançar 25,1% pelas estimativas do órgão em um cenário-base.

Doellinger defendeu medidas de estímulo à formação de capital e investimentos em infraestrutura, principalmente, em ferrovias, que são estratégicas para o país crescer barateando o custo do transporte de carga e retomar o de passageiros. Segundo o estudo, “o atual modelo de concessões ferroviárias tem criado um mercado cativo por este tipo de transporte para os produtores das principais commodities de exportação, perdendo assim sua característica de transporte público”.

O presidente do Ipea reconheceu que o investidor privado, principalmente, o estrangeiro, só realizará investimentos de longo prazo no país se houver avanços nas reformas estruturantes (como a tributária e a administrativa), nos marcos regulatórios e nas garantias de manutenção de contratos, ou seja, segurança jurídica. Pelas projeções do Ipea, nesse cenário transformador, a taxa de investimento ficaria acima de 20% PIB a partir de 2027, patamar parecido com o de 2014, passando para 21% do PIB em 2030.

Na avaliação de Doellinger, é fundamental o compromisso de que os gastos públicos, que cresceram demasiadamente neste ano, sejam contidos a partir de 2021, respeitando o teto de gastos, evitando que a dívida pública exploda. “O governo não tem dinheiro para investir e, para estimular o investidor privado, pode dar garantias para os empréstimos das empresas, principalmente, pequenas e médias, que têm mais dificuldade para se financiarem. Isso vai ajudar muitas empresas a não fecharem as portas no pós-pandemia”, aconselhou.

Para o economista, o governo também precisa ter uma estratégia mais elaborada para o comércio internacional, buscando melhorar as vantagens comparativas em áreas onde o país se destaca, como o agronegócio. “O Brasil precisa melhorar a competitividade, e não adianta querer colocar indústria sofisticadas enquanto a indústria local está encolhendo e o setor terciário avançando para mais de 70% do PIB”, destacou.